AMANHA DE MANHÃ

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      Acordei de um sono sem sonhos, foi como fechar os olhos e abrir, Caio ainda estava dormindo e pelo que parecia nem eu ou ele se mexeu naquela noite. Me soltei do seu abraço apertado e fui tomar um banho, minha vó sempre dizia que o chuveiro lavava o corpo e a mente e isso sempre fez com que eu me sentisse melhor. O nome da minha avó era Alice e é por causa dela que eu tenho esse nome, não por causa da menina que sonha com gatos sorridentes, ela era uma mulher corajosa e adiantada pra sua época, criou o meu pai sozinha e nunca deixou que isso afetasse sua carreira como advogada, era uma mulher incrivel e por isso meu pai fez questão de que eu tivesse o mesmo nome que ela, pra ele isso iria fazer com que eu herdasse as qualidades da mãe dele... Acho que não foi bem isso que aconteceu.

- Você vai demorar no banho?

- Já estou saindo!- eu não escutei ele acordar.

- Tudo bem, eu vou comprar pão e mais algumas coisas na padaria pra tomarmos café.

- Tudo bem!- como ele poderia pensar em café depois da noite passada?

Esperei o barulho da porta pra sair do chuveiro, não estava preparada para ver a noite passada á luz do dia, eu queria saber como ele iria reagir, mas estava com medo do que esperar. Vesti a calça que estava na noite passada e pequei uma camiseta do Caio com desenhos do Sonic, ele nunca jogou essas camisetas fora, mas não conseguia se desfazer delas, e eu gostava disso. O estranho é que em oito anos de namoro eu nunca invadi o apartamento dele com as minhas coisas, eu tinha um básico de escova de dente, chinelos e algumas musas de roupas, ele nunca fez questão de que eu tivesse um lado do armario, meu próprio sabonete e outras coisas minhas na casa dele e eu nunca me importei comisso, sei que ele não iria se opor se eu fizesse isso, mas eu achei que isso aconteceria naturalmente, pelo visto não.

- Você pode ficar com essa camiseta pra você se quiser.

- Eu não ouvi você chegar.- acho que eu não teria escutado nem uma bomba naquele momento.

- Você parecia perdida em pensamentos, estava procurando eles no armário?

- Na verdade estava pensando, eu não tenho quase nada aqui! É esquisito que já tem uns 3 anos que você mora aqui e o item mais pessoal que eu tenho no seu apartamento é uma escova de dente.

- Sempre me perguntei por que você não trazia suas coisas pra cá.

- No começo foi pra não invadir o seu espaço e depois eu não sei por que foi.- Ele olhou nos meus olhos e vi que queria dizer alguma coisa, mas tinha medo.

- Caio, pode dizer o que você tem á dizer, ainda estamos aqui.

- Me parece que vai ser fácil ir embora, pra você ir embora hoje, você não tem muitas coisas pra levar e eu não vou ter o perigo de encontrar alguma coisa que você esqueceu e ficar pensando em nós.- Eu não sabia que seria assim, não pensei que seria tão direto e nem que isso iria doer tanto.

- Bom, vou juntar o que tenho e já vou.- aquele espaço ficava cada vez menor.

- Você não quer tomar um café antes, ainda podemos ser amigos.- Algo tinha mudado.

- Não podemos ser amigos.- disse isso olhando pro chão, mas pude sentir seus olhos em mim, como se essas palavras estivessem escritas na minha pele. Não poderia cometer o erro de olhar pra ele e mudar o que disse, me virei pro armário e separei as poucas peças de roupa que tinha ali, eu não vi, mas quando ele saiu o quarto que antes parecia tão pequeno ficou grande mais.

Eu não era como minha avó, e pela primeira vez na vida eu queria ser como a Alice do desenho, queria cair em um buraco e encontrar o país das maravilhas, me perder em um lugar onde eu poderia ser outra pessoa, alguém com coragem o suficiente pra encarar as próprias escolhas. Mas este momento chegaria, logo eu estaria em casa e sei que minha mãe não ia aceitar um simples "acabou" ela ia querer ouvir a historia toda, o problema é que não tinha historia nenhuma pra contar.

- Alice o que tem na sacola?- Os olhos dela brilhavam tanto que eu tive pena.

- Minhas coisas mãe.- Ela não pareceu se importar.

- Coloque no cesto de roupa suja.- Acho que ela não tinha entendido- Chame o Caio pra almoçar aqui hoje, vou fazer o prato favorito dele.- Ela realmente não tinha entendido.

- Ele não pode vir mãe.

- Outra viajem de trabalho?- Era melhor contar tudo de uma vez.

- Não estamos mais juntos.

- Vocês estão dando um tempo? Não seja idiota Alice, tempo é perda de tempo! – Ela riu da propria piada e isso me deu coragem pra explicar melhor.

- Terminamos, não tem tempo nenhum, na verdade tem muito tempo pra mim agora!

- O que foi que você fez?- Os olhos dela estavam brilhando de novo, mas acho que era de raiva.

- Bom começou comigo largando a faculdade, depois eu tomei uns drinks pra ficar corajosa e depois terminamos!

- Você Ouviu o que sua filha falou Cláudio?- Meu pai estava ali? A quanto tempo ele estava ali?

- Alice você largou a faculdade? – A voz do meu pai era calma, mas sua expressão não.

- Pai, eu não quero essa profissão...

- Cláudio, sua filha termina um namoro de mil anos com um rapaz maravilhoso e você me vem falar de faculdade.

- Um dia isso aconteceria Marta, mas a faculdade é uma coisa séria!- Meu pai ia brigar comigo pelos motivos certos! Eu queria que ele brigasse comigo.


Eu não quero ser o seu amor.Hikayelerin yaşadığı yer. Şimdi keşfedin