A charrete chegou por volta das seis da tarde na casa de Álvaro Coimbra. A nostalgia daquele ambiente me atingiu como um soco no estômago. Ele me aguardava sentado na varanda de sua bela casa, vestido com um paletó azul e fumando um cachimbo de madeira. Despedi-me do motorista e andei na sua direção, senti seus olhos me percorrem de baixo para cima, observando cada detalhe do meu vestido apertado de algodão, na cor marrom e bastante simples.
- Venha- ele disse, levantando-se. Deixou seu cachimbo abandonado no banco e andou para fora da varanda.
Como agora eu era "tecnicamente" dele durante este fim de semana, não poderia me dar o luxo de fazer qualquer outra coisa senão obedecer. O segui passando pelo seu próprio cafezal e já fui capaz de ouvir o barulho da água, pensei inicialmente que era um rio assim como na Fazenda Canto do Sabiá, mas me enganei, era muito melhor que isso.
A sua fazenda ficava no litoral e eu não reparara da última vez que estive aqui, devido aos fatos que aconteceram no dia. A imagem que apareceu na minha frente era exuberante, as ondas batiam na areia com força e voltavam com a mesma velocidade. A praia estava completamente isolada pela mata, ficava bem escondida, praticamente particular, eu tinha certeza que apenas Álvaro a usufruía.
Ele andou até um tronco de árvore largado no meio da areia e sentou-se ali mesmo, erguendo aqueles instigantes olhos azuis na minha direção, gesticulando que eu me sentasse ao seu lado. Ergui as sobrancelhas diante desse gesto, o tronco era bem curto, iríamos ficar bem próximos.
Depois que me acomodei, ele apontou para o mar, sorrindo. Era bizarro ver um sorriso naquele rosto malicioso e sério que ele possuía.
- Bonito, não acha?- ele perguntou, espreguiçando-se, como se aquela fosse mais uma conversa rotineira.
- Muito.
- Aposto que nunca viu o mar- ele afirmou.
Um sorriso brotou dentro de mim. Lembrei-me das férias de Janeiro, todos os anos eu viajava com meus pais para conhecer alguma praia do magnífico litoral brasileiro. Mas esta praia, nessa época, tão deserta e sem sofrer as consequências do aumento populacional, era definitivamente única.
- Nunca, nunca vi algo tão belo- eu disse, o que era em partes verdade.
- Eu venho muito aqui quando quero refletir sobre negócios, parece que fico mais inspirado. É como se junto com as ondas do mar também viessem as ideias na minha direção, elas me atingem como essas gotas salgadas.
Álvaro Coimbra poético, quem diria.
- Então vamos deixar as gostas nos atingirem- eu disse, segurando meu cabelo que saia rebeldemente do meu lenço na cabeça- Como vamos proceder amanhã?
- Bem- ele refletiu. Seus olhos combinavam tanto com a cor daquela água que tive vontade de fazer uma pintura em aquarela- Tudo o que será tratado será entre eu e ele, apenas.
- Excluída, entendi.
Ele fez uma careta de desconforto.
- Sim, não posso deixar que os negócios sejam prejudicados, não sei a opinião dele sobre escravidão..
- Geralmente os ingleses são contra.
- Eu não teria tanta certeza disso.
- Pois eu tenho. Eles são a favor da abolição.
- Esse tema não entra no assunto dos negócios que vim tratar com você.
Ele estava irritado, dava para perceber na sua voz.
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Negra
Historical FictionOlívia Ambrose Barros é uma estudante de Arquitetura que enfrenta com garra o dia a dia como qualquer outra garota de vinte e dois anos. Mas no dia 20 de Julho o inesperado acontece: ela volta no tempo e para no ano de 1871. E o maior problema nem f...