Eu deveria ter suspeitado disso há dois anos, apesar de ter me preparado tão bem para aquele caso — um homem que, devido a um ressentimento antigo, acidentalmente feriu um adolescente do bairro. Construí uma argumentação relacionando o incidente à autodefesa, acreditando ser completamente razoável.
Mais importante ainda, congelei o tempo secretamente para remover uma evidência vaga, uma ação que inegavelmente beneficiou o réu. Enquanto o tempo avança, a lei deve ser seguida. Mas, quando o tempo para, isso não importa.
Naquele caso, porém, Man Mek era a promotora.
Ela insistiu em apresentar uma acusação de tentativa de homicídio, contestou minhas perguntas inúmeras vezes e desmontou cada hipótese que apresentei. Ela usou os restos de evidências restantes para ganhar o caso sem deixar dúvidas, destruindo minha reputação, antes tão orgulhosa, num instante.
Eu estava tão ocupado guardando rancor daquela garota de rosto frio que deixei de notar um detalhe importante — talvez ela tivesse algo especial, como minha segunda bênção.
E não há dúvida de que alguém como Mai Tree deixaria passar algo tão óbvio.
No dia seguinte, ao meio-dia, depois de notar o olhar suspeito no caderno do assistente jurídico, confirmei que Man Mek havia terminado todos os seus negócios como esperado, sem falhas. Não havia defeito a ser encontrado aqui, mesmo que eu tentasse.
Peguei minha xícara de mocha e fingi estar irritado.
"Onde está o chocolate suave que pedi?"
"Você não pediu."
"Tenho certeza de que pedi."
Hora de ganhar o prêmio de melhor ator — Mai Tree, muito obrigado.
Eu esperava que Man Mek argumentasse ou pedisse para confirmar o que havia anotado, mas parecia um plano raso contra alguém como ela. A jovem ficou em silêncio por um momento, tornando quase impossível adivinhar o que estava pensando por trás daquela expressão indiferente.
Após um minuto, ela inclinou a cabeça levemente.
"Desculpe, devo ter deixado passar algo. Vou descer e pegar agora mesmo."
"....."
Não saiu como eu esperava; parecia como sobrecarregar uma pessoa já exausta. Desde a manhã, eu acreditava que Manmek não havia descansado, mas, se eu objetasse e dissesse para não se preocupar, pareceria estranho. Então, fingi dizer casualmente:
"Deixe pra lá. Vamos pular o chocolate hoje. Acabei de lembrar que comi sobremesa esta manhã."
Manmek foi complacente, o que me satisfez. Ela deu uma resposta breve e voltou a trabalhar na montanha de tarefas em seu computador com a mão esquerda.
Ela está fazendo um bom trabalho como minha assistente, pensei.
12h45.
Pesquisei na internet.
Como fazer amizade com colegas de trabalho.
Havia centenas de tópicos para ler. Fiquei surpreso comigo mesmo por gastar minha preciosa hora de almoço fazendo algo assim. Sentei-me na sala de descanso, comendo um sanduíche de ovo e presunto, onde a maioria das pessoas vinha para tomar chá, café ou fazer um lanche durante os curtos intervalos.
Ao meio-dia, a sala estava vazia, já que todos preferiam sair para comer, em vez de serem preguiçosos demais para pedir pelo aplicativo, como eu.
Minha assistente saiu para almoçar com um grupo de amigos. Natcha estava lá também, e todos pareciam dar uma atenção especial à pessoa que estava em sua companhia. Acho que eu era o único ainda fazendo Manmek parecer cruel e sem coração.
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Presa Comigo
Science Fiction"Nos beijamos quando o mundo inteiro parou o tempo... entre as pétalas do girassol sobre a mesa dela."