Capítulo 13

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― Eu tenho uma coisa pra você ― Christopher declarou ao se levantar, estávamos encostados na nossa árvore.

― É de comer? ― perguntei curiosa.

― Não. ― Ele riu, abrindo a mochila.

― Ah... ― Fiz um beicinho.

Quando o garoto retirou um DVD de capa preta, aproximou-se de mim, seus olhos pareciam brilhar entusiasmados.

― Gravei algumas músicas junto com os clipes. ― O rapaz me entregou, enquanto suas mãos alcançaram meu rosto. ― Que me lembram você.

Senti um rubor queimar as minhas bochechas pelas suas palavras, além de ficar constrangida pela curta distância entre nós. Então, sem pensar muito, inclinei-me na direção dele, precisava me acostumar com isso, beijando seus lábios num encontro doce, para expressar o amor que transbordava do meu coração.

― Uau, pode me agradecer assim amanhã também. ― Ucker brincou, com um sorriso antes de nos afastarmos, ainda envolvidos pelo momento.

Mordi os lábios, tentando aparentar um costume natural, porém o garoto me conhecia bem demais, rapidamente, ele trocou o assunto me convidando para irmos.

― Depois da monitoria, passo aqui. ― Christopher me acompanhou até a sala de estudos.

― Tá bom! ― Acenei discreta observando ele partir pelos corredores.


Meu coração ainda palpitava pela lembrança do beijo nas horas que se sucederam, ansiosa para o nosso reencontro, mesmo que fosse apenas por alguns minutos. Sua companhia era como um bálsamo para a minha alma inquieta, mal podia esperar pela próxima oportunidade de estar ao seu lado, compartilhando risadas, conversas e, quem sabe, mais momentos como aquele.

Mais tarde, quando o rapaz me deixava na rua de casa, sua mão tocou o meu braço em um gesto carinhoso de despedida.

― Te mando mensagem antes de dormir e coloca na faixa cinco do Dvd primeiro. ― Ele recomendou de uma forma que parecia muito importante.

Claro que com toda a certeza eu ouviria, prestando atenção em cada palavra da letra.

― Até depois, então. ― Apertei um lábio no outro, ansiosa para descobrir a música.

Assim que Christopher disse tchau, eu saí feito um furacão, sorte que hoje a Mai não apareceu, queria curtir esse momento sozinha. Ao entrar em casa, liguei a televisão junto do DVD player contando os segundos para começar a escutar a música, joguei a mochila e o fichário em cima do sofá aguardando a introdução.


Os acordes suaves do violão começaram a ecoar pelo cômodo, a música: mais uma de amor, do Lulu Santos preencheu o cômodo. No instante em que ouvi, achei estranho, não era o estilo que se associava ao Ucker, eu sempre gostei dessa letra, mas agora algo nela me tocou profundamente. Como se cada palavra fosse um eco dos sentimentos que o rapaz tentava expressar, porém não havia conseguido encontrar um meio certo de dizer em voz alta.

Eu gosto tanto de você

Que até prefiro esconder

Sentei na poltrona, buscando o conforto do estofado enquanto fechava os olhos para apreciar melhor cada nota, permitindo que os acordes me levassem para uma jornada de nós dois.

Eu acho tão bonito isso

De ser abstrato, baby

Depois de ouvir repetidas vezes a música, decidi ver o que mais ele tinha gravado.

― Nossa, bem variado, vai de Akon, a Nickelback, Ne-Yo, James Blunt, Jota Quest, Skank, Capital Inicial e, claro, do Charlie Brown Jr ― murmurei admirada.

Naquela noite, dormi abraçada ao DVD, envolta em uma nuvem reconfortante, mesmo durante a sinfonia de brigas dos meus pais. Era uma sensação de estar conectada a algo especial, além de que seu pequeno gesto de carinho me fez sentir notada e importante. Havia um lugar desconhecido por mim que o rapaz atingiu, ele me mostrava que o amor podia florescer nos momentos mais inesperados.


***

― Ai, Mai, não acho que é uma boa ideia, não... ― disse hesitante.

― Para de besteira, a Júlia fez questão de te convidar pessoalmente. ― Sua voz soou firme.

