Mary

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A música bate- estaca soa na mesma batida que o meu coração. Posso sentir o baixo batendo dentro do meu peito-- tum tum. Édifícil enxergar á minha volta com tantos corpos se contorcendo, ainda mais com a névoa de gelo seco e as luzes bruxuleantes do teto do clube, que criam uma atmosfera um tanto hostil. Mas sei que ele está aqui. Posso senti-lo. É por isso que sou muito grata a todos esses corpos que se contorcem em volta de mim. Eles me mantêm longe da simplesmente --- e ainda disfarçam a minha presença. Caso contrário, ele já teria sentido o meu cheiro. Eles conseguem detectar qualquer rastro de medo a uma distancia enorme. Não que eu esteja com medo, porque não estou nem um pouco. Bom, talvez um pouco. Mas trago uma arma comigo: a minha besta Excalibur Vixen 285 FPS, com uma flecha Easton XX75 de quase 70 centímetros (a antiga ponta de ouro foi substituída por outra talhada a mão), pronta para ser lançada com um simples toque do meu dedo. Ele nunca vai saber o que o atingiu. E com sorte, nem ela. O mais importante é dar um tiro certeiro --- o que não será fácil com tantas pessoas aqui --- e fatal. É bem provável que eu só tenha uma chance para atirar. Então, o eu acerto o alvo... ou ele me acerta.


--- Aponte sempre para o peito --- mamãe costumava dizer.

--- É a parte mais larga do corpo, um alvo difícil de errar. É claro que é mais fácil matar do que machucar quando você mira no peito, em vez de mirar na perna ou no braço... mas para que machucar, não é? A ideia é acabar com eles. E foi para isso mesmo que vim aqui esta noite. Para acabar com eles.
A Lila vai me odiar quando descobrir oque aconteceu de verdade... e ainda mais quando souber que fui eu que fiz tudo aquilo. Mas também o que ela queria que eu fizesse? Não é possível.
Será que Lila achava que eu ia ficar parada assistindo ela jogar a vida fora?


--- Conheci um cara --- disse ela no almoço hoje enquanto estávamos na fila do bufê de saladas.

--- Meu Deus, Mary, você não vai acreditar no quanto ele é fofo. O nome dele é Sebastian. Ele tem olhos mais azuis que você já viu. O que as pessoas não entendem sobre a Lila é que, por trás daquela aparência --- temos que admitir --- de vagabunda, bate o coração de uma amiga verdadeiramente leal. Ao contrário das outras meninas do Santo Elígio, Lila nunca me tratou mal por meu pai não ser um megaempresário ou cirurgião plástico. Tudo bem, admito, eu tenho que filtrar mais ou menos três quartos do que fala porque, em sua maioria, são assuntos que não me interessam --- tipo, o quanto ela pagou pela bolsa Prada na liquidação da Saks, e qual a tatuagem tosca que ela quer fazer quando voltar a Cancun. Mas essa nossa conversa realmente me deixou encucada.


--- Lila --- perguntei ---, e o Ted?
Afinal, Ted era seu principal assunto desde que ele finalmente criou coragem de chama- lá para sair no ano passado. Quer dizer, era o principal assunto ao lado das bolsas Prada em liquidação e da tatuagem de vagabunda na parte inferior das costas.

--- Ah, isso já era --- disse Lila, selecionando as folhas de alface com o pegador.

--- O Sebastian vai me levar para sair hoje á noite, vamos ao Swing. Ele disse que consegue nos colocar lá dentro... ele está na lista VIP. Não foi o fato de esse cara, seja lá quem fosse, dizer que estava na lista VIP da boate mais nova e exclusiva do centro de Manhattan que me fez sentir calafrios. Não me entendam mal: a Lila é linda. Se alguma garota tiver que ser, de repente, abordada por um estranho que diz estar na lista VIP mais cobiçada da cidades, essa garota tem que ser a Lila. Foi a situação com o Ted que me deixou intrigada. A Lila adora o Ted. Eles são aquele típico casal perfeito da escola. Ela é linda, ele é um atleta admirado... é uma união no paraíso hormonal. E é por isso que aquilo que ela estava me contando não batia.

A Filha Da Exterminadora !Onde histórias criam vida. Descubra agora