TERCEIRO CAPÍTULO

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— Uau, você está linda, Isa! — Rodrigo exclamou assim que eu entrei no carro, com uma animação muito maior do que a habitual. — Linda mesmo, uma gata!

— Rodrigo, você como ator é um ótimo engenheiro — eu lancei um olhar acusativo para Marina, que levantou as mãos em sinal de rendição.

— Não me olhe assim, ele está te elogiando por livre e espontânea vontade.

Rodrigo, com o seu espesso e ondulado cabelo castanho, as suas sobrancelhas grossas, os seus olhos esverdeados, o seu maxilar pouco marcado e o seu corpo alto e esguio de lutador de judô, concordou várias vezes com a cabeça, já saindo da frente do meu prédio rumo ao nosso destino.

Eu não planejava ficar por muito tempo. Aliás, eu estava fazendo aquilo exclusivamente por Marina, e não por mim. Mas não posso negar que foi quase impossível não sair correndo assim que Rodrigo parou o carro em um estacionamento apertado e caro da rua Augusta, cerca de 40 minutos depois de sairmos da minha casa e pegarmos o trânsito rotineiro de São Paulo. Mais difícil ainda foi não vomitar no meio fio quando nós nos enfiamos em uma imensa fila barulhenta para esperar a abertura da balada do momento. Todas aquelas pessoas, com os seus sorrisos, os seus cigarros e a sua animação... Aquilo não era para mim – eu não estava conectada a eles de maneira alguma, não sentia o mesmo clima, a mesma animação, e, definitivamente, não ansiava por estar a poucos instantes de entrar em um salão escuro, abafado e claustrofóbico. Para ser bem sincera, eu só queria voltar para a minha casa, colocar o meu pijama velho, abrir o Popcorn Time e assistir Up! Altas Aventuras pela décima oitava vez, chorando os meus olhos para fora na cena em que Carl encontra a mensagem de Ellie no livro de fotografias.

Todos aqueles sentimentos ruins eram só uma prévia de que eu estava destinada a ser uma senhora dos gatos, sozinha, fedida e alimentando todos os meus felinos com os restos da minha comida congelada. Contos de fadas eram para garotas como Amanda, não para garotas como eu. E eu havia demorado 22 anos para entender a mensagem divina de Deus de que eu simplesmente estava amaldiçoada a viver sozinha. Então por que continuar tentando? Por que me enfiar no meio de todos aqueles jovens que algum dia encontrariam as tampas de suas panelas? Só para me frustrar mais um pouco?

— Ma, eu não estou me sentindo muito legal, parece que eu comi uma bola de pelos e agora estou em processo de me livrar dela assim como os gatos fazem — eu comentei, assim que Rodrigo pareceu ter encontrado os seus amigos e nos arrastava em direção a eles.

— Relaxa, Isa, para de drama! Vamos só conhecer os amigos do Dri, eles são ótimos, você vai adorar todos — a minha prima sorriu com animação, puxando-me pelo braço mesmo, já que não havia muito tecido no vestido que cobria o meu corpo.

Eu sabia que não havia muita coisa a se fazer àquela altura do campeonato. Pegar um táxi de volta estava fora de cogitação, já que qualquer 2km de táxi em São Paulo custava o equivalente ao PIB de um país subdesenvolvido e eu havia acabado de sair do meu antigo estágio, ou seja, eu tinha tudo, menos dinheiro. Voltar sozinha de metrô também não me parecia uma boa ideia, já que a sociedade machista misógina patriarcal brasileira não me permitia pegar o transporte público sozinha e com uma saia curta... E, finalmente, procurar um abrigo pela Augusta poderia dar certo, mas também poderia dar terrivelmente errado e eu acabaria a minha noite tomando whisky contrabandeado em um prostíbulo com infestação de percevejos. Por isso, eu optei por apenas sorrir e seguir o casal. Ainda assim, durante todo o trajeto eu tentei buscar alternativas diferentes para sumir dali, e cogitei seriamente forjar um desmaio, e só desisti da ideia porque sabia que os curiosos da fila fariam um círculo ao meu redor e eu não queria estranhos analisando as minhas habilidades de atuação.

Os 12 Signos de ValentinaWhere stories live. Discover now