Megan&Bea&Ives&Paris

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Paris tornava-se um lugar especial.

Não só pelo peso histórico e turístico, mas energético. A cidade luz era especialista em agradar até o mais descrente dos seres: os de coração partido. Por mais desesperadora que seja a vida, tudo é facilmente remediado em Paris. Culpa das luzes, do ar e do próprio chão. Respirar era mais fácil. Pisar era mais leve. Esquecer a dor já não era mais um desafio terrível.

E as duas garotas davam sinais disso.

A conexão com Deus foi no mínimo necessária para Megan. Antes, se sentia quebrada e inválida. Uma peça esquecida de um grande quebra-cabeça, que já havia sido guardado. Sem Dixie, sua própria vida era nova e extremamente solitária. Era como se acordasse de um sonho bom e voltasse a ter oito anos. Percebera que dera a cadela mais pesos do que podia carregar. Dixie era sua grande companhia e não poderia jamais agir como bengala. Devia aprender a andar com as próprias pernas se quisesse continuar a ser a boa Megan que aprendeu a ser ao lado da amiga. A boa Megan que conheceu Bea e tornou-se ainda melhor. A garota que fez um jornalista insatisfeito a olhar de forma diferente e se apaixonar.

O sonho com Edwin ainda estava na memória.

Parecia de fato tê-lo ouvido. A voz mansa que lhe dava calafrios quando era imposta. O olhar intenso, tão característico do amado. Era como se tivesse mudado de dimensão por alguns instantes. Uma em que não havia medo. Uma em que podia se entregar a Edwin sem pensar nas consequências ou nas falhas que poderia cometer. Aquela Megan não tinha medo de o machucar.

A dessa terra tinha, e muito.

Megan suspirou, enquanto caminhava por mais uma rua. Seus pés ganharam vida própria e nem mesmo olhou as placas. O sonho a perturbou. As sensações que tivera na catedral também. Era como se houvesse tomado um remédio amargo, mas eficaz. Estava atordoada e sentia que precisava encontrar Beatrice. Queria desabafar.

Pegou o celular e antes que pudesse discar o número da amiga, surpreendeu-se. Suas mensagens tinham sido respondidas. E havia mais uma, com número desconhecido.

"Afaste-se dessa rua."

Franziu o cenho e olhou ao redor ao perceber que estava sendo vigiada. Pensou em sair correndo, mas uma senhora de roupas desgastadas prendeu sua atenção. Era uma cigana. Queria ler a mão e Megan inicialmente recusou, mas a senhora insistiu. Estava tão intrigada com os acontecimentos da catedral, que acabou aceitando.

Só então percebeu o rapaz ágil passando perto e levando seu celular.

- EI! LADRÃO! - gritou, puxando a mão antes que a cigana pudesse começar a leitura. Começou a correr pela rua estreita em que avistara o rapaz pela última vez, vendo-o virar a esquina.

- SAFADO! LADRÃO! PEGA ELE! - gritou, mas a rua estava vazia demais para que alguém lhe escutasse. Se sentiu idiota por ter confiado seu futuro a uma pessoa. Nem mesmo ela própria, que sabia de seus desafios, conseguia prevê-lo. Nenhuma desconhecida poderia fazer melhor. Se pegou pensando nisso antes de virar a esquina e se surpreendeu quando não avistou ninguém.

E seu celular no chão.

Pegou-o rapidamente, alarmada. Olhou ao redor e guardou-o na bolsa, seguindo a rua em busca de um lugar mais movimentado. Aquilo era no mínimo estranho. Normalmente os punguistas sumiam de uma hora para outra sem deixar vestígios, muito menos o objeto roubado. Teria sido pego e achou melhor se livrar da prova? Não avistou carros de polícia ali. Foi pensando nas possibilidades até reencontrar com Beatrice, que a esperava em um restaurante junto de Ives.

- Se eu disser que fui assaltada e devolvida, vocês acreditam? - perguntou, sentando-se na cadeira e ajeitando-se no lugar. Os dois riram, estranhando a história. - Você bateu no ladrão, não foi? - Beatrice palpitou, achando que a amiga estava apenas tentando amenizar o ocorrido. Megan negou, balançando a cabeça. - Eu juro! Claro que bateria, mas não tive nem chance. Acho que fizeram por mim. - respondeu, logo depois contando o ocorrido. Ives foi um dos primeiros a franzir o cenho.

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