Cap-25

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Eu quase podia sentir a raiva irradiando dele.
Meu pior medo tinha se realizado: o garoto que eu conhecia havia sumido.
Então congelei, paralisada, quando Rune parou de andar e olhou para a janela do meu quarto, diretamente abaixo de onde eu estava. Uma rajada de vento soprou pelo jardim, tirando o longo cabelo loiro de seu rosto. Naquele segundo, pude ver em seus olhos uma dor incrível, um anseio severo. A imagem de seu rosto tenso, enquanto ele olhava minha janela, me atingiu mais forte que um trem. Naquela expressão perdida estava o meu Rune.
Esse garoto eu reconhecia.
Rune deu um passo em direção à minha janela, e por um momento pensei que ele fosse subir até ela, como tinha feito por todos aqueles anos. Mas ele parou abruptamente, os braços balançando ao lado do corpo. Seus olhos se fecharam e seus dentes se apertaram – de onde eu estava eu podia ver a tensão em sua mandíbula.
Então, claramente mudando de ideia, Rune se virou de costas e foi na direção de sua casa. Permaneci na janela do escritório, na sombra. Eu não conseguia me mover, em choque com aquilo que eu acabara de testemunhar.
A luz do quarto de Rune se acendeu, e eu o vi andar no cômodo. Depois abriu a janela e se sentou no peitoril largo. Acendeu outro cigarro e soprou a fumaça para fora.
Balancei a cabeça em descrença. Então alguém entrou no escritório, e minha mãe veio para o meu lado. Quando ela olhou pela janela, percebeu o que eu andara fazendo.
Senti meu rosto queimando por ter sido flagrada. Finalmente, minha mãe falou:
— Adelis disse que ele não é mais o garoto que conhecemos. Ele só tem dado problemas desde que foram para Oslo. Erik está perdido e não tem ideia do que fazer. Eles estão muito felizes por Erik ter sido mandado de volta para cá. Queriam Rune longe das más companhias que ele arrumou em Oslo.
Meu olhar pousou novamente em Rune. Ele jogou o cigarro pela janela e inclinou a cabeça para encostá-la no vidro. Seus olhos estavam focados em apenas uma coisa – a janela do meu quarto.
Antes de sair do escritório, minha mãe colocou a mão no meu ombro:
— Talvez tenha sido uma boa coisa você ter cortado contato com ele, querida. Pelo que a mãe dele diz, não tenho muita certeza se ele conseguiria lidar com tudo que você passou.
Lágrimas encheram meus olhos enquanto me perguntava o que o tinha deixado assim. Esse garoto que eu não conhecia. Eu tinha me afastado

deliberadamente do mundo nos últimos dois anos para poupá-lo da dor. Para que ele pudesse ter uma boa vida. Porque saber que na Noruega vivia um garoto cujo coração ainda estava cheio de luz tornava mais suportável o que eu estava passando.
Mas tal fantasia foi estraçalhada quando deparei com essa nova versão do Rune.
A luz desse Rune era fraca, nada nele brilhava forte. Era obscurecida por sombra e imersa em escuridão. Era como se o garoto que amei tivesse sido deixado de lado na Noruega.
O carro de Deacon encostou na entrada da casa de Rune. Vi a luz do celular de Rune em sua mão, e ele saiu do quarto devagar e atravessou a varanda. Ele andava de um jeito despreocupado em direção a Deacon e Judson, que pularam do carro. Ele deu um tapa nas costas de cada um como cumprimento.
Então meu coração se partiu em dois. Avery deslizou do banco traseiro e abraçou Rune com força. Ela usava uma saia e uma blusinha curtas, exibindo o corpo perfeito. Rune não a abraçou de volta – não que aquilo melhorasse minha dor. Porque Avery e Rune, lado a lado, pareciam tão perfeitos. Ambos altos e loiros. Ambos lindos.
Eles se amontoaram todos no carro. Rune entrou por último, no banco da frente, e eles deixaram nossa rua e saíram de vista.
Suspirei ao ver as lanternas traseiras sumindo na noite. Quando olhei de volta para a casa dos Kristiansen, vi o pappa de Rune parado na beira da varanda, segurando o corrimão e olhando para a direção que o filho tinha tomado. Então levantou o rosto para a janela do escritório, e um sorriso triste se espalhou por seus lábios.
Ele tinha me visto.
O sr. Kristiansen levantou a mão e me cumprimentou. Acenei de volta e vi um olhar de total tristeza gravado em seu rosto.
Ele parecia cansado.
Ele parecia estar com o coração partido. Ele parecia sentir saudades do filho.
Voltei para o meu quarto, deitei na cama e peguei meu porta-retratos favorito nas mãos. Enquanto olhava o lindo garoto e a menina olhando encantada de volta para ele, os dois tão apaixonados, me perguntei o que havia acontecido nos dois anos anteriores para deixar Rune tão perturbado e rebelde como parecia estar.
Então chorei.

Chorei pelo garoto que era meu sol.
Lamentei pelo garoto que um dia eu amara com tudo o que eu tinha.
Lamentei por Poppy e Rune – um casal de uma beleza extrema e de uma morte ainda mais rápida.

Mil beijos de garoto Onde histórias criam vida. Descubra agora