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Jesus foi pregado na cruz porque ele confiou.

Sábado | Rio de Janeiro
Renato Cardoso. RW

Point of view.

Encarei meu rosto no retrovisor e engoli em seco. Ajeitei o capu no rosto deixando só meus olhos amostra.

— Cortando pela mata nóis chega em dez minutos. — ouvi alguém falar no radinho. Guardei em seguida e arrumei minha postura.

A dor que eu tava carregando era enorme, em anos que eu tava nessa vida, nunca me deixei levar por nada, nunca deixei que nada influência-se meu modo de viver. Mas agora o bagulho era diferente, eu tava com a missão de matar o pai da Arielly, na frente da mina.

— Ce sabe que é o certo! — Carlão me entregou a arma e eu concordei na calada, coloquei na cintura e liguei a moto vendo quatro motos atrás da minha, cada uma com dois. Um vapor subiu na garupa e eu acelerei cortando de giro, virei a rua e peguei reto cortando caminho.

Quando pegamos a pista ampla cortei de giro, pra avisar que tava chegando. Fitei meus olhos nela, que se separou do pai, olhou confusa e perguntou alguma coisa pra ele. Nem reforcei sobre ter cuidado com ela, Vanessa e Carlão deixou isso bem claro assim que saímos de lá.

Paramos as motos uma do lado da outra, deixando a minha no meio. Arrumei o capuz, respirando fundo e ajeitando na região dos olhos. Descemos da moto todos na mesma mora, tirei a arma da cintura e apontei pra ele que estava no fundo do carro, ele se virou levantando as mãos.

— A casa caiu. — O vapor do meu lado gritou, a Arielly olhou fixamente nos meus olhos, e eu vi seu semblante surpreso e seus olhos arregalados.

— Demoraram. — ele debochou. — a essa hora, teu morro Rw, tá pegando fogo. — ele riu alto e eu não exitei em momento algum de atirar no peito dele. Dois tiros e o sangue espirrou, ele caiu e a Arielly correu pra perto dele gritando, seus olhos me fitaram totalmente perdidos, guardei a arma e olhei pra trás já vendo todos na moto. Senti meu celular vibrar no bolso, peguei vendo mensagens do Carlão dizendo que tava tendo invasão e que o Gw tinha sido baleado, senti meu coração pulsar mais forte quando vi uma mensagem de três minutos atrás da Arielly.

Ariel 🤍 "Socorro"

Subi na moto e fiz o retorno, o que tinha na moto eu coloquei, assim que chegamos já entramos pro Galpão, não tinha rastro de nego nenhum. Coloquei o colete e as munições, coloquei duas na cintura, uma de cada lado, e a glock na mão. Sai com tudo, subi a rua pegando dois de costas e desci bala sem dó nenhuma, mais pra cima vi uma senhora gritando, quando cheguei a frente da casa tava toda suja de sangue, e um moloque de por voltas uns oito anos, tava estirado no chão morto. Evitei olhar e pedi pra ela entrar, fiz sinal para dois atrás de mim cuidarem dela e mandar tirar o corpo. Virei a esquina me esquivando de corpos no chão, mais pra frente bati de frente com um e acertei na cabeça.

E foi assim, morte e mais morte. Cinco horas da tarde, o terror tinha acabado. Tirei meu colete jogando no chão e descarreguei o pente pra cima.

— Gw foi liberado, tô indo buscar. — Teco falou e só aí me lembrei que ele tinha sido baleado.

— Como que ele tá? — suspirei passando a mão de sangue na roupa.

— Maria Júlia disse que ele tá bem, foi de raspão. — concordei e ele saiu.

Do jeito que eu tava, eu me sentei no chão da lage, olhei pra cima e senti o olho arder. Me perguntei, se minha mãe tinha um pingo de admiração por mim, pelo filho que ela colocou no mundo. Eu sabia a resposta, mas me negava a aceitar.

E então, a voz do Carlão soou, o morro todo podia ouvir seu tom de voz rude e grosso.

— Em nome de todo o Vidigal, venho prestar nosso luto pelos falecidos da tarde de hoje. — abaixei minha cabeça. — Lucas, oito anos. Dona Maria, sessenta e três, Felipe, dezessete, Clara, três e Fernanda, quatorze anos. — respirei fundo. — Que Deus dê força a família de todos, e fiquem cientes de que a justiça será feita!

Me levantei e desci da lage, quando cheguei lá em baixo, eu só ouvia os choros, o desespero e as ruas sujas de sangue, virei a esquina e dei de frente com a Dona Vanessa.

— Tá podendo falar? — concordei cruzando os braços.

— Como que a Arielly tá? — perguntei e ela me olhou com o olhar de pena.

— Muito mal, mas do que eu esperava. — dei um murro forte no muro, fazendo cortar minha mão e ela se asustar dando uns passos pra trás. — Rw...

Não deixei ela falar mais nada, passei por ela e fui até a casa da Arielly.

Todo mundo mentia pra ela, como se ela fosse indefesa, sendo que a Arielly é uma das mulheres mais fortes que eu já conheci. Passou e passa por tantas coisas, mas mesmo assim faz de tudo por todos.

Cheguei de frente pro portão dela, e toquei a campanhia, nada. Pulei a grade e rodei o fundo, janela do quarto fechada e tudo escuro, saltei e me sentei na calçada.

Teco "Gw chegou, na casa da mãe."

"Aryelly ?"

"Tá"

Engoli em seco e encarei minhas mãos ensanguentadas, junto com as minhas roupas. Fiquei por volta de uns vinte minutos sentado na calçada, quando vi ela subindo a rua, fiquei em pé, assim que seu olhar parou no meu, eu vi seu corpo parar, sua respiração travar, eu vi a sua raiva por mim.

×××

Não fácil pra ninguém.

M.

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