Capítulo 10: Negócios à parte

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A charrete chegou por volta das seis da tarde na casa de Álvaro Coimbra. A nostalgia daquele ambiente me atingiu como um soco no estômago. Ele me aguardava sentado na varanda de sua bela casa, vestido com um paletó azul e fumando um cachimbo de madeira. Despedi-me do motorista e andei na sua direção, senti seus olhos me percorrem de baixo para cima, observando cada detalhe do meu vestido apertado de algodão, na cor marrom e bastante simples.

- ­Venha- ele disse, levantando-se. Deixou seu cachimbo abandonado no banco e andou para fora da varanda.

Como agora eu era "tecnicamente" dele durante este fim de semana, não poderia me dar o luxo de fazer qualquer outra coisa senão obedecer. O segui passando pelo seu próprio cafezal e já fui capaz de ouvir o barulho da água, pensei inicialmente que era um rio assim como na Fazenda Canto do Sabiá, mas me enganei, era muito melhor que isso.

A sua fazenda ficava no litoral e eu não reparara da última vez que estive aqui, devido aos fatos que aconteceram no dia. A imagem que apareceu na minha frente era exuberante, as ondas batiam na areia com força e voltavam com a mesma velocidade. A praia estava completamente isolada pela mata, ficava bem escondida, praticamente particular, eu tinha certeza que apenas Álvaro a usufruía.

Ele andou até um tronco de árvore largado no meio da areia e sentou-se ali mesmo, erguendo aqueles instigantes olhos azuis na minha direção, gesticulando que eu me sentasse ao seu lado. Ergui as sobrancelhas diante desse gesto, o tronco era bem curto, iríamos ficar bem próximos.

Depois que me acomodei, ele apontou para o mar, sorrindo. Era bizarro ver um sorriso naquele rosto malicioso e sério que ele possuía.

- Bonito, não acha?- ele perguntou, espreguiçando-se, como se aquela fosse mais uma conversa rotineira.

- Muito.

- Aposto que nunca viu o mar- ele afirmou.

Um sorriso brotou dentro de mim. Lembrei-me das férias de Janeiro, todos os anos eu viajava com meus pais para conhecer alguma praia do magnífico litoral brasileiro. Mas esta praia, nessa época, tão deserta e sem sofrer as consequências do aumento populacional, era definitivamente única.

- Nunca, nunca vi algo tão belo- eu disse, o que era em partes verdade.

- Eu venho muito aqui quando quero refletir sobre negócios, parece que fico mais inspirado. É como se junto com as ondas do mar também viessem as ideias na minha direção, elas me atingem como essas gotas salgadas.

Álvaro Coimbra poético, quem diria.

- Então vamos deixar as gostas nos atingirem- eu disse, segurando meu cabelo que saia rebeldemente do meu lenço na cabeça- Como vamos proceder amanhã?

- Bem- ele refletiu. Seus olhos combinavam tanto com a cor daquela água que tive vontade de fazer uma pintura em aquarela- Tudo o que será tratado será entre eu e ele, apenas.

- Excluída, entendi.

Ele fez uma careta de desconforto.

- Sim, não posso deixar que os negócios sejam prejudicados, não sei a opinião dele sobre escravidão..

- Geralmente os ingleses são contra.

- Eu não teria tanta certeza disso.

- Pois eu tenho. Eles são a favor da abolição.

- Esse tema não entra no assunto dos negócios que vim tratar com você.

Ele estava irritado, dava para perceber na sua voz.

NegraWhere stories live. Discover now