7º Capítulo

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Passou uma semana desde que estive em casa de Christoph, surpreendentemente a minha vida não tem sido um completo inferno. Fiz 18 anos dois dias depois de as férias terem começado, sim já estamos de férias de natal, eu tinha planeado passar o meu aniversário sozinha, fechada no meu quarto a deprimir mas, não me foi permitido, Chris veio-me buscar e obrigou-me a sair de casa com o argumento de que ficar fechada não era saudável e que tínhamos que comemorar a minha passagem para a vida adulta. Tecnicamente, nós fomos para casa ver filmes e comer pipocas e gomas e beber sumos.

Neste preciso momento estou a fazer os sacos, apenas com o essencial não vou levar a cama e o guarda-roupa atrás de mim, os meus pais foram para um sítio qualquer durante uns dias e ignoraram completamente a "filha". Custa admitir mas doeu quando cheguei a casa, e achei logo estranho porque a casa estava muito silenciosa o que é raro, e quando vou à cozinha tenho um papel na mesa a dizer "Vamos passar uns dias fora, desenrasca-te" nem um amamos-te, não que eu estivesse à espera de um, nem um beijo nada apenas um desenrasca-te. Que sentimental dos meus pais. E para quê que eu estou a fazer os sacos vocês perguntam-se, se calhar não perguntaram mas eu respondo na mesma, eu vou finalmente sair deste pequeno inferno a que chamo de casa há 18 anos. Depois de muito, muito tempo a convencerem-me, mesmo a mãe dele ligava-me todos os dias e mandava-me mensagens, para eu ir morar com eles eu aceitei, pelo menos até conseguir alugar um apartamento ou assim.

Depois de tudo arrumado no quarto olhei em volta para ver se não me esquecia de nada, e não, as minhas poupanças já estão guardadas e as poucas memórias boas de família que tenho, que foram 3 meses enquanto os meus pais estiveram sóbrios, também já estão guardadas. Entro na casa de banho para guardar a escova do cabelo, escova e pasta dos dentes, produtos de higiene e uma caixa que posso dizer que contém a minha vida, a caixa onde guardo as lâminas, até tenho uma boa coleção, sinceramente não sei onde fui arranjar tantas lâminas mas tenho bem mais de dez.

Acabei de guardar tudo e peguei em tudo, que não é mais do que 4 sacos e uma mochila, e desci. Dei uma última volta pela casa e parei no meu quarto, apesar de tudo, apesar de só ter sofrido nesta casa, vou ter saudades, foi aqui que cresci, que aprendi a andar, a falar, a fazer tudo, foi aqui que me tornei o que sou hoje, e vai ser ao sair daqui que me vou tornar em alguém melhor. Eu já não quero saber, não mais, já chega de sofrer, chega de ligar ao que os outros dizem e sabem porquê? Porque eu sou a minha própria pessoa, eu devia ser verdadeira a mim mesma e não tentar ser aquilo que os outros querem que eu seja. Eu quero ser melhor, eu quero melhorar, quero ser quem eu queira ser, não quero ser um boneco desenhado pela sociedade e que por mais vezes que o melhore nunca vai ser o suficiente, NÃO, eu quero ser EU, e neste momento eu não sou quem eu quero ser, eu sou uma pessoa deprimida, que se corta porque pensa que não é boa o suficiente. Eu quero acreditar no que o Christoph me diz, ele diz que eu sou uma boa pessoa, ele diz que eu mereço ser feliz e eu quero acreditar nele e com a ajuda dele e da mãe dele eu vou conseguir, aos poucos mas vou conseguir...pelo menos quero acreditar que sim.

Quando dei por mim tinha a cara cheia de lágrimas, e o meu telemóvel estava a dar sinal de mensagem. "Miriam abre a porta. Está tudo bem? Toquei à campainha mas não vieste abrir, que se passa?" Wow estava mesmo dentro dos meus pensamentos. Sai do meu quarto e fechei a porta, desci as escadas e fui abrir a porta, e tal como dizia na mensagem Christoph estava à porta com uma cara preocupada.

- Hey está tudo bem? O que te levou tanto tempo? Porque é que estás a chorar? – As perguntas saíram a correr.

- Sim está tudo bem, apenas me deixei levar pelas memórias e pelos pensamentos, daí estar a chorar, e por isso não ouvi a campainha. – Ao ouvir a minha resposta um suspiro de alívio saiu da sua boca.

- Ainda bem! Estás pronta? – Deixei-o entrar, fechando a porta quando ele já estava dentro de casa e neguei com a cabeça à sua pergunta.

- Não, ainda me falta uma coisa. – Fui para a cozinha e sei que ele me seguia. Peguei no mesmo papel que eles me deixaram para dizer que iam sair por uns dias e escrevi: "Pai" e "Mãe". Fui embora, para sempre, desenrasquem-se!" Deixei o papel em cima da mesa e com ele deixei o meu cartão de telemóvel cortado aos bocadinhos e as chaves de casa para que eles percebam que já não tenho, nem quero ter, nada há ver com eles.

- Fizeste bem Miriam. Estou orgulhoso! – Deu-me um abraço curto mas reconfortante.

Fomos à sala pegar nas minhas coisas e saímos do meu inferno, e espero que nunca volte cá. Pusemos as coisas no banco de trás de fizemos caminho até casa dele.

Este é um novo capítulo da minha vida, espero escrevê-lo de forma correta desta vez, sem erros, sem "mas" e "ses". Espero conseguir ser feliz, sei que não vai ser fácil, mas eu vou lutar. A primeira batalha vai ser ficar confortável com o meu corpo. Eu tenho noção de que não tenho excesso de peso, mas não sou magra, tenho gordura a mais em alguns sítios, não muita, mas tenho. E eu não vou mudar o meu corpo, vou fazer amizade com ele, porque sabem se alguém quiser gostar de mim, o que eu duvido porque, por favor, quem é que vai gostar de alguém como eu, essa pessoa vai ter que gostar de mim como eu sou, com ou sem gordura a mais, com ou sem cicatrizes, estrias, qualquer imperfeição que eu tenha, essa pessoa vai ter que a aceitar porque esta sou eu. Uma pessoa que foi consumida por um veneno e eu deixei-o tomar conta do meu corpo, esse veneno começou a destruir-me e eu deixei, eu não lutei contra isso porque eu achava que merecia, eu pensava que merecia tudo o que se estava a passar comigo e na minha vida, mas não, eu não mereço nada disso, eu mereço ser feliz. Como é que eu me apercebi disso? Eu bati no fundo, bem no fundo, e isso fez-me acordar para a vida e para tudo aquilo que posso vir a fazer, a ter, e por isso eu vou lutar. E que veneno é esse que me consumiu? Um coração partido, essa foi a merda de veneno que consumiu o meu corpo, consumiu o meu coração e destruiu-o. Eu só gostava de ter a cura para este veneno, mas eu não tenho, e por muito que lute este veneno, este coração partido, nunca me vai deixar, porque há coisas que ficam para sempre connosco.

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Wow, sinceramente eu acho que até gosto deste capítulo, pode não parecer nada demais mas é acreditem! Eu estou a "escrever" um melhor capítulo da minha vida e pensei "Porque não fazer o mesmo com a Miriam?" e bem eu fiz!

Espero que gostem! Votem e comentem e até à próxima!

Xx.

O Veneno do Amor - DESCONTINUADAWhere stories live. Discover now