― Pior ainda, eu tô me sentindo péssima por esconder meus encontros com o Christopher. ― Deixei o corpo cair na cadeira da escrivaninha, após calçar o sapato. ―

― Então, por que não aproveita para conversar com ela? Esclarece as coisas. ― A sugestão da Maitê era sensata.

― No dia do seu aniversário? ― Arregalei os olhos, surpresa. ― Que tipo de amiga eu seria se fizesse isso?

― Bem, você tem duas opções: uma é ir na festa, agir normalmente, e a outra é inventar uma desculpa por não ter ido.

Refleti por um instante, ela parecia cheia de razão ultimamente, inventar uma desculpa só geraria mais perguntas, talvez criasse outra bola de neve. Era melhor enfrentar a situação de frente, ficar na minha por algumas horas e resolver essa história o quanto antes! Não dava para continuar escondendo dela, mesmo que não fosse um namoro sério.


Nós chegamos na casa da Júlia no horário combinado, alguns parentes da garota já se encontravam perambulando pela casa, na mesa de jantar alguns docinhos e salgadinhos estavam organizados em travessas.

― Oi meninas, a Julinha tá ali naquela mesa junto com os primos. ― Dona Alexandra, mãe do Ucker, nos comunicou assim que viu a gente. ― Nem acredito que a nossa garotinha tá fazendo quatorze anos, vocês estão crescendo tão rápido...

Enquanto ela desabafava, meus olhos localizaram o grupinho da minha amiga, Christopher me fitava de longe. Desconfortável por estarmos no meio de outras pessoas, coloquei uma mecha de cabelo atrás da orelha ao mesmo tempo que um sorrisinho surgia nos seus lábios.

― E os namoradinhos? ― O tópico da conversa tirou a minha atenção do rapaz.

― Ah, tia, sabe como é, a gente fica, mas não se apega ― Mai comentou rindo.

― Até você Dulce? ― Dona Alexandra me encarou.

― Ih, se dependesse dela, só namoraria com vinte anos ― minha melhor amiga respondeu depressa.

― Tá certa, eu espero que meu filho estude primeiro e depois pense nisso. ― Virei a cabeça na direção da Mai, assustada. ― É bom ele passar no vestibular... ― a mulher deixou a frase no ar, com um tom de preocupação.


Engoli em seco, sentindo um leve arrepio percorrer minha espinha. Antes que pudéssemos desviar do assunto, a conversa foi interrompida.

― Ei, meninas, vamos jogar alguma coisa? ― Júlia sugeriu, aparecendo ao nosso lado.

― Claro! ― declarei aliviada.

Maitê e eu a cumprimentamos, desejando felicidades pelo seu aniversário, indo para a sala de jogos logo depois de entregarmos o presente.

― Então, já escolheram? ― minha amiga perguntou para os primos que mexiam nas caixas de tabuleiro.

― Vocês querem o Perfil ou o Trivial? ― Ucker questionou para todos.

― Não sei... ― Júlia se aproximou deles, pensativa, pediu para nós opinarmos também.

Observando a coleção de jogos com atenção, parei ao lado do rapaz, fingindo ler os nomes. No entanto, por mais que tentasse disfarçar para os outros, por dentro não consegui me concentrar; sua presença tão próxima me desconcertou. Meu coração acelerou e quase dei um pulo assustada quando seus dedos acariciaram a pele da minha mão de uma forma discreta, enviando correntes elétricas por todo o corpo, além de um frio na barriga. Com medo de sermos flagrados, repreendi-o, deveríamos manter a discrição!

― O que tá acontecendo entre vocês dois? ― Escutei a voz da Júlia ressoar pelo ambiente e imediatamente petrifiquei no lugar.

Droga! Acho que não foi uma boa ideia vir para essa festa, no final das contas.

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Ixi agora ferrou, Julinha não é boba também, né...  Comentem ai o que acham que vai acontecer, beeijos amores ;*  

Gente, para quem quiser ouvir as músicas do "DVD" que o Ucker gravou, eu montei uma playlist aqui... Coloquei algumas de bônus, ok? Vou deixar o link nos comentários --> 

No ParesWhere stories live. Discover now