Capítulo 4

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"Não posso definir aquele azul, não era do céu nem era do mar. Foi um rio que passou em minha vida e meu coração se deixou levar."

Foi um rio que passou em minha vida - Paulinho da Viola


Clara

Passo quase o voo todo pensando se deveria ter desistido dessa viagem maluca e ter ficado mais tempo com Filippo, mas agora é tarde. Certamente nos veremos de novo, ele foi um fofo comigo e por mais que não aconteça nada nunca mais, poderemos ser pelo menos amigos.

"Tanta gente boa nesse mundo e eu perdendo meu tempo com o Eric."

Recuso o jantar oferecido no avião e fico apenas com a sobremesa: chocolate! Comi pizza demais e não sinto fome alguma. Levantar da minha poltrona e ir ao banheiro chega a ser engraçado. Não sei como conseguimos fazer aquilo tudo com tanta gente do lado de fora. Tem que ter muita coragem.

"Que vergonha!"

Durmo o resto do tempo em que não estou pensando em Filippo. Não consigo relaxar como no primeiro voo e acordo toda hora para verificar quanto tempo falta para chegar, estou muito cansada.

Depois de mais quatro horas de voo, nós aterrissamos em Atenas. Já é bem tarde e eu começo a pensar se será fácil pegar um táxi. Estou esgotada, mas ainda levo quase uma hora até conseguir pegar minha mala. Só há dois voos na área de desembarque, o meu e um que veio de Londres. Fico imaginando quanto tempo eles devem demorar quando o pátio está lotado... Quando tiro minha mala da esteira tenho vontade de abraçá-la e dormir ali mesmo.

Resolvo pegar um dos carrinhos do aeroporto para não ter que carregar minha bagagem de mão, minha bolsa e mais a mala, pois eu mal consigo carregar a mim mesma. Tento puxar um dois carrinhos que estão enfileirados, mas ele não solta. Parece estar preso no da frente. Forço para um lado e para o outro e nada. Faço mais força e a minha mão acaba escorregando e eu caio para trás em cima de alguma coisa, ou melhor, alguém. Olho e vejo que estou sentada em um par de sapatos sociais pretos. Vou subindo os olhos e encontro uma calça social cinza, um paletó também cinza, que está aberto, uma camisa branca e uma gravata azul folgada no colarinho. Perco uma eternidade olhando para aquela gravata. Fico hipnotizada com aquele azul e não consigo parar de olhar para ela. Volto à realidade quando ele me levanta do chão de uma vez só, segurando os meus braços e resmungando alguma coisa que eu não consigo entender.

"Meu Deus! Ele é lindo!"

Olhos castanhos claros, corpo forte... Dá para perceber, mesmo com toda essa roupa, que ele tem músculos definidos. O nariz é grande, mas combina perfeitamente com o rosto supermasculino dele. Os cabelos também são castanhos e têm um corte que os deixa levemente arrepiados. Fico com cara de idiota olhando para ele por um tempo até que ele fala comigo, em Inglês.

- A senhorita fala Inglês?

Balanço a cabeça afirmando e digo que sim um pouco depois. Acho que estou até babando.

- Mas você só fala ou entende também?

Todo meu encanto vai por água a baixo e eu olho para ele de cara feia.

"Babaca"

Ainda debochando de mim ele aponta para a placa metálica que está na frente dos carrinhos, coloca uma moeda nela e o carrinho que eu estava tentando "arrancar", se solta da fileira com suavidade. Eu tenho vontade de enfiar a minha cabeça no buraco mais próximo.

"Santa estupidez!"

Agradeço ao babaca, coloco minhas malas no carrinho e saio. Ele fica o tempo todo parado me olhando, mas eu não olho para trás.

VorazWhere stories live. Discover now