when I woke up {...}

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Nota da autora:

One-shot superficialmente baseada na música Drifting by ON AN ON.


xx


A brisa golpeava o meu corpo gentilmente, os meus pés afundavam na grama ainda molhada e o ar cheirava a flores silvestres. O toque no meu braço, entretanto, era o que guiava-me por aquele lugar. Aquele toque que, a cada milissegundo, enviava arrepios por toda a minha espinha. Aquele toque seguro e familiar. Aquele toque que, mesmo estando com os olhos fechados, permitia que eu soubesse que era Harry.

"Lou, você ainda está com os olhos fechados?" ouvi a voz rouca perguntar, oscilando, por causa do rápido ritmo dos nossos passos.

"Claro, meu amor. Estou curioso para saber o que vamos fazer, mas não vou estragar a sua surpresa."

"Ótimo! Já estamos chegando" exclamou, e pelo tom de voz dele, sabia que Hazz estava feliz.

"Parece ser um lugar bonito. Gostaria de estar vendo a paisagem, principalmente com você nela. De preferência, nu" soltei sem pensar duas vezes e quando percebi, senti meu rosto queimar.

"L-Lou, est-tamos perto do luga-r, espere, apres-sado" Harry gaguejou. Hazz era tão adorável, eu já conseguia imaginar a expressão envergonhada no rosto dele e com isso sorri involuntariamente. "Não ria! Você provocou isso, seu cretino!"

"Foi sem querer, mas admito que não me arrependi. Consegui até te imaginar com vergonha. Tão fofo" falei e ouvi-o grunhir.

Finalmente, ele desacelerou a velocidade e eu pude recuperar o fôlego. Então, percebi que nós iríamos fazer um piquenique ou algo assim, porque o aroma de guloseimas alcançou as minhas narinas. Meu estômago deu um giro. Piquenique. Havia sido assim que Harry tinha me pedido em namoro algum tempo antes.

Senti meu corpo ser empurrado por Hazz para baixo e acabei sentando-me em uma almofada que estava ali justamente para isso.

"Não acho que você precisava mesmo dessa almofada, já que sua bunda é enorme e ela amortece qualquer lugar, mas resolvi deixar você mais confortável. Fiz bem ou você prefere sem?"

"Ei!" repreendi. "Depende, você também tem uma almofada?"

"Tenho."

"Então tudo bem, vou usá-la. Se você não tivesse uma, eu deixaria essa com você, já que você não tem bunda e então não aguentaria ficar sentado nem por dois minutos."

"Isso foi baixo. Quase tão baixo quanto você."

"Como eu pude apaixonar-me por uma pessoa assim, Jesus?" dramatizei jogando as mãos ao alto. "Aliás, já posso abrir os olhos?"

"Não. Ainda não" ele sussurrou, de repente, com o rosto a poucos centímetros do meu. Eu conseguia sentir a respiração dele tocando a minha face, meus pelos eriçados pela aproximação.

"Isso é tortura, sabia? Quero ver seus olhos, sweet."

"Logo" Harry respondeu, e em seguida, os lábios dele tocaram os meus.

Eu nunca me cansaria de experimentar aquelas sensações: todos os sentimentos que vinham à tona com um simples toque, com um simples beijo. Só Harry era capaz de causar esse tumulto - bom - em mim. Eu o amava tanto que chegava a doer.

Senti as duas mãos dele em minha cintura, então coloquei um dos meus braços na nuca dele, enquanto o outro repousou em cima de uma das mãos dele. Nós aprofundamos o beijo, aproveitando cada segundo. Não havia pressa, não havia necessidade de transformá-lo em algo a mais. Não naquela hora.

Quando julgado necessário, afastamos nossos rostos, mas mantivemos a pouca distância entre nossos corpos. Ele rapidamente pegou uma caneta e desenhou algo em meu braço.

"Escrevi a primeira palavra que eu te falei. E, agora, no meu, escreva a primeira que você me falou. Elas têm tanto significado, não?" ele disse e eu assenti.

Mesmo sem abrir os olhos, fiz o que ele pediu.

"Oops!" sussurrou alguns segundos depois de eu ter finalizado. Provavelmente estava analisando o que eu havia escrito.

"Hi" murmurei, já emotivo.

"Não se esqueça de que eu te amo. Nunca" ele suspirou. "Você já pode abrir os olhos."

Não existem palavras para descrever a beleza do que vi. A paisagem atrás de Harry era linda, e Harry estava lindo. Os cachos soltos balançando sob a leve brisa, os lábios rosados, o suéter verde combinando com a cor dos olhos dele.

Entretanto, em uma segunda olhada, percebi que havia algo errado. Faltava algo. Faltava o brilho nos olhos de Harry. Era sufocante. Todo o resto estava perfeito, menos os olhos. Como se a vida tivesse sido sugada do olhar dele.



Foi então que eu acordei. Tremendo. Ao sentar-me na cama e conferir o meu braço - onde havia sim uma tatuagem escrita "Oops!", mas que não era recente - senti-me vazio. Assim como já estava há algum tempo. O sonho havia sido como uma última gota d'água evaporando no deserto seco. Não havia mais esperanças e nem haveria de ter.

Encarei a pessoa dormindo ao meu lado e ela não era Harry.

Harry não estava comigo novamente. Nunca mais seria Harry ao meu lado.

E também, como poderia ser? Fazia exatamente um ano que ele havia partido.

Deixei meu corpo cair na cama em um baque surdo novamente. Não havia mais forças para lutar contra os sentimentos, apenas deixei que eles viessem e preenchessem-me. Deixei todas as memórias virem e apenas as revivi.

Veio o amor, a felicidade, a sensação de pertencer a algum lugar no mundo. Veio também a raiva, o ciúmes, a saudade e a mágoa. Ah, a mágoa. Aquela que, por muito tempo, não permitiu que eu me lembrasse de Harry sem sentir-me mal, sem valor algum, como se eu não tivesse sido o suficiente. Aquela que por incontáveis noites me tirou o sono.

Mas, no final, o que sobrou foi apenas amor. Foi Harry dizendo que me amava, assim como no sonho, pois eu jamais poderia esquecer-me dessas exatas palavras.


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