Conformidade

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Nunca acreditei realmente nesse tipo de coisa. Será que era só coisa da minha cabeça? Aquela garotinha estava mesmo ali?
- A propósito, sou Beth. Não precisa me olhar assim, afinal vim aqui pois preciso da sua ajuda.
- Minha ajuda? Para quê?
- Lhe procurei por muito tempo. Finalmente achei você. Senti que você estava aqui.
Estava confusa. Uma garota morta estava pedindo minha ajuda. Até aí tudo bem. Mas algo me fazia querer ajudar, como uma atração sombria pelo desconhecido.
- Acho... acho que não estou entendendo direito...
Beth levantou-se, enxugando as lágrimas do rosto e me encarando com seus olhos azuis profundos, cheios de esperança.
- Você é um anjo da morte, não é?
Agora eu realmente estava perdida no assunto, como alguém que acaba de chegar numa roda de conversa.
- Eu não sei do que você... - balancei a cabeça, com ar consternado.
- Ah, entendi. Essa seria sua primeira missão - disse Beth, abaixando a vista e deixando transparecer certa decepção- Anjos da morte são entidades vingadoras humanas que têm auxiliado espíritos e almas perdidas a fazer justiça durante séculos - disse ela, inflando o peito de orgulho.
- Ahh, tipo pessoas que ajudam fantasmas. Entendi.
Beth fechou a cara.
- É, tipo isso.
- E como eu poderia ajudar você? Eu tenho superpoderes ou algo do tipo? Porque seria bem legal se tivesse.
- Não exatamente. Ouvi falarem muito sobre anjos da morte. Todos são médiuns, ou seja, obviamente podem ver e falar com espíritos. Além disso, suas habilidades podem ser evoluídas. Você pode ser telecinética, telepática, vidente ou até psíquica.
- Caramba. Legal.
Um sorriso se estampou em seu rosto.
- E como eu posso lhe ajudar?
Sua expressão ficou sombria.
- Eu tinha apenas nove anos quando morri. Estava brincando em um parque quando inocentemente me distanciei de meus pais. Meu vizinho, de apenas dezesseis anos, disse que iria me ajudar a encontrá-los - seus olhos ficaram mareados - ele me espancou, me torturou, e por fim me esfaqueou com golpes nas pernas, nos braços e na barriga - falava entre soluços - eu perdi tudo naquele dia... tudo...
Sem nem conhecê-la direito, senti como se fosse minha irmã. Queria protegê-la de tudo, aquela garotinha tão frágil que havia sofrido tamanha brutalidade. Seu choro melancólico e sombrio fazia parecer que o mundo havia parado. Tão jovem, com tanto por vir pela frente. Um misto de pena e raiva tomou conta de mim. Aquilo não ficaria assim. Não enquanto eu estivesse ali. Peguei meu casaco de couro sobre a mesa da sala e me armei com o canivete suíço que sempre carregava no bolso.
- Onde é que esse desgraçado mora?

O Anjo da MorteWhere stories live. Discover now