| Cap. 1 |

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A cidade de Nova York sempre foi meu mundo, um labirinto de concreto onde eu dançava meus sonhos e deixava minhas emoções fluírem através da dança.

Mas a vida tem dessas de ser imprevisível, e é essa a beleza de viver. Saber que tudo é finito, que tudo tem um prazo de validade.

Embalei minhas partituras, cuidadosamente marcadas com anotações que contavam histórias de ensaios intensos e performances emocionantes. Coloquei minhas sapatilhas de balé, gastas pelo uso, ao lado do violão que meu avô me presenteou quando completei doze anos. Cada objeto era uma peça do quebra-cabeça que fez parte da minha trajetória na vida e durante esses anos na Juilliard, agora embrulhados com cuidado em malas que eu nunca imaginei usar tão cedo.

Deixei para trás as salas de ensaio onde o tempo parecia desacelerar, onde eu me perdia nas linhas de cada partitura. Deixei para trás os amigos cujas vozes ainda ecoavam nas paredes, prometendo manter contato enquanto eu me preparava para partir.

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Agora estou no voo em direção a Boston. Quem sabe se ares novos e pessoas novas podem me ajudar a recomeçar...

Ao desembarcar, meu coração martelava no peito com uma mistura de apreensão e determinação. Procurei ansiosamente pelo rosto familiar de Caius entre a multidão no aeroporto movimentado.

Caius era alto, com ombros largos e um sorriso cativante que sempre acalmava minhas preocupações. Seus cabelos escuros caíam de maneira despretensiosa sobre a testa, e seus olhos azuis eram um reflexo da determinação e da gentileza que eu admirava nele.

Finalmente, avistei seu sorriso caloroso e familiar entre a agitação dos passageiros.

— Clairezinha! Que saudade! — exclamou Caius, estendendo os braços para um abraço.

— Oi, grandão! — respondi, sorrindo ao abraçá-lo. — É bom te ver!

— Peguei suas malas aqui — disse ele, pegando uma delas sem esforço. — Você trouxe o piano também?

— Claro, está na bagagem de mão — respondi, rindo. — Não posso ficar longe dele por muito tempo.

Enquanto caminhávamos para o estacionamento, Caius começou a contar histórias animadas sobre suas aventuras no hóquei e as peculiaridades da vida universitária em Boston. Eu o ouvia com fascínio, sentindo-me mais leve com sua presença familiar ao meu lado.

Era bom estar aqui.

— Mal posso esperar para te mostrar o campus — disse ele, animado. — Tenho certeza de que você vai se apaixonar por Boston tanto quanto eu me apaixonei.

— Eu também estou ansiosa para conhecer tudo — respondi, olhando ao redor para absorver a atmosfera nova da cidade. — Parece um ótimo lugar para começar algo novo.

No estacionamento, Caius carregou minhas malas para o carro enquanto continuávamos conversando sobre nossas expectativas sobre a minha mudança repentina para Boston. Era reconfortante saber que, apesar das mudanças, ele estava ali para me ajudar nessa transição.

— Como estava a Juilliard? — perguntou Caius, enquanto dirigíamos pela cidade. — Sinto falta de te ver dançando e cantando por aí.

— Estava tudo bem, mas senti que era hora de um novo capítulo — respondi, hesitante por um momento. — Na verdade, aconteceu algo que me fez repensar tudo.

Caius olhou para mim com curiosidade enquanto eu reunia coragem para contar.

— O Blake, meu ex... ele me traiu e fez questão de me humilhar na frente de todo o campus — expliquei, sentindo um nó na garganta ao relembrar a situação. — Foi difícil lidar com isso lá.

Harmonia no Gelo: Entre Notas e PucksOnde histórias criam vida. Descubra agora