Uma cruz no caminho

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Parecia mais um dia normal para Natália. Saíra de casa às 12h30min e se dirigia a pé para a empresa de contabilidade em que trabalhava, num expediente que começava às 13h e terminava às 21h. Estava apressada, perdera o horário do almoço e não sabia se chegaria a tempo no trabalho - justo no dia que precisaria trabalhar em dobro, pois uma amiga havia se acidentado - mas mesmo assim uma coisa chamou sua atenção e a fez parar de imediato. No centro de um terreno baldio, a três quadras do seu destino, havia uma cruz. Uma grande cruz, deveria ter uns quatro metros de altura. Era bonita, bem trabalhada, feita com uma madeira de beleza ímpar. Mas um fato a perturbava. Natália fazia o mesmo trajeto todos os dias e nunca havia visto aquela cruz.
Terá sido construída ou transportada de um dia para o outro? Achava improvável. Outra coisa que ela notou foi que as outras pessoas passavam pela cruz e simplesmente a ignoravam. Parecia que só Natália conseguia ver a cruz. Uma angústia começou de repente e sua boca começava a secar quando seu relógio apitou. 12h55min. Natália pôs-se a correr em direção à empresa onde trabalhava, deixando a cruz cada vez mais para trás (distanciando-se da cruz, que ficava pra trás).
Seu relógio marcava 22h15min quando Natália trancou a porta da empresa. Uma funcionária havia sofrido um acidente e Natália teve que fazer o trabalho de ambas. A rua estava deserta, o que fez a mulher andar mais rápido que o usual, mas ao cruzar a quadra onde a cruz estava situada, Natália não se conteve e olhou em sua direção, e o que ela viu bambeou suas pernas e a fez gelar como nunca antes em sua vida.
O monumento estava em chamas!
O fogo ardia forte na madeira, fagulhas voavam e as labaredas lambiam alto o céu estrelado. Mas não era isso o que aterrorizava a mulher. Duas figuras estavam em pé, de frente para a cruz flamejante e de costas para Natália. Pelo visto usavam trajes parecidos com as vestimentas dos monges da Idade Média, junto com um capuz que lhes cobria totalmente a cabeça. Como sinal do pavor que sentia, a garganta de Natália secou e suas pernas não respondiam aos seus comandos, então ela começou a gritar. Mas isso foi pior, bem pior. Os gritos atraíram a atenção dos monges.
Lentamente, eles viraram para a mulher e começaram a andar na direção de Natália. Ela suava frio e estava a ponto de vomitar quando suas pernas "acordaram". Mas quando ela se virou para correr na direção oposta, deu de cara com outros deles. Natália olhou dentro do capuz, mas não viu nada. Apenas escuridão. Não havia rosto. A mulher tremia e suava frio quando, de repente, dois pontos laranjas surgiram no capuz, e uma bocarra imensa se apresentou. Ela gritou o mais alto que pôde e se deixou levar pelo estado de choque. Quando acordou, percebeu que estava sendo carregada. Sentou-se e olhou para baixo. Estava em um caixão e oito monges a carregavam. O desespero a acometeu e só conseguia murmurar "Ah, meu Deus" quando olhou para frente e viu para onde estava sendo levada...
A cruz. A cruz flamejante a aguardava.

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