Capítulo Único

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 Ela se lembra de cair, e da água gelada, paralisante, queimando-a enquanto ela flutuava naquela imensidão escura, fria. Olhava para cima, embora seus olhos ardessem, e sentia a superfície dura acima de sua cabeça. Não importa o quanto suas pequenas mãos tentassem quebrá-la, ela era fraca demais – pequena demais – para vencer aquilo. E então ela deixara a água a levar, afundando, suas mãos flutuando à sua volta enquanto seu corpo era puxado para baixo e as luzes acima se transformam em nada além de um borrão.

 Muitas coisas passavam por sua cabeça enquanto ela sentia seus pulmões explodirem dentro de seu peito, caindo levemente em direção ao meio do nada. Em primeiro lugar, não queria morrer. Não queria ficar no fundo do lago até que alguém a encontrasse, morta e perdida. Não queria perder o Natal. Queria não ter saído de casa. Queria não ter escutado seus pais gritando novamente, e corrido para fora – no meio do inverno. Em direção ao lago.

 O gelo não é firme o bastante, eles disseram. Eles a avisaram, ela sabia, sabia que o gelo não era firme o bastante – porque tinha que ter corrido diretamente para lá? No meio dos pinheiros, onde as pessoas simplesmente não a encontrariam. Não tão cedo, pelo menos – não até que o inverno acabasse.

 E então, quando tudo fica escuro finalmente, ela sente-se leve, como se estivesse voando. Sim, estava voando, dormindo. Ou estava sonhando? Não importava. Flutuava livremente – para baixo, só para baixo.

 Até que ela é puxada de volta para a superfície e consegue sentir o ar entrando em seus pulmões novamente, deitada em algo macio e frio. Tudo é branco e claro demais para que seus olhos abertos aguentem. Ela levanta seus braços, leva suas mãos ao ar até que alcança alguma coisa, e então está tocando em alguém.

 Há um garoto em sua frente, embora sua visão esteja borrada e sua cabeça esteja completamente confusa. Suas mãos são frias, mas ela não se importa muito – não depois de afundar no lago congelado. Seu cabelo é branco, como neve. Seu rosto é jovem, embora os olhos cinzentos pareçam antigos, encarando-a – o céu atrás de sua cabeça é de um escuro sem fim.

– Quem é você?

 Não há resposta. Ela ainda não escuta nada ao redor. Talvez esteja sonhando. Talvez tenha realmente caído dentro do lago e agora esteja no céu. Mas o céu não podia ser tão frio, podia? Talvez – pensou. Se o inferno é quente, faria total sentido o céu ser tão frio.

– Eu não sou ninguém – O garoto finalmente respondeu, levantando-se. – Volte para casa, Jude.

– Espere! – Ela não tinha tempo de perguntar como ele sabia seu nome.

 O garoto saiu voando, deixando-a com uma pergunta e uma promessa de que um dia ele voltaria para vê-la. Desaparecera no céu entre flocos de neve e os altos pinheiros.

 E então ela acorda. Está bem, como sempre. Suas mãos estão agarradas fortemente nos lençóis, seu quarto escuro – a casa é silenciosa a noite, quando seus pais estão cansados demais para brigar e dormem calmamente – um na sala, outro no quarto. A única luz vem da janela, azulada e brilhante por trás da cortina branca.

 Ela observa a rua com cautela – mora em um lugar tão afastado, no meio de pinheiros altos e lagos. As poucas casas em volta têm as janelas fechadas e tão escuras quanto sua própria – bonecos de neve tortos descansam em quintais brancos, monótonos.

 Então é natal.

– Já fazem 10 anos – Ela sussurra para si mesma, tentando convencê-la. – Como pode ser tão estúpida?

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⏰ Última atualização: Dec 25, 2015 ⏰

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