CAPÍTULO 22 - O PERDEDOR

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Demorei pra dormir, mas quando dormi tive a sensação de dormir pouco. Acordei com o movimento do comitê. Sim, tinha dormido no sofá porque eu não podia encarar minha família naquele estado que eu me encontrava. Fui até o banheiro vendo meu estado deplorável, minha camisa solta e amassada. Ajeitei meu cabelo, mas duvido que tenha melhorado minhas olheiras.

Alguém bateu na porta. Hoje seria um dia difícil de olhar no rosto de qualquer um.

Fui até ela, abrindo e vendo Francisco, que continuava também com a mesma roupa de ontem.

- Eu trouxe seu café da manhã. É reforçado, do jeito que o senhor gosta. – Ele me entregou um saco de papelão.

- Eu não estou com fome, Francisco.

- Você precisa se alimentar, Olivier.

Rolei os olhos indo para a mesa, arrumando os papeis e fechando o notebook.

- Vou pra casa, vou passar o resto do dia dormindo.

- Não senhor, você tem visitas no centro marcadas. Sua agenda está lotada.

- Não vou cumprir tabela, Francisco. Você não percebe? Está tudo acabado.

- Sobre isso senhor... Marquei uma reunião com o advogado e o coordenador da campanha. – Olhei assustado pra ele. – Eles vão saber o que fazer com essa garota.

- Desmarque. – Ele me olhou confuso. – Não, Francisco! Desmarque. Você já falou algo pra alguém? – Ele negou assustado. – Isso fica entre nós.

- Mas senhor... Essa garota usou sua imagem, não apenas usou, como abusou, denegriu, ela humilhou o senhor, você tem que fazer algo. Processar essa garota.

- Não vai adiantar, Francisco. – O olhei atento. – Eles... Ela... Só querem me ver perder a eleição, e isso eu não posso mais lutar contra.

- O senhor está poupando a Valentina? – Ele me olhou aterrorizado.

- Sim... Existe muito mais em jogo, você sabe. Eu não sei do que meus assessores... As pessoas envolvidas financeiramente nessa campanha até o pescoço seriam capazes. Não é apenas sobre um processo. Já aconteceu, já foi, não tem mais volta. Eu só preciso viver com isso, agora.

Achei mesmo que o Francisco fosse capaz de matar a Valentina antes mesmo de me dizer algo, até porque ele também sempre defendeu ela, ele sempre foi meu confidente, ele sempre soube o quanto ela me fazia bem, mas pelo visto ele também tinha sido traído. Achei que ele fosse estraçalhar a Valentina, mas não foi isso que aconteceu.

Achei também que eu não conseguiria lidar com algo assim, mas fui. Na verdade, fiquei surpreso por eu mesmo não matar a Valentina.

- Senhor, me admira que depois de tudo o que essa garota fez você ainda sinta compaixão por ela.

- Compaixão, Francisco? Eu odeio a Valentina agora mais do que eu odeio meu pior inimigo. Eu mataria ela com minhas próprias mãos, mas eu não poderia deixar que outra pessoa o fizesse. E realmente sei do que essas pessoas são capazes. Não adianta colocar a vida dela em risco.

- Eles vão descobrir uma hora ou outra.

- Ou não. Mas se descobrirem vão levar até o Luiz, e com ele se resolve. Ela continua sendo apenas uma garota. Uma vadia dissimulada, mas ainda uma garota.

- Sinceramente, Olivier... Eu desisto de tentar entender você. – Ele me olhou com raiva.

- Eu preciso que você dê sua palavra que vai desmarcar essa reunião, e que vai manter sua boca fechada sobre isso. Isso morre com a gente, Francisco. A gente precisa esquecer que a Valentina um dia existiu. – Eu realmente estava surpreso comigo mesmo.

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