0.1

1.1K 73 41
                                    


- Eu não quero ir. Eu não vou.

- Posso saber o motivo, Hazz ?

- Aquela merda de festa está cheia de gente rica e egocêntrica, com sorrisos falsos pra lá e pra cá. Fazendo elogios que não são verdadeiros, bebendo e se achando os dono do pedaço. Isso me irrita, essa merda de festa me irrita, essa música me irrita, esse terno me irrita.

Harry falou ríspido, jogando seus cabelos cacheados e macios para trás. O verde de seus olhos estavam se perdendo na escuridão que se apossava de suas pupilas divinas mostrando o quanto o garoto estava cheio daquela pequena conversa. Era sempre assim.

- O que não te irrita em, Harry ? Vamos, me diga ! Tudo te irrita. Se ta frio você reclama e joga tudo pra cima, aí eu ligo o aquecedor e você berra com os empregados por estar "quente demais " - Anne fez aspas com as mãos suspirando pesadamente em seguida- Eu ja estou farta disso. Trate de terminar de se arrumar e desça imediatamente. Essa festa que você chama de merda é importante para o seu pai. E para mim também.

Assim que Anne fechou a porta, uma garrafa de whisky foi atirada contra a mesma se quebrando em milhares de pedaços no chão, junto ao líquido amarelo que manchou o carpete importado que sua mãe fez questão de por em seu quarto.

Não é como se ele pudesse evitar. Ele era assim.

Uma hora tudo eram mar de rosas, e na outra ele sentia a necessidade de socar alguém até a morte. Ou, quando não tinha ataques de bipolaridade, eram os ataques de raivas. E, as vezes, os dois juntos. Fazendo um enorme estrago.

Harry se sentou em sua cama e contou de um até dez, bufou ao perceber o quão inútil era aquilo. Não sabia por que ainda tentava, nada funcionava exceto a sua válvula de escape.

Sim, uma válvula de escape.

Todos temos uma válvula de escape, mesmo que não percebendo, sempre terá algo ou alguém que lhe fará sentir melhor quando as coisas estiverem prestes a cair. Algo que lhe tirasse da realidade e lhe puxasse pro sonho no qual você gostaria de viver. É uma coisa que lhe ajuda a sair de situações conturbadas, podendo até liberar o seu verdadeiro eu.

Mas, ao mesmo tempo que a válvula de escape de Harry lhe tirava de todo o furacão que é sua vida, ela também leva o rapaz de cabelos cacheados até um abismo que, ao se jogar, não tem mais volta.

Assim como ele, era uma válvula de escape bipolar. Lhe mostrava a vida, e segundos depois, a morte.

Não era como se Harry se importasse, ele tinha plena consciência do que estava fazendo com seus pulmões ao fumar duas caixas de cigarros por dia. Mas ele não se importava nem um pouco.

Harry era aquelas pessoas que, ao perder o controle da situação tendo os ataques de raiva ou bipolaridade, sentia que o único jeito de livrar o mundo da bomba que ele se dizia ser, era o matando.

Tente entende-lo, não é fácil querer sentir o sangue de uma outra pessoa em suas mãos so por pisarem em seu pé sem querer. Ele sentia medo de si mesmo. Era horrível.

O garoto então resolveu acabar logo com esta grande merda. Decidiu que não usaria terno, e sim, apenas a camisa social preta junto a uma skinny jeans justa. Terminou de calçar suas botas, deu uma última olhada no espelho travando o maxilar e suspirou indo em direção a porta. Passou por cima dos cacos de vidro e o som da música clássica extremamente chata soou em seus ouvidos.

Desceu as escadas com o maxilar ainda travado, olhando ao redor e observando tudo que ele ja sabia que encontraria.

Sorrisos falsos, elogios falsos, pessoas falsas. Tudo artificial demais.

Um garçom vestindo trajes brancos e uma das mãos para trás passou por Harry, e o garoto tratou logo de pegar um dos copos de whisky que havia na bandeja. Hoje seria uma noite muito longa.

Xxx

Pessoas passavam por Harry o cumprimentando como se fossem amigos de longa data. O menino apenas sorria forçado e lhes davam um aceno com a cabeça.

- Este ja é seu terceiro copo, Hazz.

O garoto sentiu um perfume doce invadir suas narinas e logo em seguida braços apertarem sua cintura. Ele sorri com o gesto e se vira para encarar Gemma, sua irmã, sorrindo doce para ele.

- Nem parece, Gem. - Ri- Achei que não viria mais.

Os olhos de Harry pouco a pouco voltava ao verde normal, sua irmã era como um calmante temporário. Ele conseguia se sentir bem com Gemma por perto. Ele ja pensou até que poderia diminuir os cigarros se sua irmã tivesse todos os dias ali com ele. O que era impossível, ja que Gemma era uma modelo que estava passando uma temporada no Brasil e quase nunca tinha tempo para falar com o irmão.

Harry afagou os cabelos loiros da irmã e a mesma sorrio com o gesto.

- É uma festa importante, não poderia perder.

- Pretende ficar quanto tempo ?

- Não muito, amanhã mesmo eu estou voltando para o Brasil.

- Oh.

Foi a única coisa que o garoto conseguiu falar. Seus olhos ficaram tristes e sua irmã logo percebeu.

- Não fique assim hazz, por favor. Não torne tudo ainda mais difícil.

- Desculpa, Gem - ele lhe ofereceu um sorriso forçado - como estão as coisas la no Brasil, em ?

- Estão ótimas, Hazzy. Você precisa ir la, sério!

Harry acentiu rindo do entusiasmo da irmã e ali engataram uma conversa sobre as maravilhas Brasileiras.

Xxx

Duas horas. Quatro copos de Whisky. Dois cigarros.

Faziam duas fodidas horas que Harry estava jogado em uma das mesas comendo e bebendo, saindo de la somente duas vezes para fumar. Estava até surpreso por não ter tido nenhuma crise.
A música ja estava lhe enchendo o saco, assim como todos que paravam pra conversar com ele como se fossem amigos.

Harry observou sua mãe conversando com uma moça que aparentava ter 18 anos, ela era loira, magra, tinha olhos azuis e a pele branquinha. As duas conversavam animadamente até que os olhos de Anne repousou em Harry.

O garoto conhecia esse olhar de sua mãe. Ele quase podia ver uma lâmpada acender em sua cabeça. Harry bufou ja sabendo o que viria.

Anne então se aproximou com a garota, as duas com sorrisos de orelha a orelha.

- Hazz, meu filho, está gostando ta festa ? - Anne perguntou assim que chegou na mesa onde Harry estava-

- Pra caralho, uhul. - Harry colocou as mãos para cima fingindo entusiasmo-

O olhar que Anne lhe mandou teria feito qualquer outra pessoa se borrar de medo. Menos Harry. Porque bem, Harry é Harry. Ele apenas sorriu .

-Essa é Taylor, filha de um amigo do seu pai.

- Oi, Harry. - A garota falou tentando soar sedutora fazendo Harry rir um pouco em deboche -

- Oi, Taylor.

O menino colocou os braços sobre a mesa cruzando as mãos, olhando para Taylor e a analisando dos pés a cabeça. Da pro gasto.

-Bom crianças, eu tenho que ir agora. Se divirtam, uh ?

- Ah, nós vamos sim.

Anne sorriu e piscou para os dois, logo depois tomando seu rumo para perto de seu marido.

Exhaust valve - L.s Onde histórias criam vida. Descubra agora