Prólogo I | Better Swim Before Your Drown

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"Townes, é melhor você nadar se não vai se afogar"

Esse foi um dos últimos conselhos que a minha avó me deu antes de morrer. A mulher que tinha o nome que eu carregava no meu próprio, Townes McDonoval, foi uma menina que cresceu nos subúrbios da Carolina do Sul, e um dia brincando na praça da cidade conheceu um menininho da sua idade chamado Carlos. Um dia ele viraria seu marido e pai das suas duas filhas: Raven e Tina.

Tina cresceu odiando sua cidade, sua vida, sua realidade, por isso na primeira oportunidade que lhe apareceu, fugiu com um homem e nunca mais viu seus pais. Carlos adoeceu pouco tempo depois. A falta da filha mais nova com certeza foi um fator para o diagnóstico terminal, mas uma vida longa de muito trabalho duro um dia cobrou o preço. E então na vida que sempre foi Townes, Carlos, Raven e Tina, agora era apenas Townes e Raven.

Diferente da irmã, Raven ficou ao lado da mãe. Trabalhou muito para manter o lar que Townes, já idosa e incapacitada, não conseguia mais. E um dia ela também encontrou o amor, ou pelo menos achou que sim. Raven casou-se com seu "príncipe encantado", mas logo viu ele se transformar em um vilão. Se sentindo solitária e com uma filha pequena de dois anos fruto desse casamento conturbado, ela se viu em uma situação onde a vida era incerta e assustadora.

Até que para a tristeza da família (ou felicidade ouso dizer) o marido de Raven e pai da sua primeira filha faleceu de causas naturais. "Muito estranho um homem de 40 e tantos anos morrer de ataque cardíaco, deve ser o karma" dizia minha avó. "Se um homem não era capaz de cuidar do coração da sua filha, não merecia ter um batendo no seu peito".

Raven voltou para casa de Townes, que recebeu a filha e a neta de braços abertos. A vida era boa novamente, mas a situação financeira da família Mcdonoval era assustadora. Os próximos anos foram confusos: uma mistura de luto, alívio, tristeza, mas ao mesmo tempo gratidão; angústia, mas com a felicidade em poder prover para sua mãe e sua primeira filha uma vida, que apesar de miserável, era segura e com a única coisa que importava: amor.

O amor. Ela não acreditava mais no amor romântico, se recusava a procurá-lo novamente, se recusava a acreditar que esse tipo de amor sequer existisse. Viu seu pai deixar sua mãe sozinha, viu seu príncipe se transformar em um monstro, e sinceramente, em sua volta, não via uma única história que a inspirasse em acreditar em nada além de luta diária na sua humilde carreira de costureira.

Isso até o réveillon de 1995, onde uma prima distante a levou para passar o final de semana do ano novo no litoral. Minha avó custou para convencer Raven que ela poderia ir, que ela merecia ver cenários e pessoas diferentes, respirar um ar que não fosse daquele pobre bairro, descansar um pouco dessa vida corrida e esforçada. "Lauren ficará bem aos cuidados da avó, minha filha". Então Raven foi.

Deslocada por se sentir diferente da prima e todas as outras pessoas que conheciam no meio do caminho, Raven fez da viagem um momento de reflexão. Ela não era das festas, não usava as mesmas roupas que as meninas da sua idade, não curtia as musicas altas ou bebidas doces. Ela era caseira, na praia gostava mesmo era da maré calma da manhã e das caminhadas que fazia sozinha pela areia. Um dia, acordou bem cedo e vendo a prima largada na cama ao lado, ainda com o vestido que chegou usando na noite anterior, decidiu se aventurar sozinha.

Seus pés descalços na areia e o doce som das ondas quebrando fazia ela abrir um sorriso involuntário Calma, relaxada, serena: foi assim que conheceu o grande amor da sua vida. Naquele sábado de manhã um homem se aproximou de Raven com um papo clássico e bem charmoso. Um comentário sobre o cenário agradável, como o clima era favorável para um dia inteiro na praia e mais algumas palavras trocadas que a convenceram a passar o restante do dia com o galã misterioso.

Sua prima nem notou a sua ausência, e Raven até que gostou de por um dia viver uma vida sem amarras. Naquele momento ela não era a Raven mãe, Raven provedora, Raven trabalhadora, Raven dona de casa. Ela era apenas ela. Ela e ele. Ele era um pouco mais alto que ela, vestia uma camisa de linho e bermuda azuis, tinha os olhos claros e os cabelos loiros, um verdadeiro príncipe . Mas Raven já conhecia essa história , o príncipe vira vilão.

Caminharam a orla inteira papeando. Descobriram muitas coisas em comum, tinham o mesmo gosto musical, os mesmos hobbies, até histórias de vida parecidas. Mas ele era mais ambicioso, queria ir para algum lugar grande, sonhava morar em Los Angeles, ou Nova York, qualquer lugar que fosse tão grande quanto seus sonhos. Ela, encantada com sua imaginação e ambição, aceitou um convite para almoçar. Depois um convite para jantar, e no outro dia já tinham marcado atividades para fazer o dia inteiro! E esse dia terminou no quarto do hotel dele.

Aqueles dois estranhos pareciam se conhecer uma vida inteira, mesmo sem ter informações cruciais um do outro. Raven não sabia seu nome inteiro, nem onde morava, como era a sua família ou sua profissão, mas sabia de seus maiores sonhos, seus maiores medos, e agora o gosto do seu beijo. Na última manhã da sua viagem, Raven acordou sozinha em um quarto de hotel que nem lhe pertencia. As malas que estavam no chão na noite anterior não estavam mais lá, o banheiro parecia ter sido usado recentemente, mas nem um sinal do homem que o usou.

Ela se vestiu, rezou que o homem voltaria e que a sensação horrível que ela sentia no peito logo terminasse, mas quando encontrou um cartão postal da mesma praia onde se conheceram na mesa de cabeceira, sentio o seu castelo desmoronar mais uma vez. Ela virou o papel e leu:

"Querida Raven,

Eu não mereço a grandiosidade que esses últimos dias com você me proporcionaram.

Eu odeio despedidas, por isso minha saída discreta. Peço que não fique chateada comigo.

Um dia vamos nos reencontrar, eu sei que vamos. Vou te esperar para sempre em Nova York.

B."

Nove meses depois, sozinha em um hospital público, Raven deu à luz a sua segunda filha: Saylor Townes Mcdonoval, ou melhor, eu! E essa é a história de como eu fui procurar por alguém que eu não faço ideia de quem seja na maior cidade do mundo.

Essa é a minha história em Nova York.

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Até o próximo capítulo!

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