Capítulo XIII

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Tinha havido uma emboscada perto da Guiné, perto do local onde Vitorinha que encontrava destacada. Foi informada que existiam muitos feridos, e que necessitavam dela para evacuar alguns dos mais graves.

Já habituada a estas andanças, para Vitorinha esta era já uma de entre muitas missões.

Correu de cabeça baixa como lhe haviam ensinado até ao Dakota, e carregando malas com medicamentos e utensílios médicos sentou-se no banco que lhe estava destinado.

Quando o helicóptero levantou voo, Vitorinha nem tinha muito tempo para pensar, mas sabia que corria sempre perigo e casa missão representava mais uma tentativa que fugir à morte para salvar alguém da morte, essa era a sua verdadeira missão, salvar e sair de lá salva.

Quando chegaram ao local destinado, eram na sua maioria feridos ligeiros, foram triados rapidamente por Vitorinha e apenas três deles foram considerados graves o suficiente para viajarem no Dakota e serem encaminhados rapidamente para o posto médico mais próximo.

Um dos feridos tinha uma bala alojada no abdómen e sangrava abundantemente, Vitorinha fez uma uma contensão para que tentasse estancar mais a hemorragia, mas não sabia se aquele pobre soldado se safaria, os outros dois cada um tinha sido ferido na perna e jorravam sangue abundantemente. Vitorinha, conteve as hemorragias o mais rapidamente que pode, não sem antes se encontrar num verdadeiro lago de sangue.

Quando levantaram voo, Vitorinha rezou por aqueles três pobres almas, mas o mais grave parecia-lhe inspirar verdadeiros cuidados, esperava fervorosamente que se escapasse desta, ainda era tão jovem...

Quando chegaram ao posto médico, já todos eles tinham soro em curso e tinham as hemorragias parcialmente estancadas, a prontidão de atuação era a mestra de todas as ordens ali.

Transportaram os feridos e Vitorinha foi tomar um banho o mais rapidamente que pode, tinha que estar sempre pronta para a acção de transportar doentes dos cenários de guerra para os postos médicos e esta tinha sido mais uma tarefa bem sucedida. Todos os dias agradecia a Deus por estar viva e sem ferimentos, e por nunca se ter encontrado num cenário entre fogo cruzado.

O único verdadeiro perigo que tinha corrido foi quando o piloto andava perdido em pleno voo e foi Vitorinha que mantendo o sangue frio e relembrando-se de alguns pormenores, juntamente com o piloto conseguiram fugir da zona de perigo do inimigo para onde já se dirigiam.

Ali a rapidez de raciocínio e o desenrasca era vital.

Estava visivelmente mais magra, o seu cabelo loiro que inicialmente tinha sempre impecavelmente apanhado, tinha sido recentemente cortado, por uma questão mais pratica e agora já não a atrapalhava. O camuflado e a restante roupa militar apenas a distinguia dos restantes membros pela voz de mulher, porque de resto ali todos eram vistos como iguais, e nunca alguma vez se sentiu inferior a nenhum deles.

Fazia o seu trabalho corajosamente e era respeitada por todos por isso mesmo, assim como acatava as ordens que recebia tanto dos médicos, como dos generais e restantes oficiais, ali tinha que funcionar assim se queriam que tudo corresse dentro da ordem estabelecida e se quisessem sobreviver e Vitorinha queria muito voltar a ver as amigas, os pais e o país que a viu nascer.

Viu já homens mutilados por rebentamento de minas, assim como destroços que ficam alojados no cérebro e os deixam tetraplégicos e muitas vezes logo e permanentemente insconscientes. Outros por acidentes de viação quando fugiam de emboscadas e tinham a sorte de ir para terrenos de minas. Estas são as evacuações mais dolorosas para Vitorinha, jovens que vão defender a pátria e se vêem incapacitados para viver a sua vida.

Associado a todos estes acontecimentos, a malária ou paludismo era a doença mais frequente, toda a gente podia contrair através da picada do mosquito e em qualquer altura da comissão.

A sensação de dores de cabeça, náuseas, vómitos, calafrios e dores musculares eram os sintomas mais frequentes. Estes doentes não requeriam obrigatoriamente evacuação para um hospital central mas os doentes chegavam a atingir quarenta e quarenta e um graus de febre, durante três e quatro dias, o que conduzia a uma recuperação física muito lenta até mesmo uma semana.

As doenças parasitárias intestinais, como as lombrigas, a giardia, gastroenterites, intoxicações alimentares, amebíase intestinal eram também recorrentes.

As tropas apenas iam vacinadas para aquilo que se sabia que havia, como a febre amarela, a coléra, a febre tifóide, pelo que não havia preparação para estes tipo de outras doenças.

As insolações também eram comuns e até as doenças sexualmente transmissíveis. As chuvas traziam problemas dermatológicos como eczemas, pé-de-atleta, micoses, dermatites.

Nas unidades de saúde, fazia-se o que podia, e quando estavam no mato safavam-se como podiam também, a lei do desenrasca nunca foi tão utilizada como ali.

Mulheres que voaram para lá do seu tempoOnde histórias criam vida. Descubra agora