Capítulo 04

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Surpreendentemente, naquela manhã, o senhor Edward acordou se sentindo bem melhor. Olhando ao redor, ele observou a suíte de luxo onde ele estava instalado naquele hospital e ficou pensativo sobre sua vida.

Na infância, a família de Edward mal tinha o suficiente para se alimentar, vivendo em uma casa modesta que mal podia ser chamada de lar. A pobreza era uma constante, mas também era a determinação dele para mudar seu destino. Anos de luta e sacrifício o transformaram em um homem de imensa riqueza, um contraste gritante com suas origens humildes.

No entanto, essa fortuna veio com um preço alto. Para alcançar o ápice de seu sucesso, Edward havia traído seu melhor amigo, um ato que, no momento, parecia justificável pela promessa de prosperidade. Agora, à beira da morte, esse remorso corroía sua alma, uma ferida profunda que nenhum luxo poderia curar. O peso da culpa o fazia questionar se todo o dinheiro do mundo valia a perda daquela amizade pura e verdadeira.

Foi nesse momento de profunda introspecção e arrependimento que o senhor Edward tomou uma decisão. Ele sabia que nada poderia desfazer os erros do passado, mas acreditava que ainda havia uma chance de se redimir. Para Edward, essa decisão não era apenas um gesto de reparação: era uma necessidade urgente de encontrar paz antes de deixar este mundo.

— Bom dia, senhor Edward. Como se sente hoje? — Indagou a gentil enfermeira ao entrar no quarto, interrompendo os pensamentos dele.

— Bom dia. — Ele cumprimentou a jovem de maneira polida e distante. — Me sinto melhor, obrigado. Por favor, pegue meu celular que está em cima da mesa, próximo a janela.

A enfermeira fez o que Edward mandou e assim que terminou de tomar seus remédios da manhã, ele ligou para seu advogado, exigindo que o mesmo viesse para o hospital imediatamente.

Alexander Sterling era um dos advogados mais famosos de Nova York. Era obvio que ele não atenderia aquele pedido se fosse um cliente qualquer, mas se tratando do senhor Edward Harrington, ele mal terminou de tomar seu café da manhã e seguiu para o hospital.

Contra todas as expectativas, assim que Alexander entrou na suíte hospitalar do senhor Edward, ele observou que o velho mostrava sinais de vigor renovado. O rosto dele, que na sua última visita parecia ter adquirido uma palidez permanente, agora estava corado, e seus olhos, antes opacos e distantes, brilhavam com um lampejo de vida.

— Alexander, bom dia. — Edward o cumprimentou com uma voz firme. — Que bom que você pode vir rapidamente.

— Bom dia, senhor Edward. — Ele respondeu, deixando sua maleta de trabalho em cima da mesa, se aproximando da cama, onde o senhor Edward estava sentado numa postura altiva. — Devido a urgência do seu chamado, eu não deixaria o senhor esperando.

— Eu vou direto ao assunto Alexander. Eu quero fazer uma mudança no meu testamento.

— Entendo, senhor Edward. — Alexander respondeu, sua expressão se tornando imediatamente mais séria ao perceber a gravidade do assunto. — Quais seriam as alterações?

Em poucas palavras, o senhor Edward repassou tudo que deveria ser feito, observando o olho do advogado crescer à medida que ele falava, completamente chocado com aquela decisão do seu cliente.

— Alexander, eu não quero brechas nisso. Quero que tudo seja feito de maneira legal. Dominic terá que seguir o que estou exigindo a risca e sem possibilidade de nenhum subterfugio da parte dele.

Um pouco nervoso, o advogado passou a mão na cabeça, encarando Edward com seriedade.

— Eu não quero questionar a decisão do senhor, mas poderíamos compensar essa jovem de outra forma, sem interferir na vida de Dominic...

— Não! — Exclamou Edward demonstrando irritação. — Para você, essa minha atitude pode parecer exagerada, mas eu não teria nada senão fosse por John Sinclair. A única pessoa que restou da sua família foi sua neta, Sophia.

— Seu neto tem uma namorada, senhor Edward. — Insistiu o advogado, tentando colocar um pouco de juízo na cabeça do velho ranzinza. — Isso interfere bastante na vida dele.

— Uma vigarista, Alexander. Aquela moça é uma interesseira. Não sei como meu neto, um rapaz brilhante, não consegue enxergar isso. — Edward falou com raiva. Sabia da existência de Isabella, mas detestava aquela moça falsa e fútil. — Quando ele conhecer Sophia vai perceber a diferença. Pena que eu não estarei mais vivo para receber os agradecimentos de Dominic.

— Tudo bem, senhor Edward. — Alexander falou incrédulo. — Nós vamos providenciar todas as alterações ainda hoje. — Respondeu o advogado, percebendo que não adiantava insistir.

— Mais uma coisa. — Edward falou e subitamente se calou como se quisesse deixar tudo aquilo mais dramático, enquanto Alexander o aguardava continuar. — Dominic não deve saber de nada disso até a leitura do testamento.

Alexander assentiu e com um aperto de mão firme, ele se despediu de Edward.

Esses momentos de melhoria súbita do paciente muitas vezes precediam o fim. Era como se o corpo, em um último esforço, reunisse todas as suas forças restantes para dar ao indivíduo um breve período de alívio, um último adeus à vida antes de se render à inevitabilidade da morte. Esse fenômeno, conhecido entre os profissionais de saúde como a "melhoria antes da morte", era algo belo e trágico ao mesmo tempo. Edward tinha conhecimento disso e estava ansioso para que Alexander voltasse com o testamento atualizado. 

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