23. Na verdade

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Nate vinha se recuperando bem e eu tinha tempo o suficiente para me dedicar a ele. Decidi que ficaria no orfanato para ajudá-lo e, assim que estivesse recuperado, iria embora. Não sabia bem se aquilo tudo era culpa pelo que estava por vir, mas preferia acreditar que era apenas o meu lado bondoso e agradecido que fazia aquilo.

Theo já não falava comigo, preocupado em preparar suas aulas e cansado demais para me esperar acordado. Nossa comunicação de limitava a um oi e tchau. Daisy também passou a aparecer pouco e deixou que eu passasse mais tempo com Nathaniel.

Não sabia se estava iludindo o garoto, se devia me afastar, mas acreditava que de nada iria adiantar. Tentava ao máximo não lhe dar esperanças, mas era complicado quando tanto estava envolvido. Ele perceberia se eu mudasse de uma hora para outra e talvez não fosse bom para a sua recuperação.

Mas foi em uma tarde de caminhada pelos jardins do orfanato, logo depois de receber alta completa do hospital, que eu decidi que havia chego a hora. O médico havia dito que ele poderia voltar à sua rotina - a qual ele já havia retornado antes mesmo de retirar o gesso e se livrar das bandagens - e aquilo significava uma coisa para mim: eu poderia finalmente dizer toda a verdade para ele.

Decidi me sentar com ele embaixo de uma árvore em uma parte mais afastada. Estávamos acostumados a descansar depois de uma caminhada, mas naquele dia eu resolvi não aceitar seu abraço. Não tinha tempo para receber seu carinho, tinha que dizer à ele tudo o que precisava saber.

O tempo que demorara para lhe contar fora o suficiente para saber que deixaria estragos na nossa relação, mas eu poderia lidar com isso... Certo? Só saberia quando passasse e o momento havia chego. Foi depois de colocar aquilo na minha cabeça, de entender que a partir dali estaria tudo acabado e não havia nada que eu pudesse fazer, que eu tomei coragem para conversar com ele.

- Nate, eu preciso conversar com você sobre algo. - Comecei tomando suas mãos entre as minhas.

Sua expressão era confusa, mas eu não me deixei abalar e ignorei o frio na barriga que ameaçava me fazer desistir.

- Há muito tempo eu quero te dizer isso, mas nunca parece ser o momento certo. - Mordi o lábio inferior, tentando colocar os pensamentos em ordem. - Quando eu fui atrás da minha mãe, conheci Elizabeth e reencontrei Theodore, como você pôde ver. E sei que havíamos feito algumas promessas, foi por isso que quando eu percebi que não as cumpriria, que deixaria você para trás, eu escrevi uma carta.

- O que está dizendo, Grace? - Seu timbre de voz era trêmulo e eu podia ver seus olhos marejados.

- Eu escrevi uma carta terminando com você, mas ela nunca foi entregue. Confiei nas pessoas erradas para fazer o trabalho para mim e acabei com um grande problema. - Respirei fundo, apertando sua mão entre as minhas para que ele não me soltasse. Queria tocá-lo, senti-lo enquanto contava toda a verdade. - De alguma forma eu o traí, Nate. E quando eu voltei, quando eu descobri o que havia acontecido, pensei que havia tentado suicídio e a culpa era minha. Mas em seguida chegou ao meu conhecimento de que a carta nunca foi entregue e eu nunca achei o momento certo para lhe contar toda a verdade.

Seu toque esfriou e ele logo desvencilhou sua mão da minha, levantando de uma vez só e me assustando. Me levantei, indo atrás do garoto que parecia andar sem rumo, as mãos embrenhadas em seus cabelos enquanto tinha a reação mais imprevisível. 

- Nate, me perdoa. Por favor! - Pedi, tentando alcançá-lo. - Eu nunca faria algo para te magoar. Eu pensei em você o tempo todo!

Nathaniel congelou no lugar e se virou para mim. Alguns olhares haviam sido atraídos na nossa direção até ali, mas eu não me incomodava, queria resolver tudo com ele. Sabia agora que havia sido burrice escolher um lugar público.

Onde Está Laura?Onde histórias criam vida. Descubra agora