15 - Como Num Sonho

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Oooi, espero que esteja tudo bem por aí.

Estavam com saudades?

Bora pro livro.

...

Marisol Reyes

Iluminado pelo abajur, Rômulo parecia ainda mais um sonho.

Porque, se eu ainda tinha alguma dúvida que ele ter vindo se desculpar era produto da minha imaginação, a certeza veio ao vê-lo sentado ali, pronto para contar uma história de dormir para os meus filhos.

Esquisito, estranho, ilógico e, ainda assim, não me senti mal de tê-lo ali.

Constrangida? Sim.

Espantada? Com certeza.

Chocada? Sem sombra de dúvidas.

Mas não mal, o que era algo absurdo.

Quando ele, na maior naturalidade, apenas pegou a poltrona que eu arrastava como se não pesasse nada e, simplesmente, colocou no lugar que falei, algo na minha mente entrou em curto por um segundo. Nenhum homem que convivi nunca tinha sido tão... prestativo.

Minha mente se partia entre achar que aquilo tudo era só um teatro bem montado e querer acreditar que havia mesmo homens bons por aí. Ah, Deus, e como queria acreditar nisso.

Era tão difícil não esperar o pior. E não porque eu fosse pessimista, porque não era. Sempre fui otimista. Foi o que me fez aguentar tudo e esperar um futuro melhor. Porém, também foi o que me manteve naquele relacionamento horrível.

Esperança era quase uma maldição na minha vida. Principalmente quando nenhum homem que conheci se mostrou digno de confiança. Esperei por anos que meu pai e meu irmão parassem de me infernizar, até entender que nada de bom viria deles; e aquele que achei ser a minha pessoa, no fim, foi o que causou o maior estrago.

Meus parentes nunca demonstraram qualquer coisa além do desprezo, então não tinha o que esperar, mas foi diferente de Eraldo, que foi bom no começo. Dei meu coração e meus sonhos na mão dele, e Eraldo os estilhaçou em milhões de pedaços. Como se fossem nada. Como se eu fosse nada. Eu podia sorrir, brincar, estar melhor alimentada, vestida e arrumada, podia estar mais saudável, mais forte, mais digna... Só que aquela parte de mim não parecia restituir. Ele quebrou algo dentro de mim e ainda machucava todos os dias.

Me perguntava se, um dia, estaria inteira de novo.

Talvez eu nem merecesse.

— Era uma vez... — Rômulo começou, me dando um susto. Tinha ido fundo demais naqueles pensamentos inúteis que costumava ignorar. Abraçando minhas pernas com um pouco mais de força, encarei-o, notando que seus olhos cor de mar estavam em mim; ele sempre olhava assim, intenso demais. Era desconcertante. — Era uma vez uma fazenda muito bonita em que viviam três cavalos. Um era pequeno, um cavalinho que havia nascido há pouco tempo; a segunda era sua irmã mais velha, um pouco maior; e o terceiro era a mãe dos dois, uma linda alazã muito grande e forte.

Percebi que ele ganhava confiança ao contar a história. O sorriso que dei ficou escondido pela minha posição, mas acho que ele percebeu, pois fez um gesto de aprovação. Até ali não havia me lembrado de nenhuma história parecida que já tivesse lido, porém me senti emocionada por ele escolher um conto que parecesse tanto conosco.

— Quando chegava o verão, os cavalos podiam passear e sempre viam uma montanha, onde a grama era suculenta, mas...

— Qual é o suco lenta, senhor Rômulo? — Pedro se ergueu.

— Suculenta é uma comida com alto teor nutritivo — explicou, com calma, meu chefe.

Uma risada me escapou ao ver a cara confusa do meu filho.

Meus Para AmarWhere stories live. Discover now