Prólogo

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Nesse dia tudo acabou
E só restou em mim, marcas
Do que um dia foi o nosso amor

(Versos do caderno de poemas
de Jéssica Oliveira)

Bati a porta da sala com a mesma força que tinha para recomeçar. Saí daquela casa apenas com uma mochila que guardei a pouca roupa que consegui juntar. Eu não sabia quanto tempo tinha para sair dali, até que ela retornasse e tentasse me impedir. Eu não poderia desistir (de novo).

Camila já me aguardava na frente de casa dentro de seu Uno prata e assim que cruzei o portão, saiu apressadamente para me ajudar a colocar minha pequena bagagem no carro.

— Vai ficar tudo bem, Jess… Essa vaca nunca mais vai te fazer mal — prometeu enquanto olhava no fundo dos meus olhos. 

Em outras situações, minha amiga me puxaria para um abraço e me permitiria chorar em seu ombro. Mas naquele momento, não podíamos arriscar por aquela “fuga” a perder.

— Agora entra no carro. Antes que aquela lá apareça

E eu o fiz. Entrei no carro e espiei para ver se havia algum sinal da mulher que um dia foi quem eu mais amei. Fiquei breves minutos distraída, quando dei por mim já dobrávamos a esquina e eu me afastava cada vez mais daquele passado tóxico e obscuro.

- - -

Sentada no sofá de sua casa, me sentia um pouco melhor. Mas o medo ainda assombrava a minha mente. Minha intuição dizia que ali era um lugar seguro. Mas como calar aquela voz que ecoava em minha cabeça dizendo que era um erro?

Antes que pudesse afundar numa espiral de pensamentos ruins, Camila apareceu com uma garrafa de água numa mão e um copo cheio dela na ou, me oferecendo.

— Aqui, beba um pouco de água… Acho que vai te fazer se sentir melhor. — disse enquanto estendia a mão com o copo cheio.

— Obrigada.

Aceitei e senti um alívio instantâneo com o líquido fresco descendo pela minha garganta. Camila sentou ao meu lado no sofá em silêncio e a agradeci mentalmente por isso.

Às vezes a gente exigia que as pessoas contassem boas histórias, mas ter alguém que compartilhasse o silêncio, aquele sem julgamento, não tinha preço.

E assim ficamos ali sentadas até que ela resolveu quebrar o silêncio.

— Vou colocar a sua mochila no quarto de hóspedes. Se quiser tomar um banho, fique à vontade. Tem toalha, sabonete e alguns cosméticos no banheiro. 

— Muito obrigada por tudo minha amiga.

— Você não precisa agradecer, Jess. Eu tenho certeza que você faria o mesmo por mim. — Deu uma piscadela em minha direção e saiu pelo corredor em direção aos quartos.

De certa forma ela tinha razão, eu faria o mesmo por ela se descobrisse que estava naquele caos que eu me encontrava. E isso só mostrava o quanto a amizade que tínhamos era valiosa. Poucas pessoas tinham a sorte de ter uma pessoa tão maravilhosa em suas vidas que fosse capaz de enaltecer suas virtudes, apontar seus defeitos e tirar do fundo do poço. Mas Camila era uma dessas pessoas e eu tinha sorte de tê-la em minha vida.

Mesmo que a gente tivesse se afastado um pouco, desde que tinha começado a morar com Emanuela.

Depois de refletir sobre a nossa amizade, resolvi seguir seu conselho. Um banho seria uma ótima maneira de recarregar as energias e me sentir um pouco melhor. Então, fui para o quarto buscar algumas roupas.

Nova chance para amarWhere stories live. Discover now