Parte I - Dias melhores \ Capítulo 1

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Sempre apreciei o preparo de uma boa massa de pão. O resultado final, é aquele pão macio, com uma fina camada de fumaça subindo enquanto você o corta e passa manteiga ou coloca uma fatia de queijo que chega a derreter. Katniss também gosta disso, por isso todas as manhãs, eu acordo bem cedo, para assar pães para vender na padaria e para o nosso café da manhã. Na maioria das vezes ela acaba acordando assim que saio da cama, e logo eu me deparo com ela enrolada num cobertor me observando enquanto eu trabalho na massa e fico coberto de farinha. Apesar de preferir que ela continue dormindo, eu gosto de me sentir observado por ela, de ter a sua atenção. E gosto ainda mais dos nossos beijos que ás vezes acabam acontecendo assim que eu coloco a primeira fornada para assar e minhas mãos ficam livres. No fim, ficamos os dois cheios de farinha. Katniss é um enigma para mim, mesmo depois de todos esses anos juntos. Ás vezes arrancar uma risada dela é a coisa mais fácil do mundo. Já em dias mais sombrios ela parece se afundar na depressão de suas perdas e sorrir parece algo que ela nunca mais será capaz de fazer. Há noites em que fazemos amor intensamente. Outras, em que ela sequer me olha antes de se virar para o lado e dormir. Mas eu aprecio cada momento. Pois em hipótese alguma eu poderia imaginar que no fim da tão terrível guerra, nós dois iríamos permanecer vivos, e juntos. Mas ás vezes penso, que o fato de ela ter ficado comigo não foi uma escolha, e sim uma consequência. Pois de todas as pessoas que ela tinha ao seu lado, Haymitch e eu fomos os últimos e únicos que permanecemos. Sua mãe, não suporta voltar para cá, e para falar a verdade não suporta nem olhar para Katniss. A morte de Prim foi um baque maior do que ela poderia aguentar. E Gale, fez questão de desaparecer da vida dela, quando as armadilhas construídas por ele, tiraram a vida de Prim. Mesmo que ele quisesse ficar ao lado dela, creio que ela jamais conseguiria perdoá-lo. Katniss é uma pessoa que sofreu demais, simplesmente não dá para esperar um poço de bondade vindo dela. Quando você fica tão perto de tragédias, acaba se endurecendo. Desenvolvendo um instinto quase inumano de vingança. A prova disso, foi ela ter concordado com uma edição dos jogos vorazes com crianças da Capital. Sunny, a neta de Snow foi uma das escolhidas. E a garota que há tantos anos se disse erraticamente apaixonada por mim, foi coroada campeã. Depois daqueles dias escuros, os sobreviventes do distrito 12 logo decidiram voltar e reerguer o seu lar. Katniss e eu decidimos abandonar nossas casas na aldeia dos vitoriosos, pois elas eram uma lembrança muito forte da capital e do reinado de Snow. Então, erguemos uma casa onde antes era a casa que Katniss e sua família viveram. No andar de baixo, funciona a padaria na qual sou dono e tiro parte do nosso sustento. No andar de cima é a nossa modesta casa. Achei que seria ruim para Katniss viver num lugar tão cheio de lembranças da sua família. Apesar de cada parede ter sido construída do zero sobre as cinzas remanescentes da destruição, o lugar em si parecia guardar muitos momentos de todos que ali viveram. Mas acabei concluindo que no fim das contas, as lembranças sempre estarão em nossa mente, independentemente do lugar em que habitamos.

- Bom dia – eu digo, ao me virar para o lado, e me deparar com Katniss me observando colocar a última forma no forno.

- Oi – ela diz, e sorri para mim. Eu me aproximo e a tomo em meus braços, enfiando o rosto em seus cabelos macios enquanto beijo seu pescoço que apesar do tempo ainda leva enormes cicatrizes, assim como o restante de seu corpo. E do meu também.

Nos beijamos por algum tempo, seus lábios quentes em contato com os meus, me fazendo transbordar de um sentimento que pode ser descrito como além de felicidade. Quando nos afastamos, ela está com tanta farinha na roupa quanto eu.

- Acho melhor você ir tomar um banho – eu sugiro. – E se você quiser, eu posso te fazer companhia.

- Está bem. Mas não se esqueça que se você se empolgar e acabar demorando comigo lá em cima, seus pães irão torrar – ela diz e começa a subir as escadas.

Depois da esperança - Peeta MellarkOnde histórias criam vida. Descubra agora