Cadê essa camisa meu Deus?

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Domingo

Meu domingo começou bem cedo. O que geralmente não acontece. Acordo tarde (bem tarde). Estava esperando esse dia chegar como um louco. Contando as horas, os minutos, os segundos (tá não é pra tanto, só os minutos). Finalmente verei Carolina de novo. Posso parecer um cara idiota eu sei. Um desesperado também. Mas é assim que estou me sentindo mesmo. Um desesperado. O desespero às vezes pode ser um sinal positivo. Porque ele é capaz de nos impulsionar a fazer algo: Exatamente o que eu quero. Sair dessa monotonia. Sair dos bastidores como dizem os atores. É a hora do show!

Com o passar das horas não parava de olhar o meu celular. Não consigo deixar, essa mania de ansiedade. Não consigo deixar de ser tão ansioso e nervoso. Tanto para uma simples apresentação de seminário na escola quanto para conversar com uma bela garota. Espero que isso seja apenas uma fase da minha vida, porque isso é um saco. Verdadeiramente um saco ser assim. Às vezes me pergunto se isso acontece apenas comigo ou se com todo mundo essa lastima também existe.

Todos os domingos meu pai e nova família dele passam o dia na casa da dona Marcela, que é mãe da Laura. Eu não gosto de ir com eles. Prefiro ficar em casa, curtindo o meu domingo sozinho. O bom é que fico com a casa só pra mim até as nove da noite. Meu pai não gosta muito da sogra, mas ele é praticamente dominado pela minha madrasta, faz tudo o que ela quer. O poder de persuasão daquela mulher sobre o meu pai não continha limites. Penso nele como uma marionete nas mãos de uma dominadora. Talvez ele apenas a ame verdadeiramente (coisa essa que é difícil acreditar). Ninguém manda no coração de ninguém e, se ele gosta de ser sufocado o gosto é apenas dele. Às vezes pergunto-me se me espera algum dia o mesmo destino que o Senhor Julio Guedes. Espero profundamente que não. Adoro o meu pai mais ele não é um exemplo que eu queira seguir. Tenho a impressão que ele não se sente feliz e realizado, pelo menos não completamente. Ele se esforça tanto. Trabalha mais que uma mula de carga que nunca sai do lugar. Eu sou muito ambicioso e quero crescer na vida. Quero ser um homem importante e respeitado. Não quero ser um simples operário humilhado pelos patrões exploradores. Isso é o que mais acontece com os adolescentes que só pensam em farra e desistem dos estudos cedo demais. São rotineiras nos meus anos escolares as turmas se iniciarem lotadas de alunos e no final do ano menos da metade esta presente concluindo o ano letivo. Sei que nunca fui um desistente e nunca quero ser. Mesmo quando entro em um cursinho que não goste, sempre fiz de tudo para ir ate o final. Não sou de deixar as coisas pela metade. Se começar, termine. Esse é meu lema.

A única coisa que não penso em terminar é de: conhecer Carolina cada vez mais. Quero desvenda-la. Conhecer seus segredos, seus pensamentos, seus sonhos. Nunca me senti assim a respeito de ninguém. Alguma coisa me atrai como um campo magnético para aquela garota linda. E ao pensar nela pego uma barrinha de chocolate e começo a fazer uma comparação bem doce. "Você é como um chocolate que só me atrai".

Após um longo banho e com o volume do som do meu pai nas alturas começo a me produzir digamos assim, para o meu encontro mais que esperado por mim. Parece que nenhuma roupa fica bem. Desarrumo todo o meu armário atrás de uma das minhas camisas preferidas. Jogo peças de roupas pelos ares, esta virando uma verdadeira zona. Bem eu posso fazer isso, afinal sou eu quem arruma meu quarto mesmo. Odeio bagunça, sou bem organizado mais não quero me atrasar. Olho para o meu relógio de parede que fica acima de um pôster meu do filme dos "300". Sim eu curto essa parada de filmes que acrescentam a historia da sociedade. Começo a ficar nervoso. Onde se meteu essa camisa. Ontem mesmo eu a vi meu Deus. Parece uma vingança do meu guarda roupa contra mim. Por que quando procuramos algo focado naquilo, que só queremos exatamente aquilo é isso acaba acontecendo? Dificilmente encontramos depressa. Parece que tudo atrapalha agente. Que droga!

Sento-me na beirada da cama levo a mão ao cabelo que ainda permanece molhado. Dou uma boa olhada ao redor de mim e encontro à maldita camisa. Aleluia! Isso me servirá de lição, para separar minhas roupas antes de sair. Não esqueça Murilo Guedes. Não esqueça. Visto-me as pressas. Dou ate uma dancinha ridícula ao som do Eminem. Não me sinto feliz assim desde quando fiz uma viagem à casa de uma tia minha. Foi apenas um fim de semana. Os dois dias melhores e mais divertidos que já tive até hoje.

Desligo o som e dou uma ultima checada no visual em frente ao espelho da sala. Perfume? Ok. Cabelo? Ok. Carteira? No bolso. Tudo nos conformes. Estou pronto. Ainda olhando para meu reflexo no espelho digo "Vamos lá Murilo força na peruca que você não tem." E saio após trancar todas as portas e janelas.

Assim Como as BorboletasWhere stories live. Discover now