BLACK STAR / REGULUS BLACK

06: Os últimos dias.

Início de Agosto, 1977

Após aquele dia, a Biblioteca dos Black acabou se tornando o refúgio seguro de Annabel e Regulus, um cômodo para onde eles iam para ficar juntos. Algumas vezes eles ficavam conversando muito, falando sobre a infância, suas famílias, sobre a escola e seus colegas. Outras vezes, eles simplesmente pegavam um livro, a xícara de chá com leite e a xícara de café, sentavam-se com as costas nas prateleiras e ficavam em silêncio, lendo. O silêncio entre os dois nunca era constrangedor e desconfortável, era simplesmente mútuo e sereno e tinha aquela sensação de que não era realmente um silêncio. Em suas conversas, acabaram descobrindo muito sobre o outro, e também apontaram coisas em comum. Regulus soube que a matéria favorita de Annabel em sua antiga escola era História e ela soube que a dele era Poções, descobriu que ela gostaria de ingressar numa escola de trouxas para balé, e que ele gostaria de se tornar um Mestre de Poções. Regulus descobriu que Annabel tinha uma aura maternal e gostaria de ter uma filha, e ela descobriu que ele não gostava nada de crianças. A cor favorita dele é verde, a dela é rosa e branco (ela não consegue decidir).

A partir dos dias, Annabel percebeu que Regulus gostava muito de usar tons escuros e roupas sociais e Regulus apreciou muito as saias longas de Annabel e suas sapatilhas Mary Jane vernizadas. Ele começou a apreciar a maneira meiga como ela sorria e suas bochechas naturalmente coradas ficavam vermelhas com tanta facilidade. Annabel começou a apreciar a serenidade de Regulus, a calma com que ele fazia tudo, a maneira como os olhos dele brilhavam quando falava sobre algo de que gostava muito. Regulus um dia apontou (mentalmente) que os olhos de Annabel eram da cor de musgo bem claro. Annabel disse para Regulus que a cor dos olhos dele era como o mar mediterrâneo, e diferente dos de Saphira, os de Regulus eram mais escuros.

Tudo parecia estar bem agora, finalmente Regulus e Annabel podiam se rotular amigos e achavam que se conheciam bastante, nada poderia dar errado. Era o que eles, os tolos, achavam. Até o primeiro domingo de agosto, e o começo da última semana de Annabel e sua família na casa dos Black. Ele parecia diferente e distante dos últimos dias, e Annabel achava que era porque no sábado anterior, Saphira e Jeffrey haviam saído para uma missão de Comensal da Morte. Antes, Regulus já havia revelado para ela que desejava se tornar um membro do exército de Lord Voldemort e ela imaginou que ele poderia ficar magoado sobre isso — com inveja. Entretanto, pelo olhar que ele deu para ela quando os dois finalmente sentaram em um dos tapetes esverdeados que ficavam postos entre as prateleiras de livros, ela soube que era muito mais do que apenas isso.

Annabel, quieta, apenas se mostrou como igual todos os outros dias. Ela levantou seus joelhos na altura do peito e abraçou suas pernas cobertas pela meia-calça branca, observando suas sapatilhas se destacando por cima do veludo esverdeado do tapete. Os cabelos lisos e escuros caíam por cima de seu rosto, causando um contraste com sua pele e escondendo uma parte de suas bochechas redondas. Os cílios longos e cheios causavam um sombreado bonito na região abaixo dos olhos. Annabel era tão bonita e delicada, fazendo qualquer coisa, que Regulus não podia olhar para ela e não se lembrar das bonecas de porcelana que Saphira tanto cuidava na infância, escovando os cabelos e trocando vestidinhos de estilo vitoriano.

De repente, o silêncio entre os dois já não era confortante ou natural, era desagradável e a expressão do rosto de Regulus apenas fazia com que ela quisesse que ele abrisse a boca e falasse logo qual era o problema.

— Minha mãe descobriu — ele revelou, como se lesse a mente dela.

Annabel levantou o rosto suavemente, franzindo o cenho para a informação incompleta. Ela queria perguntar: “e daí?” mas permaneceu quieta.

— Naquele dia em que você estava dançando balé no Salão de Baile, ela veio até mim e mandou que eu ficasse distante de você…

— Por que ela diria para você ficar longe de mim?