Quando o Desconhecido Assusta

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Existem dias nos quais o mundo se parece muito mais bonito quando estamos de olhos fechados. Para Ayden Jones, aquela segunda feira em especial parecia trazer mais motivos para não querer abrir os olhos, em geral. O batucar irritante de algo contra os pés de sua cama o fazia soltar resmungos desconexos de desprazer. Aparentemente, alguém naquela casa estava suficientemente feliz em estar de olhos bem abertos às sete da manhã. O sol de agosto brilhando pela escondida janela em seu quarto não eram o suficiente para que ele se visse obrigado a se levantar. Já a insistência do irmão, que Ayden jurava ser adotado a pelo menos dezoito anos, não o deixava muita escolha.

"Ayvan, se não percebeu ainda, você está chutando a minha cama já a alguns minutos." Fingir que não entendia a intenção do irmão era inútil, mas talvez o garantisse um ou dois minutos de descanso a mais. Quando sua tentativa vã foi prontamente ignorada, no entanto Ayden se viu obrigado a abrir os olhos de uma vez. Aos pés de sua cama ele encarava a versão já de banho tomado e roupa posta dele mesmo. Seu irmão gêmeo idêntico, Ayvan, parecia lhe encarar como se o desafiasse a comentar sobre a sua aparência.

"Não me olhe assim Ayvan, nós ainda nem estamos atrasados" Ayden resmungou já se pondo de pé e caçando pelo quarto, sem muita pressa, algo que pudesse usar para se vestir durante o dia. O irmão continuou apenas a encará-lo em silêncio. Era em momentos como esse que Ayden se perguntava se Ayvan era mesmo cego. Talvez os médicos tivessem se enganado todos aqueles anos atrás. Por que em momentos como aquele, em que Ayvan o encarava mesmo que logicamente não soubesse para onde direcionar o olhar, Ayden podia jurar que seu irmão podia vê-lo.

"Eu não preciso te ver para saber que está enrolando para adiar nossa ida ao Campus, Ayden, por favor, me dê algum crédito." Ayvan disse e com um bufar indignado desviou o olhar para outra parte qualquer do quarto. E em momentos como aquele Ayden podia jurar que seu irmão também podia ler mentes.

"Não estou enrolando, Daredevil, vá alimentar o seu cão guia e me deixe em paz". Ayden mais uma vez ouviu mais do que viu a resposta de seu irmão. Com uma risada abafada, Ayvan fez seu caminho para fora do quarto, deixando Ayden para fazer sua higiene matinal em paz.

"Já fiz seu café, não se preocupe, cão guia!" A resposta do irmão apenas o fez revirar os olhos e continuar em direção ao banheiro. Relutante, Ayden tinha que concordar com Ayvan. Seu status de cão guia era inegável. Murdock, o real cão guia de Ayvan em pouco poderia ajudar dentro de certos estabelecimentos. Dessa forma, Ayden guiava o irmão há anos, por onde quer que fossem. Pensar na condição de Ayvan não deixava Ayden triste. Seu irmão nasceu sem a habilidade de ver, mas nunca deixou de enxergar a beleza na vida. E ele havia tomado por função, ser os olhos para aquilo que seu irmão não pudesse ver. Tinha sido assim desde o jardim de infância, e não seria agora, nos agitados anos de faculdade que Ayden lhe daria as costas. Então, com um suspiro de resignação, ele entrou debaixo da água que caia do chuveiro à sua frente, dando boas vindas aos desafios que viriam, como aquela fraca corrente de água que caia sobre si, pela frente.

Ayvan aguardava impaciente seu irmão se aprontar para o dia que se iniciava. Quando o disse que havia feito o café, Ayvan não mencionou, propositalmente, o fato de que café era a única coisa que eles tinham disponível para o café da manhã naquele dia. Haviam se mudado para Londres a menos de três dias. A viagem em si havia sido de última hora. O medo dos pais de os terem longe das vistas, havia feito os gêmeos decidirem por uma faculdade local. Mais simples e cômoda, eles poderiam continuar a viver em casa enquanto ainda estudavam. Mas ao receber a carta de aceitação da tão famosa Princeton, com um tanto de atraso por conta de uma pequena letra digitada errada no endereço do remetente, os dois jovens rapazes jogaram a cautela para o alto e comunicaram aos pais que a decisão estava feita. Deixariam Londres, a cidade em que nasceram e cresceram, para se aventurar no forasteiro desconhecido que era para eles os Estados Unidos da América. No aeroporto, a mãe chorava de orgulho e desespero. O pai apenas sorria e os informava o quanto o sotaque britânico lhes seria útil com as ladies. Agora, a três dias em solo estadunidense, o estranho medo do desconhecido finalmente começava a dar as caras. Ayden, como se soubesse para onde a mente do irmão começava a vagar, escolheu aquele momento para informar que estava pronto para sair.

