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Olhares de uma vida inteira

Rio de Janeiro, Brasil, 04 de fevereiro de 2023, 14h50.

~Victória's Pov:

"Sozinha, no meio de uma torre, encontro a oportunidade de escapar. Quando dou por mim, já estou lá embaixo, correndo para longe do lugar frio e úmido onde vivia. No meio da floresta que rodeava a enorme torre, ouço barulho de um cavalo. Me escondo, com medo, e então vejo um homem. Um rapaz bem-vestido, montado num cavalo branco lindíssimo. Tenho certeza de que é um príncipe; sua beleza intrigante, o charme é especial, que faz qualquer um parar pra ver.

- O que a moça faz aí, escondida?

- Preciso de ajuda para fugir daqui.

Ele me olha, com curiosidade. Sorriu de canto, erguendo a sobrancelha.

- E para onde a linda donzela está indo?

- Pra qualquer lugar que me mantenha longe daquela torre.

Avaliou minha situação, e então, me estende a mão.

- Venha. Vou te levar para um lugar seguro.

O estranhei e quase ri de sua cara.

- Por que eu confiaria em você?

- Porque é a única opção pra se salvar. Vem comigo?

Relutante, confusa e com medo, seguro sua mão. O toque quente e macio me deu tranquilidade. E ao montar no animal e segurar sua cintura, senti uma pontada de esperança. Esperança de que vai dar tudo certo. De que eu vou conseguir me reerguer. Saímos em seu cavalo branco, na certeza de que pelo menos, tudo ficaria bem. Sempre há possibilidade de ficar tudo bem, e eu não vou perde-la."

Acordei do meu sono de supetão. Cochilei por alguns minutos após o almoço, mas agora que acordei, preciso seguir meu rumo. Junto minhas coisas, acordo Bia e me despeço de minha mãe. Enquanto saio, meu celular apita várias vezes. Duas mensagens são de Vittória e Jolie, minhas melhores amigas.

"Pelo amor de Deus, você não tá lá na casa, está?" – Vittória pergunta.

"Vica, finalmente o socorro veio. Invadiram a casa e nos resgataram. Estamos a salvo, mas houve troca de tiros. Subiram para a casa do Henrique, talvez te encontrem lá" – Jolie me explica o ocorrido.

Logo em seguida, as mensagens do ser inominável começam a apitar no meu telefone.

"Onde você está?"

"Você fugiu?"

"Apareça de uma vez. Vou dar meia volta, te buscar e te levar pra Suécia junto comigo e essa pirralha que chama de filha"

"Eu vou te buscar até no inferno se não aparecer, sua vadia, vagabunda".

E foi aí que eu percebi: precisava sumir rápido.

- Mamãe, nós vamos para casa?

- Não, amorzinho. Vamos procurar outro lugar pra morar.

- Por quê? – ela pergunta e eu engulo em seco.

- Aqui já virou perigoso demais, lindinha. Mas não se preocupe, vamos conseguir um lugar muito melhor!

Tenho leves dúvidas, mas engambelar ela é mais fácil.

Eu estava andando para a entrada da favela, só para pegar um táxi em direção a um hotel, quando ouço estampidos de tiros. Tiros cada vez mais altos e mais intensos. Começo a tremer e entrar em desespero total.