Capítulo vinte nove

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O quarto escuro me consola mais do que qualquer conversa. As paredes parecem se fechar ao meu redor, formando uma prisão confortável. Quando a luz entra pelas frestas das cortinas, sinto como se queimasse minha pele. O brilho me incomoda, enquanto o escuro me acalma. Estou completamente inerte, sem ânimo ou emoções. Desejo apenas ficar deitada no meu quarto, sem vontade de sair ou falar com alguém. Minha única companhia é a solidão e o silêncio, que se tornaram meus únicos amigos.

Disse a Maria que estava doente. Uma meia verdade, não acha? Desde que saí da mansão, tranquei-me no quarto. Saio raramente, apenas quando escuto Victor sair pela manhã. Ele tentou conversar comigo, mas não abri a porta. Bonnie ligou e enviou mensagens várias vezes, mas não respondi.

Pergunto-me constantemente se fiz algo para merecer isso. Talvez eu não tenha sido boa o suficiente. Esse pensamento martela na minha cabeça desde o ocorrido. Durmo chorando e acordo chorando. Se é que posso chamar isso de dormir.

"Esse sofrimento não está me satisfazendo mais."

O mais perturbador é que, em meio a toda essa dor, aquela voz irritante dentro de mim voltou a falar, mais forte do que nunca.

"Precisamos da dor, precisamos sentir algo. Sem isso, o que resta?" diz a voz, fria e cortante.

Será que é isso que sou? Apenas um acúmulo de dor, que só se satisfaz ao sentir mais dor?

Sentada no chão do banheiro, deixo a água gelada cair sobre mim, sentindo a frieza penetrar até os ossos, congelando cada articulação. Sinto-me como um corpo morto, habitando uma casca vazia de ossos. Estou desconexa de mim mesma, como um lobo exilado de sua terra, vagando sem propósito em um território estranho. Respiro, mas dentro de mim há um vazio, como se cada respiração fosse sugada por um abismo sem fim.

Me pergunto se é assim que ela se sentia, por isso fazia o que fazia para sentir algo. Será que ela também se sentia incompleta, perdida em um corpo que parecia apenas uma casca vazia?

Onde será que ela pode estar?

- Violet? - escuto alguém me chamar do outro lado da porta. - Sou eu, Bonnie. Pode abrir? - ela pergunta, a voz cheia de preocupação. Mas permaneço calada, encolhida no chão, sentindo o frio da água cair sobre mim. - Tudo bem - ela continua, um toque de determinação na voz. - Você me forçou a fazer isso.

Em alguns segundos, escuto o barulho da porta sendo aberta. Levanto-me, desligando o chuveiro.

- Não quero conversar - digo. Mas, antes que possa dizer mais alguma coisa, ela abre a porta do banheiro.

- Já faz uma semana que você está aqui e...

Uma semana? Para mim, não pareceu tanto tempo assim.

- O que aconteceu com seu corpo? - pergunta ela, e logo me lembro que estou nua. Pego a toalha, me enrolando ao sair do banheiro. - Violet, o que é isso?

- Não é nada.

- É por isso que você está aqui? Reclusa? Sem querer falar com ninguém? Foi por causa dele? Ele te bateu? - pergunta tudo de uma vez, com um tom de preocupação e indignação.

- Oh meu Deus, claro que não.

- Contra fatos não há argumentos. O que está acontecendo? Passei uma semana tentando falar com minha melhor amiga e ela simplesmente não me responde, não me recebe em sua casa. Tive que fazer uma cópia da chave para poder entrar e, quando chego, vejo seu corpo completamente marcado. A gente vai na delegacia...

- Bonnie, me escuta...

- Eu não vou deixar ele se safar...

- Bonnie...

- Ele pode ser rico, mas...

- Porra, Bonnie, EU QUE PEDI - vocifero alto, tentando fazer com que ela pare e me escute.

- Co-como assim? - pergunta, atordoada e incrédula.

- Bonnie... eu só quero ficar sozinha - peço.

- Eu não saio daqui até você me dizer o que está acontecendo - vocifera, sentando-se na cama. - Por que você pediu para ser espancada?

- Bonnie - chamo seu nome, esfregando a testa enquanto tento me acalmar. - Bonnie... por favor, não interprete assim. Só nos empolgamos, só isso.

- Só se empolgaram? - Bonnie exclama, os olhos arregalados, fixando-se nas marcas em meu corpo. - Seu corpo está marcado como um mapa cheio de cicatrizes e você diz que só se empolgaram?

- Não interprete dessa forma, como se fosse algo incomum.

- E é algo incomum. Ou você acha super normal? Acha normal ser subjugada, ser submissa, humilhada? Acha normal alguém sentir prazer em infligir dor ou receber dor? - Bonnie se levanta, ficando à minha frente. - Eu já li sobre isso. Não posso dizer que entendo o que você sente, porque realmente não entendo. Mas sei que isso é viciante. Como uma droga que você não consegue largar. Algo que te prende e te faz voltar sempre, como se fosse nicotina, intoxicando cada parte de você.

- Bonnie, eu tô bem - digo, tentando passar confiança.

- Bem? Até quando? - pergunta ela. - Você está há uma semana aqui dentro, trancada. Acha que até quando seu corpo vai aguentar sem sentir a diferença?

Já está sentindo.

- Acho que você já deve saber o que acontece com a abstinência sexual, principalmente em casos como o seu - diz, aproximando-se novamente de mim. - Você precisa voltar. Está faltando no trabalho e isso está prejudicando sua vida, tanto emocional quanto profissional.

- Era tudo mentira - digo, com os olhos enchendo de lágrimas.

- O que era mentira? - pergunta confusa, pela mudança repentina do assunto.

- Tudo. Ele estava lá com aquela mulher.

- Dá para você falar coerentemente?

- Ele me traiu, Bonnie, tá? Com a tal da Katherine. Só de pensar, sinto ódio, ódio por não ter matado os dois. Eles devem estar lá juntos, rindo da minha cara.

- O Liam? Ter te traído? Isso é inacreditável.

- Ele pode ter me batido, mas não pode ter me traído? Ah, Bonnie, faça-me o favor.

- Bom... eu estava vendo provas na minha frente. Já na traição, eu não vi. Você viu ele?

- Eu vi ela lá, cavalgando nele. E o Mike confirmou.

- Eu perguntei se você viu ele, não o que o Mike contou ou em que posição ela estava. Tem pessoas que querem nos mostrar algo que não está lá. Sinceramente, eu não acredito que ele seria capaz.

- Está me chamando de maluca?

- Não, não estou te chamando de maluca ou mentirosa. Só que eu não estou acreditando nisso. Pensa, ele nunca te deu motivos para isso. Sempre estava lá, à sua espera. Ele não parece o tipo de pessoa que mente sobre o que quer.

- Aí é que está, Bonnie. Não devemos achar que a personalidade de alguém é o que vemos pela aparência.

- Ele não veio atrás de você? - pergunta.

- Talvez. Não dei liberdade para saber. O bloqueei, ouvi a campainha tocar algumas vezes, mas não atendi.

- Entendi. Bom... se ele tiver feito isso, vamos colocar todo esse seu sentimento para fora.

- Como? - pergunto, curiosa.

- Destruindo o objeto que ele mais ama... o carro.

DARK OBSESSION Tempat cerita menjadi hidup. Temukan sekarang