Cinco

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À noite, quando não conseguia dormir, eu descia as escadas pé ante pé e ia nadar na piscina. Começava a percorrê-la de um extremo ao outro, dando voltas e mais voltas, até me cansar. Quando voltava para a cama, meus músculos estavam doloridos, mas também trêmulos e relaxados. Adorava me envolver em uma das imensas toalhas azuis de piscina da Rainie. Nunca tinha visto aquelas toalhas de piscina antes. E aí, pé ante pé, subia as escadas de novo e caía no sono com os cabelos ainda molhados. É tão bom dormir depois de sair da água. Não tem comparação.

Dois verões atrás, Rainie me viu na piscina e em algumas noites ela vinha nadar comigo. Eu estava debaixo d'água e então sentia que ela tinha mergulhado e começado a nadar do outro lado da piscina. Não conversávamos. Só nadávamos, mas era reconfortante ela estar ali comigo.

Foi a única vez, naquele verão, em que a vi sem peruca.

Naquela época, por causa da quimioterapia, Rainie passava o tempo todo de peruca. Ninguém a via sem peruca, nem mesmo minha mãe. Rainie tinha cabelos lindíssimos. Longos, cor de caramelo, macios como algodão-doce. A peruca nem chegava aos pés dos seus cabelos de verdade, e olha que era de cabelos humanos e tudo, a melhor que se podia encontrar.

Depois da quimioterapia, quando seus cabelos voltaram a crescer, ela passou a adotar um corte chanel curto, logo abaixo do queixo. Era bonito, mas não era a mesma coisa de antes, quando seus cabelos eram longos como os de uma adolescente, como os meus.

Na primeira noite daquele verão, não consegui dormir. Sempre levava uma ou duas noites para me acostumar de novo com a cama, embora tivesse dormido ali todos os 08 verões da minha vida. Passei algum tempo rolando de um lado para outro, depois não aguentei mais.

Vesti o meu velho maiô do time de natação, que mal cabia em mim, com listras douradas e corte nadador nas costas. Era minha primeira nadada noturna de verão.

Quando eu nadava sozinha à noite, tudo me parecia bem mais nítido. Ouvir a minha própria respiração me deixava mais calma, estável e forte. Como se eu pudesse nadar para sempre.

Dei algumas voltas, e na quarta, no início da virada, chutei algo sólido. Subi para tomar ar e vi que era a perna de Ryujin. Ela estava sentada na beirada da piscina, com os pés mergulhados na água. Tinha me observado o tempo todo. E estava fumando um cigarro.

Fiquei imersa na água até o queixo, de repente consciente de como meu maiô estava pequeno demais para mim agora. Não ia sair da água enquanto ela estivesse ali.

— Quando você começou a fumar? — perguntei, em tom acusador. — E o que está fazendo aqui embaixo, aliás?

— Qual das duas perguntas quer que eu responda primeiro? — Tinha no rosto aquela expressão típica de diversão e condescendência, aquela que me deixava maluca.

Nadei até a parede e descansei os braços na beirada da piscina.

— A segunda.

— Não consegui dormir, então saí para dar um passeio — disse ela, dando de ombros. Estava mentindo. Ela tinha saído para fumar.

— Como soube que eu estava aqui fora?
— perguntei.

— Você sempre nada aqui à noite, Yeji. Pensa que não sei? — E deu uma tragada no cigarro.

Ela sabia que eu nadava à noite? Eu pensava que aquele era um segredo especial meu, meu e de Rainie. Há quanto tempo ela sabia? Será que todos sabiam? Eu nem sabia por que era importante, mas era. Para mim, era.

— Está bem. Quando começou a fumar?

— Não sei. No ano passado, talvez. — Estava sendo vaga de propósito. Era enlouquecedor.

O Verão Que Mudou Minha Vida | RYEJIOnde histórias criam vida. Descubra agora