Quer vir lá em casa?

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   Tá. Eu fiz aquela cena e saí correndo pra casa pra procurar a Emília. O problema é que; não sei como fazer isso. Sim, ok, eu vou pra Demoníaca amanhã. Mas e se ela estiver lá? O que eu vou fazer ? Essa ansiedade me traz um nó no estômago. Minhas unhas que estavam tão grandes agora estão minúsculas e feias. 

  Já está anoitecendo e eu deveria estar pensando em outras coisas. Tinha que ser eu, sempre arrumando confusão quando se trata de mulher, e agora ela é uma vampira. Tenho que mudar meu foco, essa semana o professor vai passar um trabalho, e os veteranos que já passaram pelas aulas dele dizem ser difícil. 

  Apago as luzes do ap, e deixo a luz de um abajur ao lado da minha cama acessa, para que eu possa ler um pouco. Sempre que estou me sentindo meio confusa pego esse livro, tenho muito apego por ele, O Retrato de Dorian Gray. É uma história realmente fascinante e complexa, que consegue me prender totalmente no enredo. Conta a história de um jovem extremamente vaidoso e um pintor que se apaixona por sua beleza e cria uma obra que a capta, o jovem se torna obcecado pela pintura e a história é linda num geral. E claro, os protagonistas com certeza são homossexuais. 

    Acabo pegando no sono, depois de ler palavras de conforto de possivelmente o único homem que eu tenho uma imensa admiração, o escritor Oscar Wilde. Meu sono e profundo, e acabo não lembrando muito bem do que se tratava, mas era uma mistura de livros que já li, garotas que já me apaixonei, e claro, Emília. Não foi um pesadelo, acordei até me sentindo mais disposta. Sentindo as preocupações se esvaírem aos poucos. 

   Pego meu celular ( Eu sei, nada saudável) e lembro de passar um pix para meus amigos. Posso ser esquecida as vezes, mas dívida é dívida. Eles começam a puxar assunto no nosso grupo: 

                             Quem sair do grupo é hétero 

alex chatinho: obgd pelo pix serenaaa.

alex chatinho: ( não faz mais que a obrigação tbm)

                                                                                                                                                                          dnd, fã

lala linda: oq vcs vão fazer hj? 

lala linda: queria ir na rua da lama, beber alguma coisa

alex chatinho: vamo vey.

alex chatinho: c vai amg?

                                                                                                                              foi mal, n vai dar. tenho um date  hj

lala linda: olha elaa, date em plena segunda. 

alex chatinho: não sabia q vc já tava assim, uii.


Desligo a tela, vou tentar estudar um pouco em casa e fazer um almoço depois. Hoje a tarde tenho aula, umas 18:00 horas e geralmente dura 1h30m, então vai dar tempo de chegar em casa e me arrumar p ir na boate. Pode estar parecendo que estou ansiosa, mas não é isso, estou totalmente tranquila e segura que tudo vai dar certo . Se tudo der errado, o que não vai acontecer, eu me resolvo. Totalmente segura. 

As horas passam, consigo me distrair um pouco com minhas coisas. Modéstia a parte, sou uma boa cozinheira. Aprendi com uma ex minha, a Júlia. Mas ela não é relevante agora, tenho outras preocupações. Vamos dizer que eu levei chifre dela, e talvez seja esse o motivo da minha desconfiança com novos amores. Enfim, isso realmente não importa agora. Tenho que seguir meu dia e ir atrás de Emília quando for a hora. 

 A universidade tá meio vazia, até estranhei. Vai ver é só o meu bloco. Meus amigos não tem aula nas segundas então fico mais na minha, é até bom que consigo me concentrar mais. Não me importo em ficar sozinha. A disciplina é morfologia, não gosto muito dessa aula mas preciso dela se quero ser professora um dia. 

 Depois do que parece ser uma eternidade, finalmente estou no ônibus voltando pra casa. A parte do dia que eu mais aguardava, a Demoníaca abre a partir das 20:00, mas não sei se Emília estará lá nesse horário. Resumindo: tenho um tempinho pra me arrumar. 

   Chego em casa, vou direto pro banho pra me arrumar do jeitinho que eu gosto. Bem gótica, pra parecer que eu que sou a vampira. Arrumo meu cabelo, e decido prender ela em dois coques fofos. Aproveito e faço umas trancinhas embutidas. Estava quase me esquecendo, colocar música pra tocar. Como já vou ouvir muita música gótica lá na boate, coloco Rita Lee pra tocar, claro. 

    Faço minha maquiagem bem forte e dramática, como eu normalmente vou pra Demoníaca. Meu batom preto, que já está quase se fundindo com minha boca de tanto que eu uso. Eu estou me arrumando porque eu gosto e é algo que me deixa feliz, mas não é nada mal pensar como Emília reagiria em me ver toda arrumada. Quando conheci ela eu também estava montada, mas é diferente agora.  Passo meu perfume e, pronto. 

Calço minha bota coturno e vou quase correndo para a Demoníaca. Não tem motivo pra ter pressa, mas faz tanto tempo que não vou num encontro e honestamente estou com saudade do cheiro da Emília. Quando entro na boate, me decepciono um pouco, queria dizer que imediatamente olhei pra multidão e vi ela, como nos livros ou fanfics do Wattpad, mas não aconteceu. Deu pra perceber que muitas cabeças viraram em minha direção, então provavelmente eu era a única humana presente. 

   Fiquei desconfortável,  não é uma sensação agradável ser a diferentona em um espaço. Já passei muito por isso na adolescência, só que agora é por um motivo diferente. Espero num canto, aguardando pela chegada da minha vampira. Não no sentido que ela seja minha mesmo, mas no sentido de ser a vampira que estou procurando no meio de dezenas de vampiras. O rosto dela é marcante e está gravado em minha memória, então quando ela chega, a identifico rapidamente. 

  Não consigo deixar de dar um sorrisinho, aí que saudades desse rosto! Emília logo me avista e caminha em minha direção, me abraçando apertado. Em seguida ela diz:

- Serena, você sumiu. Procurei seu cheiro em todos os cantos, mas você desapareceu da minha vista. 

- Eu...desculpa, não sei o que deu em mim, é só que isso tudo...- aponto pros lados- me assusta um pouco ainda. 

- Imaginei que você não ia querer mais saber de mim. 

- Até pensei nisso, mas eu não consigo resistir, Emília. 

- Da última vez foi você quem teve a iniciativa de me beijar, então...posso?- Ela se aproxima, com seu nariz roçando o meu. 

- Pode. 

 Seus lábios dela encontram os meus, e caralho, eu precisava disso. A pele fria dela em contraste de seu beijo caloroso. Emília bagunça meu cabelo de leve e eu percorro meus dedos pelo seu corpo tão delicadamente, mas com desejo. 

- Quer vir lá em casa?



Minha querida vampira.Onde histórias criam vida. Descubra agora