Mágoa

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Acordei e ainda era noite.

Olhei para o relógio ao lado da cama e vi que ainda eram quatro horas da manhã. Fazia apenas uma hora que tínhamos voltado para o hotel. Felicity dormia ao meu lado, a janela da sacada estava aberta e o vento era frio, as luzes do quarto ainda estavam acesas e eu podia ver a pele dela arrepiar-se com o clima do quarto; mas ela não se moveu.

Levantei-me e constatei que não estava tão mal como previ. Fui até a janela e a fechei, tomando cuidado para não fazer muito barulho, mesmo tendo certeza de que Felicity não moveria um músculo até o amanhecer.

Eu estava desperto, e podia sentir o cheiro de álcool que emanava de mim.

Tomei um banho e vesti uma calça. O aquecedor do quarto estava fazendo seu trabalho muito bem, e eu agradeci, pois só conseguia dormir sem camisa, e o frio lá fora não permitiria que isso acontecesse se não houvesse aquecedor aqui dentro.

Voltei para a cama quase uma hora depois, o sono não vinha, mas eu achei algo para me entreter.

Felicity dormia de bruços, e seu rosto estava virado para mim, de modo que eu podia observar sua expressão tranquila. A lembrança de minha boca consumindo a dela; aquela fome, aquele sentimento de desejo que eu nunca havia sentido em tamanha proporção... Observei-a e fiquei pensando nisso até adormecer novamente.

Minhas mãos procuraram pelo corpo ao meu lado, mas não o encontraram. Eu ainda podia sentir o calor que ela deixou, então imaginei que ainda não tinha conseguido fugir. Abri os olhos lentamente e sorri ao vê-la parada ao lado da cama.

– Hey. – eu falei, ainda tentando acordar.

Foi só depois de alguns segundos sem resposta e de uma segunda olhada para seu rosto que eu notei a pequena ruga de preocupação entre suas sobrancelhas.

– Está tudo bem? – perguntei. A expressão de Felicity foi de preocupada à indignada assim que soltei aquelas três palavras.

– Se está tudo bem? – ela pergunta, com a voz subindo algumas oitavas – Você é louco? Você me arrasta até uma boate, me enche de tequila e me leva pra sua cama e ainda vem me perguntar se está tudo bem? Pois adivinhe, não está!

Por um momento eu apenas absorvo todas as suas acusações. Sei que é verdade, mas o fato de ela pensar que eu seria tão canalha à ponto de me aproveitar dela bêbada para levá-la para a cama, me fez perceber que ela estava vendo o Oliver irresponsável, que adorava bebidas e mulheres e que não dava a mínima para elas. Aquele pensamento me magoou de uma forma que nenhuma mulher jamais conseguiu. Mas eu não deixei transparecer, muito pelo contrário, sorri para ela em deboche, como o antigo Oliver faria.

– Felicity, nós não transamos ontem à noite. – esclareço à ela – Eu posso ser um canalha, mas nunca levei ninguém praticamente em coma alcoólico para a cama. Gosto de mulheres acordadas para se fazer esse tipo de coisa...

Sua expressão tornou-se visivelmente mais leve. Ela soltou um suspiro enquanto olhava para si mesma, só então parecendo perceber que ela ainda usava o vestido vermelho da noite anterior. Meu orgulho ficou ferido ao notar o quanto ela pareceu aliviada por não termos feito nada naquela cama além de dormir.

Fiquei observando Felicity por um tempo, ela não pareceu se dar conta de que tinha meus olhos inspecionando-a. A lembrança de minhas mãos em seu corpo e do toque macio de seus lábios vieram à tona.

Levantei-me da cama e fui em busca de água. Eu podia sentir o olhar dela em mim, um sorriso involuntário apareceu em meu rosto quando eu a encarei e vi suas bochechas adquirirem um tom violento de vermelho.

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