009- Andre Ramalho

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O engraçado é que eu nem queria estar naquela exposição

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O engraçado é que eu nem queria estar naquela exposição. No fundo, minha intenção era pular o evento e ficar em casa, talvez abrir uma garrafa de vinho e me afundar em algum filme velho. Mas o jornalismo cultural exige presença, e meu editor deixou claro que, se eu quisesse assinar a matéria, teria que aparecer. Não era apenas uma exposição qualquer. Era uma dessas badaladas, cheia de gente importante, e eu tinha certeza de que encontraria meia dúzia de influenciadores por lá, fingindo entender de arte enquanto posavam para fotos.

O que eu não esperava era encontrar André Ramalho. Sim, aquele André Ramalho. Zagueiro do Corinthians. Jogador consagrado, cheio de títulos, ex-Europa. Eu sabia quem ele era, mas ele, definitivamente, não fazia parte do meu mundo. Futebol nunca me interessou de verdade, e depois da morte do meu pai — um corintiano fanático —, qualquer envolvimento com o esporte me trazia uma dor incômoda. Para mim, os gramados e as arquibancadas ficaram no passado, junto com as lembranças de tardes ensolaradas ao lado do meu velho, ouvindo as narrações pelo rádio. Depois que ele se foi, fechei essa porta e joguei a chave fora.

Mas lá estava André, caminhando entre quadros abstratos e esculturas minimalistas, parecendo ligeiramente deslocado. Ele era alto e tinha uma presença impossível de ignorar, mesmo sem estar vestido com a camisa do Corinthians. Naquele dia, ele usava uma jaqueta de couro simples e calças escuras, como alguém que não queria chamar atenção, mas acabava fazendo isso só por existir. Eu me perguntei o que um jogador de futebol fazia em uma exposição de arte contemporânea. Talvez estivesse tentando se reinventar — ou talvez estivesse em busca de uma distração qualquer, assim como eu.

Cruzei com ele sem querer, quando me virei rápido demais e quase derrubei uma taça de vinho na sua jaqueta. Ele segurou meu braço antes que eu perdesse o equilíbrio, e nossos olhares se encontraram por um momento que durou mais do que o necessário.

— Desculpa, eu... — comecei, sem jeito, mas ele abriu um sorriso leve.

— Tudo bem. Acontece — respondeu, a voz baixa, quase em um tom cúmplice.

Tentei continuar meu caminho, mas ele fez uma pergunta inesperada:

— Você acha que eu deveria entender alguma coisa desses quadros?

Eu ri. Não consegui evitar. A honestidade dele era desarmante.

— Acho que ninguém aqui entende de verdade — respondi, ainda sorrindo. — Eles só fingem melhor do que a gente.

E foi assim que começamos a conversar. No início, foi uma conversa casual, cheia de ironias e piadinhas sobre a pretensão das pessoas à nossa volta. Mas, aos poucos, percebi que havia mais nele do que eu esperava. André era diferente da imagem que eu tinha dos jogadores de futebol — ou talvez fosse exatamente igual a eles, só que mais honesto a respeito das inseguranças que carregava. Ele me contou que estava tentando descobrir novos interesses, explorar coisas fora do futebol, porque sentia que faltava algo em sua vida. "Não quero ser só o cara que joga bola", ele disse.

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