Sementinha - Capítulo oito

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NÃO FAZ MUITO TEMPO QUE EU DISSE DA sementinha da culpa que você sempre plantara em mim, eu pensei que quando nos resolvessemos eu poderia analisar mais a fundo se realmente era aquilo que eu sentia a seu respeito.
Eu estava sentindo uma pontada atingindo meu coração, era realmente possível que aquilo tudo o que eu pensava era real?
Eu estou afim dele?

Eu sabia exatamente o que fazer.
Sabia como colocar meu pensamentos no lugar e realmente entender tudo aquilo de uma maneira mais fácil.

Eu agarro um caderno limpo e uma caneta e coloco tudo numa mochila, jogo a mesma em meu ombro esquerdo e visto meu capuz.
Sem que ninguém perceba, eu saio de casa e pego o carro de Zulmi — Ela nem sabia dirigir, porém acabou ganhando de herança de algum antepassado dela que mal conhecia, e o pior de tudo: ela nem ao menos sabia dirigir, o que me deu a oportunidade de pegar emprestado sem pedir de vez em quando. — Eu sei que ela realmente não liga, mas toda vez pede para deixar abastecido caso ela aprenda magicamente a dirigir.

Não fazia muito tempo que eu tirei minha carteira de motorista. Provavelmente não era a mais de 4 meses, porém eu acabo me aventurando pelas ruas esburacadas de Verade de vez em quando.

Eu entro no carro e dou partida, não demora muito tempo para que eu chegue em um pequeno lago.
O local era cercado de árvores e alguns arbustos, na grama haviam algumas pétalas de flores, o que mais dominavam eram as do Ipê, o vento soprava fazendo a água cristalina do lago fazer leves ondulações e fazia alguns dos patos que descansavam na superfice se mexerem para a terra.

Estaciono o carro e abro a porta para o ventilar o local, pego minha mochila e agarro o caderno e a caneta, apoio a capa no volante e abro o mesmo numa folha limpa — algumas das páginas estavam escritas com pequenas anotações dos meus dias e coisas didáticas, nada demais. — Recuo meu dedo para a extremidade do caderno e dou uma leve virada no caderno para poder escrever melhor.

Faz muito tempo que não atualizo meus diários, não é? Acho que meu último diário foi da minha adolescência, por volta dos meus 13 anos se não me engano.
Eu normalmente não voltaria a escrever se não houvesse um motivo, mas é obvio que tem.
Eu me lembro de sempre escrever para o Morajo quando era menor, porém depois que ele foi embora, comecei a escrever para algumas garotas até uma delas descobrir e me achar romântico demais para elas.
Não digo isso afirmando que sempre fui apaixonado por Morajo, ele era apenas um amigo que eu sentia um grande carinho e gostava de conversar, mas porra, quanto mais eu cresço, mais parece que ele deixou de ser aquele garotinho indefeso para ser mais do que isso.
Muito mais.
Eu cheguei no ponto que eu queria chegar, já faz um tempo que eu pareço me sentir estranho demais perto dele.
Sempre acabo perdoando ele, independente de tudo o que ele faça para mim, isso só me faz sentir mais e mais atração por ele.
E agora que ele começou a namorar, isso pareceu só se confirmar.
Os momentos que eu passo com ele me fazem querer mais e mais da sua essência, eu quero explorar cada parte da sua personalidade, surfar pelos seus gostos, faze-lo se interessar no que eu tenho para oferece-lo, puta merda. Ele sempre me dá o gostinho de quero mais, mesmo que eu saiba que ele não gosta de garotos ou algo assim.
Eu negaria isso tudo se não estivesse dessesperado e confuso, eu só queria provar do que ele tem a me oferecer para logo depois me decidir do que eu quero.
Talvez eu só esteja muito confuso, eu nunca gostei de um garoto, mas porra, ele foi o primeiro a me fazer sentir o coração sair pela boca, a sentir dor no amor.
Eu só não queria estar tão a mercê das migalhas que ele me oferece, mas é inevitável não sentir a ocitocina subindo a cada palavra que ele me dirige, eu não quero depender dessas migalhas para sempre, talvez o único jeito que eu tenha é desapegar dele.
Ele começou a namorar a não muito tempo, é uma garota que ele conheceu, pelas conversas que li, ela aparenta ser bem brega, tipo, brega nível de chamar o namorado de momolado. Ridículo né? Eu também acho.
As vezes eu acho que o Morajo só aceitou ela por ser mais fácil do que as outras, não acho que ela deve ser feia ou algo do tipo, mas com certeza não é mais bonita do que eu. Ela não tem nem metade do tempo que eu conheço Morajo.
Eu duvido que ela saiba qual é seu maior medo, que ele gosta de livros de ciências por ser sua matéria dominante desde a escola, que ele já teve um gato preto em homenagem a um sapato, que ele escuta minhas músicas favoritas so por serem minhas favoritas.
Talvez eu esteja passando dos limites, mas não é nada justo essa garota chegar agora na vida dele já chamando tanta a atenção.
Tudo bem que a única coisa que eu quero é saber se eu realmente gosto de garotos mais do que gosto de garotas, eu acho que isso tudo facilmente se resolveria se ele me enxergasse um pouco mais.
Eu quero que ele me veja como eu vejo ele, eu quero que ele olhe para o meu corpo e admire assim como eu admiro o dele, eu quero ser tão admirado quanto eu admiro.
Será que é pedir demais pelo menos uma chance?
Acho que o único jeito é tentar aceitar que essa garota vai acabar fazendo parte da vida dele e não eu, provavelmente estou sendo um tolo por querer tanta atenção dele.
Eu provavelmente nem gosto dele de verdade, só não quero dividir sua atenção com outra garota. Que exaustivo.

Linn

Me arrumo no banco e roço com o polegar a extremidade da folha, solto um gemido insatisfeito com a minha própria confissão, talvez eu devesse guardar aquilo a sete chaves.

Eu jogo o caderno no banco do carro e  deito um pouco o banco do motorista, dando espaço para que eu apoie minhas pernas no retrovisor do carro enquanto admiro o lago.

Normalmente eu detestaria a ideia de querer testar algo tão novo assim, porém agora parecia diferente, grande parte da minha determinação era para ter a atenção daquele garoto.

Desde quando eu me tornei tão gay assim?

𝑨 𝒎𝒆𝒓𝒄𝒆 𝒅𝒐 𝒔𝒆𝒖 𝒂𝒎𝒐𝒓 . . . (Mᴏʀᴀʟɪɴɴ)Onde histórias criam vida. Descubra agora