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Com toda certeza o natal era meu feriado preferido. E esse ano eu faria uma coisa que costumava fazer desde que minha mãe começou a namorar: viajar.

Mamãe estava numa viagem pelo mundo com meu padrasto e não sobraria qualquer outro familiar com quem eu pudesse passar esse dia tão especial para mim. Porém eu sabia que ela estava feliz com o Ramon, seu mexicano caliente, como a mesma diz.

Moravamos em Fortaleza e eu amava passar o natal aqui ou nas redondezas, mas esse ano eu queria conhecer a neve. E nada melhor do que fazer isso sem pagar muito caro e, além disso, não precisar sair do Brasil.

Comprei minha passagem para o Rio Grande do Sul e logo depois um carro alugado para ir até meu destino, Gramado. Certifiquei-me de que estava tudo no seu devido lugar e no dia 22 de dezembro embarquei.

Dentro do avião fiquei olhando no notebook todas as atrações que estariam disponíveis e que eu já tinha salvado em um arquivo. Eu não poderia ficar mais animada quando soube que o Snowland de Gramado estaria com suas portas abertas.

O Natal da Luz também estaria acontecendo simultaneamente e minha mente borbulhava com todos os planos que eu fazia para conseguir visitar todos os lugares e ainda conseguir voltar para passar o Ano Novo em casa. Tudo aquilo me distraiu até a primeira escala que aconteceu normalmente.

Depois de um tempo no outro avião reparei em quem estava do meu lado. Era o mesmo de antes da troca, ele não ficaria no Rio de Janeiro - onde foi a parada -, teríamos o mesmo destino...

Era um homem e estava dormindo. Devia estar na faixa dos 24 anos, usava roupa social e estava com os cabelos completamente desgrenhados, assim como as roupas amassadas. A blusa branca que usava por baixo do casaco mal colocado marcava bem sua barriga plana e seu braço forte que estava à mostra...

Que vontade de apertar... Tão apertadinha essa blusa... Mas ele parecia incrivelmente confortável naquela cadeira de avião.

Em certo momento, me peguei querendo dar uma ajeitada no seu cabelo. Até fiz menção de levantar a mão, entretanto pensei: o que estou fazendo? Nem conheço o cara!. No entanto, ele estava tão fofinho dormindo! Se eu tirasse só esses fios que estão sobre suas pálpebras... Toquei.

Ele se mexeu. Seus olhos não se abriram, mas formaram ruguinhas nas laterais por os mesmo já serem pequenos. Deu tempo de eu afastar-me, pegar o celular e arrumar o note novamente no meu colo; e fingi mexer em algo mesmo que os aparelhos estivessem desligados. Assim que ele terminou de se espreguiçar de leve, uma comissária de bordo chegou ao seu lado com um sorriso oferecido.

— Já iria pedir que acordasse, — comentou com uma voz dócil, porém continuou com certo desgosto no tom. — Mas pelo visto sua esposa já fez isso. — Me lançou um olhar sem emoção. Até então eu só ouvia tudo, e naquele momento minha boca se abriu um pouco.

— Já vamos pousar. — ela concluiu e se afastou antes mesmo que ele tivesse a chance de contradizê-la pelo mal entendido.

Não falamos nada até o avião pousar, via de relance ele ficando meio perdido parecendo se lembrar daquela cena; pelo menos era o que eu pensava e fazia questão de esconder minhas risadinhas para o lado da janela.

Quando pousamos ele ficou juntando algumas coisas e esticando suas roupas, mas eu já estava com tudo em mãos e queria passar. Ao começar a fazer isso, brinquei:

— Até qualquer dia, marido.

Saí com aqueles olhos, num tom de âmbar que quase me hipnotizou quando ele os abriu, na mente. E claro, a visão dele acordando e mexendo nos cabelos bagunçando... Aí, papai Noel!

Quarta de NatalWhere stories live. Discover now