Papai

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Alisson não parecia confusa ou exitante, ambos já era grandes o suficiente para entender oque estava acontecendo, seus corpos dividiam a mesma linguagem corporal.

Alisson se soltou facilmente sem deixar de encara-lo, ainda com um semblante mau humorado, se levantou, e se colocou em frente Tyler.

Ela realmente queria sentir alguma "violência", aquilo era estranho, porém em momento nenhum teve medo da reação que ele poderia ter após receber os tapas.

— Oque eu esperava de alguém leu a arte da guerra aos 6 anos e brincava de lutar com o próprio pai? Posso não ser tão bom, mas por ser homem, acho que tenho alguma vantagem.

Ela sorriu de leve se desarmando após entender a situação. Já eram quase 5 coisas que sabia sobre si; que era uma hacker, que gostava de se exercitar, que tinha uma mãe de merda, e agora que sabia bem como se defender, apesar de até agora não ter notado nenhum reflexo ou habilidade especial, aquilo explicava algumas atitudes extintivas que havia tido anteriormente.

— Que foi? Achou que eu ia deixar você me provocar e sair ilesa só porque é mulher? - Tyler sorriu de novo. — Vamos relembrar os velhos tempos, não precisávamos ter parado de lutar, você me ataca, e eu defendo  tentando te derrubar, se eu conseguir, te devoro.

Alisson definitivamente estava feliz, ao ponto da euforia e a intensidade de seus sentimentos tomarem conta de seu corpo, ela queria beija-lo, ela ia beija-lo.

Ela se aproximou mais, e enquanto ele estava pronto para se esquivar de seus golpes, ela sentou sobre seu colo sem desviar o olhar,  segurou os dois pulsos de Tyler os desarmando da posição defensiva, e se entregou completamente a seus pensamentos intrusivos sujos, aquilo havia sido uma terrível escolha. Em questão de segundos, já havia unido seus lábios aos dele, dando início a um "beijo do caos".

— Espera, você quer isso? - Ele perguntou após interromper o beijo, mas não obteve nenhum resposta além de um segundo selar de lábios.

Alisson tinha o péssimo hábito de não responder, pois era comum que não soubesse o que dizer ou que não conseguisse formular frases devido ao longo período que havia passado em silêncio após a perda do pai, algo que ela havia acabado de se lembrar.

Ele me ensinou a lutar, me fez ver a vida como uma corrida, me ensinou a dirigir, fazer ligação direta, e prometeu sempre estar comigo.

Como se um flash de luz a atingisse, ela sentiu tonturas enquanto seu corpo amolecia e vistas escureciam, apesar de ter continuado no colo de Tyler, não estava  presente naquele momento que ela mesma havia criado.

Enquanto era encarada pelo rapaz que parecia receoso sobre continuar aquilo, seus olhos vazios o olhavam de volta, mas ela não estava concentrada nele, na realidade, ela podia ver claramente o rosto do pai enquanto o olhava.

Era um homem negro, alto, lábios grossos e nariz achatado, humilde e brincalhão.

O homem não tinha nenhum interesse por qualquer curso ou "trabalho chique" que pagasse bem, mas de alguma forma, carregava uma vasta sabedoria sobre quase  tudo, sabia responder quase todas as suas perguntas, dava conselhos profundos com base em suas experiências de vida e entendia seu humor ácido.

Ela o amava.

Ele sempre estava fazendo piadas bobas com seus muitos amigos, também bebia às vezes, mas nunca havia ficado bêbado ou agressivo, pelo menos não com ela. Mas apesar de ser dócil e engraçado, seu pai também era um cara explosivo, já tinha brigado bastante na vida e até aquele momento ainda carregava seus problemas de estresse, mas sempre a tratava como uma princesa.

Mesmo sem ter condições, já havia a dado duas bicicletas e um computador a sua filhinha, o mesmo que a fez se tornar a hacker que era.

Enquanto era bombardeada por memórias antigas com seu pai, pode sentir uma lágrima quente se formar e escorrer por seu rosto pálido.

Tyler já tinha parado parado o beijo no início, mas ela nem mesmo havia se dado conta disso.

— Oque aconteceu? - Ele perguntou preocupado.

A menina não podia, nem sabia como responder, apenas havia acabado de desbloquear as memórias com a pessoa que ela mais amava no mundo, juntamente da lembrança de que essa pessoa estava morta.

De um segundo a outro, as memórias mudavam a atordoando sem que ela pudesse pensar em apenas uma específica, como se em um momento estivesse sendo treinada pelo pai e aprendendo a lutar, e no outro, estivesse chorando trancada em seu quarto para evitar o resto do mundo.

Quando as memórias finalmente pararam de voltar, ela retornou a realidade, onde já havia umedecido suas roupas com lágrimas, e quase não conseguia respirar.

Tyler não sabia como reagir, então apenas estava a abraçando e pedindo desculpas como se ele houvesse iniciado o beijo.

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