Capítulo 5

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Octavia

— Uh, — Engulo seco — sabe, é uma história engraçada.
   Porra, o que havia dado errado? Por que eles não estavam dormindo? Por que estavam me esperando? Será que o Ivarsen contou a eles? Will me viu? Foram ao meu quarto?
   — Então por favor, nos divirta. — Meu pai apoia o queixo em suas mãos enquanto minha mãe se levanta pondo-se atrás dele colocando suas mãos em seus ombros. Sua expressão era de pura decepção. Infelizmente sabia que ela não estaria do meu lado desta vez.
   Mordo a pele da bochecha e desvio o olhar para os meus pés, que pareciam muito mais interessantes que olhar para a profundidade dos olhos do meu pai, ele sabia como fazer alguém se sentir intimidado, e apesar de ter criado uma armadura contra isso, somente ele conseguia me fazer sentir assim.
   — O gato comeu a sua língua? — Ele pergunta. — Comece a falar Octavia, e nem pense em mentir.
   Droga, ele já sabia da verdade. Mesmo que eu vasculhasse todos os cenários possíveis na minha cabeça, isso seria em vão.
   — Vamos querida, eu e seu pai estamos esperando. — Dessa vez minha mãe diz, com sua cabeça virada para onde ela supunha que eu estava, e ela sempre sabia.
   — E-Eu, é... Veja, eu... meio que... — Começo a rir para quebrar o gelo e isso pareceu apenas irrita-los mais ainda. — Eu fugi.
   — Ah, jura? — Meu pai diz ironicamente se levantando bruscamente da cadeira, até a mamãe se assustou com o barulho repentino.
   Ele faz a volta na mesa e chega muito perto, eu abaixo o olhar novamente, não queria encará-lo, ele me fazia sentir envergonhada, como se tivesse cometido um crime, quando na verdade, por incrível que pareça, eu só tinha presenciado um.
  — Papai...
  — Sem papai. — Escuto sua respiração pesada no topo da minha cabeça. Ele estava explodindo de raiva. — A sua amiga, a Mia, nos ligou podre de bêbada por que ela não te achava na festa, — ele respira profundamente — em Meridian.
   — Pai, eu...
   — Sabe o quanto eu e sua mãe ficamos preocupados?
   — Pai...
   — Você me lembra a Nik quando tinha sua idade...
   A tia Banks, quando ela não fugia, ela era "raptada", nossa família não tinha o melhor histórico do mundo quando se tratava de coisas incrivelmente obscuras.
   — A diferença é que você é minha filha, e sinceramente Octavia, não sei por quanto tempo vou continuar relevando o fato de você ficar fugindo. — Ele diz passando os dedos em seus olhos, parecendo ser atingido por uma grande dor de cabeça.
   — Se você confiasse em mim nada disso aconteceria. — Digo sincera, estava cansada desses rodeios, se não fosse honesta com ele agora, demoraria para ter outro momento como este. — Dag é apenas um ano mais velho que eu papai, e ele vai à festas, reuniões, resenhas e sabe-se lá onde mais. Você nunca me deu a oportunidade de sair para lugares assim, eu sou uma adolescente assim como ele, e tenho vontade de sair igualmente. Como uma pessoa normal.
   — Octavia, eu não sei se você está pronta pra isso. — Ele responde com a guarda baixa, devo ter alugado um triplex na cabeça com o meu ponto de vista.
   — E a mamãe estava quando você começou a se relacionar com ela?
   Ele me olha dos pés a cabeça e vejo minha mãe se virar como se estivesse esperando a maior briga que já tivemos acontecer naquele momento. Eu detestava ter que admitir, mas acho que um dos maiores motivos para eu e meu pai discutirmos tanto era por sermos iguais.
   Vocês são idênticos...
   As palavras de Kaden voltaram a minha mente e meu corpo congelou no mesmo momento.
   — Independente disso Octavia, — Minha mãe se escora em uma parede e encontro seus olhos que se posicionavam em algum ponto atrás de mim. — não te criamos para ficar fugindo como uma ratinha, você nem deixou um bilhete, minha filha.
   — Eu detesto ter que desapontar vocês, mas eu definitivamente não tenho a liberdade de fazer isso, por que no segundo que vocês lessem, iriam atrás de mim como um policial vai atrás de um bandido.
   Eles ficam calados por alguns segundos e meu pai recua alguns passos, possivelmente levando o que eu disse em consideração.
   — Você podia ter morrido hoje e nós não saberíamos... — Meu pai volta a dizer.
   — Eu sei, isso vão vai se repetir. — Me apresso em responder.
   — E não vai mesmo, — Ele olha pra mim — por que você está de castigo!
   Merda!
   — Por uma semana, — ele continua — depois disso, eu e você conversaremos sobre essas suas saídas.
   Reviro os olhos e viro os calcanhares para ir até o meu quarto, mas quando passo pela minha mãe ela tenta segurar alguma parte do meu corpo, e quando consegue, me puxa para si, me envolvendo em um abraço.
   — Não fazemos isso para o seu mal, meu amor, o mundo é mais perigoso para as mulheres, e você sabe disso. Queríamos nós te dar a liberdade que damos aos seus irmãos, mas eles estão sempre juntos, isso nos deixa mais tranquilos. Mas vamos pensar em uma forma de te deixar sair sem que tenha que fugir, nunca foi nossa vontade você não confiar em nós.
   Sinto o fundo dos meus olhos queimarem e se espelharem com as lágrimas que se formaram. A mamãe sempre sabia o que dizer.
   Ela continua me abraçando e então olho para cima, vendo o meu pai nos olhando. Eu levanto o meu braço, o chamando para se juntar a nós. Ele chega perto e nos envolve como um só.
   — Eu amo vocês. — Ele diz e o aperto mais.
Nem sabia qual fora a última vez em que nos abraçamos dessa forma.

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