Lesly

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Uma semana depois não tinha falado mais nada com Breno.
Não me afastei, pois nunca fiquei próximo dele suficiente, mas decidi parar de invadir a casa dele à noite.

Durante a aula de filosofia dormi. Não estava interessada em saber o significado do amor para a filosofia. Pois amar, segundo alguns filósofos é a busca do sujeito por algo que falta.

Sabe quando as pessoas citam que estão sentido um vazio dentro de si mesmos? Isso pode ser uma predisposição a busca do amor.
Platão dizia que para as pessoas o verdadeiro amor é um sentimento de busca pelo que se falta.

Falta metade do meu coração, alguém roubou, mas simplesmente não sabemos quem é. E assim vamos em busca do verdadeiro amor.

—O amor é um tema complexo para se dizer classe, porém por mais complicado que seja definir ou descrever o amor, algo é incontestável; sabe-se quando se está amando, sente-se quando se é amado. — concluiu a professora e o sinal tocou.

A professora tinha razão. Agora eu sabia que Breno me amava pois conseguia sentir mesmo longe e por incrível que pareça eu ficava feliz de saber que pelo menos alguém tinha esse sentimento puro por mim.

****

—Lesly estava te procurando. — Hugo fala sentando ao meu lado durante o intervalo.

—Agora que achou pode ir embora.

—Que isso? Cadê aquela menina educada que eu conhecia? — ele diz tentando pegar minha bochecha porém com um leve tapa na sua mão, faço ele recuar . — Que isso aí?

Meu livro de anotações está sobre a mesa já que decidi andar com ele, por medo que minha mãe tente ler enquanto estou na escola.

—Nada que seja da sua conta.

—Não gosto que falem comigo assim. — Hugo fala e pega o livro da mesa e folheia.

—Me dá! — grito levantando e pegando de suas mãos. Pego minha bandeja e saio da mesa.

—Vem cá gatinha! Era brincadeira. — Hugo disse pegando pelo meu braço no intervalo.

Não digo nada, apenas puxo meu braço e continuo a andar.

—Lesly! — ele vem atrás de mim — Você nunca foi difícil assim. O que está acontecendo?

—Será que dá pra você parar de me seguir? — falo ainda andando pelo refeitório.

—É o Breno? Lesly fala sério, namorar um deficiente.

Me viro para ele.

—Deficiente é você, que fala dele com esse preconceito. A deficiência é apenas uma questão de olhar! Enquanto você olha apenas para a cadeira de rodas, eu olho para os olhos deles.

—Você está mesma apaixonada por ele então? — Hugo diz rindo e me viro continuando andando. — Pessoal atenção! — Hugo grita — Parece que temos um novo casal na escola.

—Para de ser criança pelo menos uma vez? — grito.

Todos os alunos ficam quietos e observam Hugo que se distância de mim e vai em direção a mesa de Breno.

Breno parece não estar interessado, está conversando entretido com Ronan que assim que percebe a aproximação de Hugo aponta para ele.

—Galera! Vamos bater palmas para o novo casalzinho da escola! Breno e Lesly! — Hugo fala levantando o braço de Breno e sorrindo para mim, ouço risadas vindo dos alunos. —Grupo do jornal da escola, coloquem amanhã na manchete da escola: Cadeirante atropela namorada depois deles ficarem juntos por um dia.

Os alunos começam a rir como se tudo isso fosse uma piada.
Deixo minha bandeja com lanche em uma mesa qualquer e vou em direção a Hugo.

—Parece que ela está nervosa. — grita Hugo para o refeitório.

—Para com isso garoto. — diz Daniela que está ao lado de Ronan.

—Até você Daniela? — Hugo fala apontando agora para Ronan que levanta e vai em direção ao Hugo.

—Parem com isso. — Breno sussurra segurando o braço do amigo que recua.

Hugo coloca as mãos sobre o ombro de Breno.
Empurro ele para longe de Breno.
Estava cansada de Hugo, cansada daqueles alunos que tratavam Breno com inferioridade. Pego a mão de Breno e me abaixo ficando assim em sua frente.

Percebo que todos os olhares estão em nós e o beijo na frente de todos. Quando nossos lábios se juntaram o mundo parou e eu perdi a noção do tempo.

Assim que meu rosto se distância um pouco de Breno, ouço os gritinhos e pessoas conversando alto. Sussuro apenas para ele ouvir:

—Dessa vez eu não vou fugir. Nunca mais. — ele pega a minha mão e aperta enquanto sorri.

Eu havia beijado Breno na frente de todos os alunos do terceiro ano do ensino médio.

Breno segurou minha mão graciosamente. Olhei rapidamente para Hugo que assim que me viu beijando Breno, saiu do refeitório em direção aos corredores.

—Você não se importa? — Breno me pergunta já que todos nos olhavam ainda.

—Não e você? — digo sorrindo.

—Nem um pouco.

Amor Sobre RodasWhere stories live. Discover now