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一Eu pensei que, na época, era melhor. Eu tinha prioridades diferentes, eu gostava de ti, poxa, eu gosto de ti, eu... Mais do que gosto de ti, mas eu não achava que isso era mais importante do que... Outras coisas. Não é como se eu fosse o número um do mundo, mas eu era novo, e na minha cabeça o que Marina poderia dar pra mim dentro da escola e afins era ser o melhor do mundo. Eu era egocêntrico, percebi que as pessoas começaram a gostar de mim com facilidade, e isso me impressionou. Eu não tô dizendo que isso é certo, não é, não foi, eu fui escroto, e eu... Deus eu sofri tanto...

Eu olhei para o chão, lembrando de cada detalhe de tudo que passei durante esses cinco anos.

一Quando eu não tava estragando minha vida em uma festa eu tava fazendo isso em casa, pensando em ti, pensando no que eu fiz contigo, e pensando no quanto eu sentia tua falta, cristo, Nezumi tu não tem noção do quanto eu me arrependi. Sempre que ela tocava em mim, a vontade que eu tinha era de me jogar de um prédio. Era bom demais no começo, mas não era tão bom quanto e eu só percebi isso depois... Eu sei que nada se compara ao que tu sentiu, mas eu só queria que tu soubesse que não teve um dia em que eu não pensei em ti, não teve um dia em que eu não me arrependi amargamente de ter feito o que eu fiz. Não teve um dia que eu não me odiei por isso Nezumi, porque eu te amo. Eu te amo e eu não sabia. Eu te amo e eu joguei isso fora... Eu...

Uma mão gentil no meu rosto, eu senti ele secando minhas lágrimas, acariciando minha bochecha. A mão que eu segurava se entrelaçou na minha e ele fez um som, suave, para eu calar minha boca. Ele se aproximou de mim devagar, colou nossas testas e sussurrou algumas coisas que eu não entendi. Quanto mais ele secava meu rosto, mais úmido de choro ele ficava. Eu tremia enquanto ele continuava sussurrando, o gosto azedo na minha boca, o vazio no meu peito. Eu conseguia sentir, de novo, cada célula do meu corpo morrendo como em todas aquelas madrugadas, eu sentia o frio na nuca, no pescoço. Meu nariz entupiu e minha cabeça começou a doer, exatamente como em todas aquelas noites, eu podia sentir o travesseiro úmido, a dor nos braços, o cheiro de álcool e nicotina misturados com o som dos meus soluços. Isso só no início, porque depois, foi como quando eu me acalmei ali, no sofá com ele, não tinha mais o molhado das lágrimas, nem os soluços, ou a tremedeira, o que tinha era a sensação de estar anestesiado, a mente nublada, um pouco de sangue no aroma do ambiente, sangue da onde? Contra o carinho no meu rosto e a mão entrelaçada na minha, se sobrepunha as unhas no meu ombro, nas minhas costas, o calor desconfortável e melequento das coxas dela envolta de mim, eu queria me livrar disso. Eu só queria que isso passasse, eu queria que alguém me desse uma porrada na cabeça e eu desmaiasse. Eu não queria me sentir daquele jeito, eu não podia me sentir daquele jeito, eu não podia porque Nezumi tinha passado por algo pior, por minha causa, tudo que aconteceu comigo era mais que merecido, na verdade. As noites no escuro, entorpecido, as falhas na minha memória sempre que eu acordava de uma festa, vendo marcas de batom e outras coisas espalhadas pelo meu corpo sem saber como foram parar ali, eu merecia as manhãs vomitando, as madrugadas chorando, eu merecia ter toda e qualquer reputação que construí às custas disso sendo destruída por Marina como foi naquelas últimas semanas. Eu merecia os olhares, os comentários, eu merecia o rancor de Nezumi, o desprezo no olhar dele no dia que Lana nos chamou para o trabalho. Eu não merecia aquele carinho, eu merecia que Nezumi me desse um tapa, me xingasse, cuspisse em mim e nunca mais olhasse na minha cara.

Mas ele não fez isso. Ele me abraçou e eu caí sobre ele. Ele me agarrou e me embalou até eu conseguir reagir, até eu abraçar ele de volta. Um beijo nos meus cabelos, um frio estranho no meu couro cabeludo. Ele estava chorando, também.

Depois de um tempo:

一Quando... Quando aconteceu o que aconteceu, na praça, Marina, e essas coisas. - Ele sussurrava, se não estivesse tão perto, eu não ouviria. - Eu, de primeira, achei que tinha entendido as coisas errado, que eu que tinha inventado, e que tu nunca gostou realmente de mim, e eu tinha sido sei lá... Emocionado. Eu achei que tinha sido presunçoso, depois, eu achei que tu achou algo nela que nunca viu em mim. Eu pensei que tinha algo errado comigo, achei que eu tinha feito algo que te irritou, ou talvez o problema tenha sido algo que eu não fiz. Eu nunca deixei de me culpar, achei que não tinha sido o bom suficiente, e até mesmo quando sabia que o problema não tinha sido eu, ainda era impossível não pensar que talvez tenha sido algo em mim. Eu fiquei triste, depois eu fiquei com raiva, Lana e Lauren me convenceram de tu era um babaca, e tu foi, mas... Eu não sou cego, eu vi que com o tempo tu ia ficando mais e mais derrotado, e eu percebi que tinha algo errado, ela não fazia bem pra ti, mas Lana e Lauren me disseram que tu merecia. Merecia o pior por ter feito o que fez comigo, por muito tempo eu tentei acreditar que sim, porque eu ainda tinha raiva, eu desprezava o que tu tinha feito, mas eu nunca te odiei. Odiei o que tu fez e odiei o que senti pelo que tu fez, mas nunca te odiei. Eu amadureci e vi o que tu viu nela, eu te via nas festas, eu te via no futebol, eu te via sendo bajulado por todo mundo, tu era um príncipe dentro daquela escola, fora também, todo mundo gostava de ti e a Marina te ajudou com isso, qualquer pingo de desconfiança e desgosto que tinham pela tua mãe e que refletia em ti já não te atingia, graças a ela e eu... Eu sei o que tu viu nela, uma chance, uma chance de gostarem de ti, tu já tinha muita atenção, tu viu nela a chance de ter toda a atenção. As meninas gostavam de ti, os meninos gostavam dela, e todo mundo gostava de vocês dois juntos. Se tu tivesse ficado comigo... Eles iam voltar a tratar com diferença, e eles iam começar a fazer pior, e tu era uma criança, tu não queria isso.

Pink LimonadeWhere stories live. Discover now