2. O NEGÃO DA ACADEMIA

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As semanas que se seguiram ao incidente no posto de gasolina foram um turbilhão de pensamentos que eu não conseguia colocar em palavras. Havia algo se agitando dentro de mim, algo que eu não sabia como expressar. Eu via o jeito como Claudete se movia, como olhava os outros homens, como usava seu corpo com aquela sensualidade que ela nem precisava tentar. Mas eu não conseguia falar sobre isso. A palavra "desejo" parecia inadequada, uma palavra pequena demais para o que estava se formando em meu peito.

E ela sabia disso. Claudete sempre foi mais rápida do que eu, sempre foi mais à frente, mais afiada. Eu via como ela me observava, como podia sentir minha confusão e, ao mesmo tempo, me provocar de um jeito que me fazia sentir como se estivesse dançando no fio da navalha.

Eu estava completamente desconcertado, mas havia algo mais profundo, algo que eu começava a compreender de maneira lenta, mas certa: o desejo de vê-la ser desejada, de vê-la explorando seu poder sobre os outros. Um poder que, até então, eu não tinha coragem de aceitar.

Foi numa noite silenciosa, quando nos encontrávamos apenas no murmúrio da casa e nas sombras que se projetavam nas paredes, que Claudete falou sobre isso.


Estávamos na sala, sentados lado a lado no sofá. Ela tomava um gole do vinho que tinha nas mãos, enquanto eu permanecia tenso, os dedos brincando com o copo vazio. Eu a observei, como sempre fazia, esperando uma abertura, algo que me desse coragem de tocar no que estava começando a brotar dentro de mim.

Foi então que ela virou-se para mim, seu olhar direto, como sempre, mas dessa vez havia uma faísca diferente, algo mais provocante.

– Sabe, Agenor, na academia tem um colega... – ela começou, a voz tranquila, como quem fala de algo corriqueiro, mas seus olhos brilharam de maneira inusitada. – Juvernal. Ele é caminhoneiro, então às vezes some, mas quando aparece... nossa, ele desperta um desejo que é difícil de ignorar. É um negão forte, atraente, você deve ter percebido ele, grande, sabe?

Eu a olhei, sem palavras, mas com o coração batendo mais rápido. O simples fato de ela mencionar outro homem, e tão descaradamente, fez uma chama dentro de mim se acender. Era algo primitivo, um desejo que eu nunca tinha ousado confessar, mas que, de repente, parecia fazer sentido.

Ela sabia que eu estava ouvindo com atenção, que cada palavra dela estava marcando algum lugar dentro de mim. E eu sabia que ela estava esperando por isso, esperando que eu reagisse.

– Ele sempre aparece e... o que mais me atrai é a confiança dele. O modo como ele olha para mim quando chega, como se já soubesse o que quer. E, às vezes, o jeito como ele me toca, sem dizer nada...

Eu senti uma onda de excitação misturada com um desconforto. Era algo que me consumia, mas ao mesmo tempo me empurrava para a frente, como se eu estivesse preso entre o desejo e o medo.

– Você está me dizendo que quer... que ele... – eu comecei a falar, mas a voz me traiu, embargada. Ela sorriu, um sorriso que misturava compreensão com prazer. Ela sabia exatamente o que eu queria dizer.

– Quero que você veja, Agenor. Quero que você veja o que acontece quando um homem me olha como ele olha. Quero que você veja o que acontece quando alguém mais toca em mim. – Sua voz era baixa, carregada de significado. – Quero que você seja parte disso, se você conseguir. Se você for capaz de lidar com isso.

Eu não sabia mais o que sentir. A tensão entre nós estava insuportável. Mas, por algum motivo, o simples fato de ela me convidar para essa experiência me fez querer aceitar. Eu sentia que, ao permitir que ela estivesse com outro homem, ao permitir que ela seduzisse Juvernal, algo em nosso casamento se transformaria para sempre. Eu não sabia exatamente como, mas estava disposto a descobrir.

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♠ESCRAVO DA PAIXÃO♠Where stories live. Discover now