Capítulo 7

274 62 35
                                    

Addison a evitou por alguns dias. Dois, para ser exata, e isso a deixava louca para ter companhia. O ruído de passos e as risadas de Melaine não estavam ajudando nem um pouco. O som competia com a chuva do lado de fora. O ruído, a música e as risadas chegavam até ela, provocando uma enorme vontade de ver o que acontecia. Mas continuava dizendo a si mesma que tinha muito trabalho a fazer.

Olhou para os três computadores, através dos quais gerenciava as empresas e comunicava-se com os empregados, e então pegou o controle remoto, ligando a TV. Colocando o volume bem alto, tentou abafar o som das vozes das garotas que brincavam na casa.

Mesmo olhando para o programa de entrevistas, não podia deixar de se admirar ao ver como Meredith se envolveu com a menina, em poucos dias. Não eram apenas as brincadeiras, as risadas, mas os pequenos cuidados que percebia, como as fitas nos cabelos de Melaine, combinando com as roupas, o modo como arrumava a mesa. E também como deixava de lado qualquer coisa quando a menina precisava. Só que ela desejava estar lá para abraçá-la, para amarrar os sapatos, enxugar as lágrimas.

Ela ligou o interfone, no volume no máximo, para poder ouvir o som da casa toda. Era estranho, depois de tanto tempo vivendo no silêncio.

ㅡ Meredith, veja!

Ela ouviu passos e um gemido de Meredith. Da última vez que ouvira aquele som, ela estava em seus braços, entregue aos beijos ardentes. Esfregando os lábios, tentou afastar as lembranças.

Oh, Melaine, coitadinho!

ㅡ Se ficar no estábulo pode ser pisoteado, não é?

ㅡ Sim.

ㅡ Posso pegá-lo?

ㅡ Tudo bem, mas vista a capa. Vai ter que se agachar e ser paciente. Se ele vier até você, podemos trazê-lo para dentro. Se não vier é porque não está pronto para ficar conosco, e pode arranhar você.

ㅡ Está bem. ㅡ disse Melaine. ㅡ Mas ele virá.

Franzindo a testa, Addison levantou-se e foi até a janela que dava para o pátio de trás. A filha correu na direção do estábulo, vestindo uma capa amarela. Ali, bem na porta, estava um gatinho minúsculo, branco como neve. Melaine ajoelhou-se e estendeu a mão, esperando, como Meredith ensinou. Addison apertou o botão do interfone.

ㅡ Um gato, Meredith?

ㅡ É um gatinho, e eu imaginei que estivesse trabalhando. ㅡ ela ignorou o comentário.

ㅡ Não acho uma boa ideia. Ela tem apenas quatro anos.

ㅡ E precisa de algo para cuidar. Vai aliviar a dor da perda, Addison. Precisa sentir que é capaz de lidar com as situações, e o gatinho é inofensivo.

ㅡ Gatinhos miam fora de hora, e isso não vai diminuir a dor.

ㅡ É, não vai. Ela precisa que a mãe deixe a caverna e venha ficar com ela. Mas não pretende fazer isso, não é?

A culpa a dominou e, sem querer, olhou para a mão coberta de cicatrizes.

ㅡ Droga, Meredith, sabe que não posso fazer isso.

ㅡ Não, Addison, eu não sei. ㅡ a exasperação era evidente na voz dela. ㅡ Só sei que está descontando a reação de algumas pessoas em mim e em Melaine. E está negando a si própria muito amor.

Addison passou a mão pela nuca dolorida.

ㅡ Veja! Veio até ela!

A excitação na voz de Meredith atingiu-a como um golpe.

ㅡ Meredith...

A voz dela soou mais baixa

ㅡ Ande devagar, querida. O chão está escorregadio. Segure-o com cuidado, ele é um filhotinho. ㅡ ela estava na porta dos fundos, e sua voz misturava-se ao ruído da chuva. Então Meredith aproximou-se do interfone, a voz rouca de emoção.

A Bela e a Fera - MeddisonOnde histórias criam vida. Descubra agora