| Capítulo 12 |

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O breu da mansão poderia ser assustador para Felicity, mas apenas se os poucos candelabros e lamparinas ainda acesos não fossem distribuídos de forma a criar um caminho perfeito e iluminado do celeiro até seu quarto. Um pequeno cuidado que a fez sorrir extensamente.

Sentia-se segura em casa. Não havia ansiedade e incerteza. Parecia tão fácil de respirar.

Após subir os dois lances de escada, no início do corredor, ela parou observando o caminho. De certa forma seu coração apertou-se. Giovanni deveria ter chego no mesmo horário, mas será que sentia-se igual? Ela estivera naquela casa tão grande e luxuosa quanto sua e percebera que faltava algo; era uma construção triste e solitária.

O Marquês parecia triste e solitário.

- Há só mais algo que quero dizer. Pode ouvir? Prometo que não é mais uma provocação boba. - Giovanni não moveu-se, somente esperou. - Eu genuinamente gostei de segurar sua mão.

Após isso, apesar de virar-se e seguir sem olhar para trás, ela sentira que cruzara uma das milhões de barreiras construídas por ele. Aquilo deixara de ser algo simples naquele exato momento. Ela sabia o quão doloroso era permitir que alguém se aproximasse, mas ser completamente decepcionada. Felicity jamais faria isto.

Ela espreguiçou-se, espantando os pensamentos e focando apenas no seu cansaço físico, parecia ter sido atropelada por uma carruagem, diversas vezes seguidas.

Normalmente, teria ignorado a luz alaranjada que escapava pela fresta da porta do escritório de Victor, mas não o fez. Passara muito tempo fora e, teoricamente, sozinha. Pensou que ao menos deveria avisar seu retorno. Felicity caminhou até o fim do corredor, mas imediatamente parou ao escutar um tosse abafada. Ela escorou-se próximo a parede e esperou, batendo somente quando o som cessou e permissão lhe foi dada.

- Viajou pela noite? - Victor levantou seu olhar do que escrevia. Ele parecia irritado, como de costume, e cansado, este um pouco mais que o de costume.

Felicity franziu o cenho.

- Pode deixar a bronca sobre o quão perigoso e irresponsável isso foi para depois?

Victor suspirou.

- O importante é que parece bem. - O Duque devolveu sua caneta ao recipiente de tinta. - Foi um caminho tranquilo?

- Você não parece bem. - Ela rebateu.

- Felicity.

Felicity, não pergunte. O tom de alerta na voz alheia teria a feito parar de questionar se não estivesse preocupada o suficiente.

- Não. - Ela apertou as unhas sobre a palma. - Sabe porque escrevi aquela carta? Está trabalhando dia e noite a mais de um mês, e há dias nas refeições não o vejo comer da forma como deveria. Preferi escrever para não tomar mais tempo do que aquilo demandava. Entende que estou preocupada? E chateada! Algo está acontecendo e seja lá o que for não quer me contar. E, sinceramente, não me importo com isso. Apenas, por favor, se cuide um pouco mais. Tem noção de que me sinto uma garotinha de dez anos teimando e brigando por algo que deveria ser óbvio?

Ele tornou a respirar. Sabia que tinha sido desrespeitosa e sentia lágrimas se formarem. Tudo aquilo tinha se tornado demais para um único dia. A lembrança da morte de sua mãe, a conversa com Vincent e preocupação há tempos acumulada. Felicity estava ficando louca e não soube o que a manteve firme após o desabafo.

O Duque observou-a correr atrás do controle de si mesma; demorou, mas engoliu as lágrimas a seco.

- Me desculpe, eu... eu só fiquei com medo...

A Busca De Um Coração PerdidoWhere stories live. Discover now