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— Droga, de novo não — murmurou Jordana, afastando-se ligeiramente de Milena, o rosto ainda corado pelo momento que compartilharam — Essa fiação velha dá problema o tempo todo. Preciso resolver isso logo.

A empresária suspirou, passando a mão pelos cabelos, tentando recobrar a compostura. Então, um pensamento súbito surgiu em sua mente.

Durante todo o beijo com Milena, o marido não tinha passado pela cabeça de Jordana, mas agora a lembrança dele a atingiu com força.

Egisto tinha problemas no coração, uma condição delicada que o deixava vulnerável a ataques cardíacos, especialmente em situações de estresse ou confinamento. E da última vez que a eletricidade caiu na gravadora, ele tinha ficado preso em uma sala trancada por uma porta eletrônica, e a situação poderia ter terminado em tragédia se Milena não tivesse conseguido arrombar a porta.

Egisto não havia aparecido nos ensaios de Milena, mas isso não significava que ele não pudesse estar na gravadora. Sua mente começou a divagar, imaginando os possíveis cenários que poderiam estar ocorrendo naquele momento.

Milena logo entendeu o olhar preocupado de Jordana. Ela se aproximou, colocando uma mão no ombro da morena.

— Calma, Jordana. Tenho certeza de que está tudo bem.

Jordana sentiu o toque reconfortante de Milena em seu ombro, mas por mais que tentasse aceitar suas palavras de ânimo, ela se perguntava se merecia realmente aquele conforto.

Sem perder tempo, Milena foi até a porta eletrônica do estúdio, examinando-a enquanto Jordana observava ansiosamente.

— Vou tentar abrir isso — disse Milena, fingindo um ar de concentração enquanto manipulava a fechadura. Depois de alguns momentos, ela balançou a cabeça — Essa porta é diferente da outra. Acho que não vai ser tão fácil assim.

Milena estava mentindo. Um pensamento sombrio cruzou sua mente, um ciúme que a invadia silenciosamente. Não queria que Jordana encontrasse o marido, não agora que elas tinham acabado de se beijar. Era errado, a loira tinha consciência disso. Egisto poderia estar passando mal e necessitando de ajuda, mas a ideia de encontrá-lo naquela situação lhe agradava de alguma forma.

Jordana, alheia às verdadeiras intenções de Milena, tirou o telefone do bolso e começou a discar o número de Egisto em uma calmaria invejável. Cada toque do telefone parecia durar uma eternidade.

Enquanto pensamentos turbulentos ocupavam a mente de Milena, Jordana permanecia focada no celular, tentando ligar para Egisto pela terceira vez. O telefone tocou uma vez, depois duas, e quando Jordana já começava a aceitar o fato de que ele não iria atender, uma voz familiar finalmente respondeu do outro lado da linha.

— Alô? — a voz do homem soou nos ouvidos da produtora.

Ao ouvir o som de Egisto, Jordana não sentiu a tranquilidade que esperava sentir. Em vez disso, experimentou uma sensação de diminuição de culpa. Foi quando ela percebeu que não estava tão preocupada com o marido quanto deveria estar. Ela fingiu a preocupação, pois era isso que a situação exigia dela.

— Egisto, você está bem? — perguntou ela, sua voz trêmula com o falso desespero.

Enquanto Jordana conversava com o marido, Milena se afastou um pouco, sentindo uma imensa culpa inundar sua consciência. Ela sabia que precisava lidar com seus próprios demônios internos.

— Estava em uma reunião — respondeu o marido, Jordana logo soube que ele estava se referindo as máquinas de caça-níqueis — Por quê? O que aconteceu?

Egisto não estava na gravadora como Jordana pensara, o que significava que ele estava bem. Mas ao invés de sentir alívio pela segurança do marido, uma ponta de irritação cresceu dentro dela. Por mais doentio que parecia ser, Jordana se sentiu frustrada consigo mesma por interromper seu tempo com Milena para verificar o bem-estar de Egisto.

Te Desafio a Me Amar | JorlenaDonde viven las historias. Descúbrelo ahora