Inimigos de infância

Bônus Matias | No hospital

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Se há algo que não suporto muito é estar sobre uma cama hospitalar. Não suporto o colchão azul de material sintético e anti-alérgico. Sem contar o papel colocado sobre o colchão que possui uma textura desagradável.

Ainda bem que Calissa trouxe uma manta. Acho que estaria com frio agora se não fosse por ela. Pelo menos isso.

A enfermeira veio agora pouco e injetou uma agulha na minha veia. Meu braço direito está bastante gelado devido o ar-condicionado e o soro geladinho que corre em minhas veias.

Mal percebi que tinha adormecido. E ao abrir os olhos, me deparo com Calissa dormindo em uma poltrona ao lado de minha cama.

Não há quase ninguém naquela sala, exceto eu, ela e a enfermeira.

Pergunto-me como ela consegue dormir em uma posição tão desconfortável.

E sem perceber, me pego admirando-a. Será que ela está com frio?

Intercalo meu olhar entre ela e meu cobertor, tentando ver a melhor forma de enrola-la e ainda deixar um pouco de lençol para mim.

ㅡ Matias Ferrashi? ㅡ A enfermeira se aproxima com uma bandeja metálica.

Calissa desperta franzindo o cenho enquanto tenta se acostumar com a luz.

ㅡ Eu, sim. ㅡ Digo tentando disfarçar e puxando o cobertor mais para mim.

ㅡ Exame de sangue. ㅡ Diz a enfermeira chegando mais perto com aquela bandejinha metálica e os objetos pesonhentos.

ㅡ Vão me furar novamente? Eu não aguento mais... ㅡ Digo forçando um drama e estendendo o braço.

ㅡ Isso é sério? Olha o seu tamanho! ㅡ Ela zomba. ㅡ É só uma picadinha de abelha.

ㅡ Picadinha de abelha? Você já levou uma picadinha de abelha pra saber? ㅡ Falo um pouco alterado. ㅡ Picadas de abelha causam febre e erupções na pele!

ㅡ Aplica um rivotril nesse moleque, por favor? ㅡ Ela diz calmamente se direcionando à enfermeira.

A senhora gordinha de bochechas rosadas ri e em seguida pergunta:

ㅡ Seu namorado?

ㅡ Acha que eu namoraria um verme ingrato desses, tia Joana? Eu mereço coisa melhor! ㅡ Ela fala e em seguida me olha de soslaio, como se tivesse chateada, fazendo uma careta. ㅡ Ele é afilhado do meus pais, e agora meu vizinho.

Verme ingrato? Se eu não tivesse tão debilitado eu mostraria quem é o "verme ingrato"!

Mas uma coisa eu não compreendi.

ㅡ Espera. A senhora é tia dela? ㅡ Perguntei a enfermeira.

ㅡ Não. ㅡ Respondeu a enfermeira enquanto preparava a agulha. ㅡ Nos conhecemos ano passado quando ela teve que se internar por conta de uma crise de asma. ㅡ Ambas riem.

Tinha esquecido deste detalhe.

Calissa tem asma. Lembro das inúmeras vezes que minha mãe já foi ficar com ela no hospital.

ㅡ E é por experiência própria que eu digo pra você parar de drama. ㅡ Ela se aproxima com as mãos atrás.

Essa menina me irrita. Mas irrita de uma forma cativante. Não sei explicar.
Uma hora odeio, outra hora gosto.

Quando eu era pequeno, fazia de tudo para chamar sua atenção. Mas ela não parecia perceber.

Acho que depois da quinta série nos distanciamos mais um pouco.

Mas eu superei isso, quando percebi que ela estava muito possessiva pra cima de mim. E eu detesto gente assim.

ㅡ Não tem ninguém aqui com drama, sua maluca. ㅡ Digo estendendo o braço e me preparando psicologicamente para ser furado.

ㅡ Olha aqui, você me respeite que agora você me deve um favor! Você deveria ao menos me agradecer por ter te trago ao hospital! ㅡ Ela disse pondo o indicador no meu rosto.

ㅡ Aoh! ㅡ Grito enquanto a enfermeira injeta a agulha em minha veia. ㅡ Te respeitar pra quê se você acabou de me ofender??

ㅡ Pronto! ㅡ Disse a enfermeira. ㅡ Quando acabar este soro, me chamem.

Assentimos.

ㅡ Se quiser respeito, me respeite também. ㅡ Falo enquanto preeciono o algoodão.

ㅡ Eu te respeito. Você que constantemente me ofende!

ㅡ Eu?

ㅡ Não. O Batman. ㅡ Ela cruza os braços e revira os olhos. Como ela consegue ser tão fofa? ㅡ Entretanto... você me deve um favor.

ㅡ Certo. E o que seria?

ㅡ Ir comigo na festa da Stella, amanhã. Muito provável que meus pais não me deixem ir só.

ㅡ Quê?! Eu estou hospitalizado!

ㅡ E? ㅡ Ela fala com desdém. ㅡ Quando tu receber alta, vai estar bonzinho! E a festa é amanhã e não hoje.

ㅡ Veremos!

ㅡ Isso é um sim? ㅡ Ela pergunta entusiasmada.

ㅡ É um talvez.

Ela entorta a boca fazendo um biquinho e franze o cenho.

ㅡ Você ainda vai me ajudar a estudar para as recomposições, certo?

ㅡ É né.

🐻💫 BÔNUS PARA COMEMORAR O PRIMEIRO LUGAR.

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