"Vamos lá brother, sorte a sua ter me acordado tão cedo, se não teríamos que ir com fome para o primeiro dia de aula na faculdade". Ayden o guiava em direção a porta enquanto enfiava os pés em seus tênis desajeitadamente. "Você pode até ser um gênio da matemática, o prodígio, mas cara, fazer café não é o seu forte."

Ayvan optou por sorrir vitorioso, sabendo que a fome era sua aliada quando queria tirar o irmão de casa. Um Ayden com fome era um Ayden que saia em busca de comida. Ayvan sabia explorar suas vantagens. O caminho até a padaria mais próxima foi rápido, e já que o apartamento em que estavam era convenientemente próximo à faculdade eles podiam se virar sem o carro, que eles ainda não haviam tido tempo de sair a procura. Ao entrar no estabelecimento, lotado de clientes àquela hora da manhã, vários olhares se lançaram aos dois belos jovens, que separados eram notáveis, lado a lado, eram impossíveis de ignorar. Os cabelos escuros constatavam com o brilhante verde exibido nos olhos que Ayden havia descoberto ao tirar o óculos de sol. A pele, com um tom a mais do que o costumeiro londrino dava a eles um ar menos frio. Eram bonitos rapazes.

"Dois cafés, um donut desses aqui e..." Ayden apontava o que queria para a vendedora enquanto ditava ao irmão sua opções de café da manhã.

"Um muffin de chocolate para mim, por favor." Ayvan pediu e a moça que os atendia demorou dois segundos para entender o que os óculos escuro de um dos gêmeos e a descrição de cardápio feita pelo outro significava. O arregalar de olhos da moça e a expressão de espanto fez Ayden cerrar os olhos e ela esconder a expressão desnecessária em poucos segundos. O fato era que Ayden havia lidado com aquela expressão vezes demais durante a vida. O par de gêmeos perfeito até que um deles era descoberto como cego. Ele se via grato, então, do irmão ser poupado de saber desta parte da natureza humana. Uma onde o mínimo sinal de diferença causa estranhamento.

"Mais alguma coisa?" A moça perguntou parecendo já recuperada de seu momento de descoberta. Negando com a cabeça ambos se dirigiram ao caixa.

A passos rápidos, o caminho até o Campus foi feito em poucos minutos. Tinham ainda algum tempo de sobra. Já haviam estado ali antes. A magnífica construção não perdia o ar esplendoroso de magnitude ao ser visitada pela segunda vez. Princeton, para os gêmeos Jones, cheirava a aventura. Ao passarem pelos portões de entrada da ala em que Ayvan teria seu primeiro seminário, ambos sentiram-sem pela primeira vez, o nervosismo que o desconhecido causa. A mão de Ayden, sempre presente no braço do irmão, apertou um pouco mais em força, e Ayvan segurou com mais afinco o bastão de hoover que seria em poucos minutos seu único guia. Ao escolher áreas de formação distintas, os gêmeos se viram em um empasse. Pela primeira vez, desde a barriga de sua mãe, eles se veriam verdadeiramente separados por indeterminados períodos de tempo. Com um sorriso que Ayvan pensava ser de conforto ao irmão, ele deu o passo a frente. Ao sentir Ayvan se afastar com um sorriso incerto brincando nos lábios, Ayden quase decidiu implorar por um troca de departamento. Economia não seria tão ruim assim. Engenharia era para loucos. Mas ao ver o irmão dar tão confiantes passos sozinhos, Ayden mudou de ideia. Eles eram parte um do outro, deste sempre haviam sido, mas eram duas pessoas diferentes. Ao constatar que o irmão estava sentado seguramente em uma carteira designada não para pessoas como "limitações", mas sim para o ser humano especial que ele era, Ayden sorriu e deu as costas. Não sem antes notar o olhar interessado que garota que sentava ao lado de seu irmão lhe lançava. A garota de cabelos curtos e olhar tímido o encarou por um instante e logo desviou o olhar até Ayvan. Com um sorriso quase imperceptível nos lábios ela voltou a olhar para o seu notebook. Naquele instante, Ayden virou as costas e voltou pelo caminho onde veio, indo em direção ao seu próprio seminário. Nada o tirava da mente, que Ayvan estando próximo àquela garota, lhe parecia um tanto mais seguro.

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