Angel Voice

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P.O.V. Igor

Acordo com as sirenes do corredor tocando, minha cabeça explode de dor, talvez seja ressaca. Um aviso em nossa porta diz que não precisamos de uniforme hoje, o dia será para aproveitar o espaço externo da Marshall.

Entro no banheiro e tiro a minha roupa, me olho no espelho e observo o meu corpo - nenhum músculo tão definido, sou apenas magro e pequeno, como uma criança de 13 anos ou algo do tipo - entro em baixo do chuveiro com água fria, deixo a água cair por um bom tempo, a frieza faz a dor de cabeça diminuir. Termino o banho e me visto, uma calça jeans preta, meu tênis branco e uma camiseta azul marinho. Saio do banheiro e visto a minha jaqueta jeans rasgada e ponho a minha touca, o tempo está nublado. Saio para o café antes de Sean ficar pronto.

Encontro os gêmeos um pouco antes do refeitório e eles fazem questão de falar como eu estou péssimo, Yan me empresta seu óculos escuros na esperança de melhorar o que ele chamou de cara de psicopata assassino. Tomo apenas um café e como o meu sanduíche, Sean nos encontra na saída e ri da minha cara, eu dou um soco em seu braço, andamos pelo corredor e eu paro na frente do mural de esportes. Todos nos escrevemos pro teste no time de Lacrosse, continuamos pelo corredor até as duas garotas que estavam cantando na madrugada passarem por nós.

- Ei! Igor, não? - ela diz

- Sim, sou eu

- Você está uma gracinha com essa roupa de bad boy - ela diz e eu sinto meu rosto corar, um silêncio toma conta do ambiente - não precisa ficar com vergonha, sei como é para um menino ser elogiado assim. Mas os meninos daqui não tem iniciativa! Talvez sejam todos gays ou algo do tipo, mas eu não me importo, só queria dizer isso a você.

- É... obrigado! Você também está muito bonita... - eu gaguejo

- Camille Rodríguez, mas pode me chamar de Cami - ela completa

- Cami! - eu respondo - nos vemos por aí?

- Pode apostar - ela sorri e sai com a sua amiga

Eu saio com os meninos em meio a alguns risos dos gêmeos, um deles chega a dizer "ponto pro nosso psicopata", mas eu não dou importância. Finalmente estamos na área externa da Marshall. O dia ameaça ser estragado por uma chuva, o ar é frio e venta forte, nada mais típico do início do ano em Amsterdam.

Observo a arquitetura dos dormitório da Marshall, projetados para parecerem pequenos chalés, eles tem estrutura em madeira, colunas de concreto e janelas também de madeira. Todos os 12 dormitórios organizados em forma de U, e bem à frente deles o imponente prédio da diretoria, com quatro janelas de vidro em cada lado, colunas grandes de mármore branco e toda a escadaria em mármore preto, o contraste do branco com o cinza do céu nublado é incrível.

- Vai ficar aí namorando o prédio, Igor? - pergunta Sean - vamos!

- Ah, os gêmeos estão te ensinando a ser idiota também? - eu respondo rindo - vamos sim.

Andamos mais um pouco e chegamos num pequeno Anfiteatro ao lado do campo de Lacrosse, pequenos grupos de alunos estão juntos, procuramos um lugar para sentar até ouvir alguém gritar, um pouco distante de nós, Cami está com sua amiga e Will, vamos até eles e nos sentamos próximos, conversamos sobre o colégio, sobre livros, filmes e até sobre cantores que gostamos.

Mais tarde, voltando ao nosso quarto, estou deitado na minha cama mexendo no meu notebook enquanto Sean ouve música deitado na cama dele. Paro um pouco, respiro fundo e finalmente quebro o silêncio do quarto.

- Ei, Sean - eu digo - o que está ouvindo?

- Asleep, dos Smiths, conhece?

- Está brincando? Eu amo The Smiths! - eu respondo - está triste? Digo... é uma música bem triste

- Não é nada... Acho que só saudade mesmo - ele diz - meus pais estão longe demais.

- Não deveria ficar triste assim, você ainda pode ver os seus pais

Sean senta na cama e me olha - sinto muito, Igor, muito mesmo

- Tudo bem, no final tudo ficará bem, não?

- Sim! Mas enquanto não fica, que tal irmos no D2 agora? Lá podemos ser apenas... nós.

Concordo com Sean, ele abre a porta do quarto e nós saímos correndo. Não demora muito até estarmos dentro do D2, a música está no mesmo volume da outra noite, nós nos servimos com vinho e sentamos próximo ao palco. Depois de algumas doses de vodca e vinho eu estou praticamente desmaiado na mesa.

- Sean - eu digo - poderíamos subir naquele palco e cantar - dou uma gargalhada

- Sim, poderíamos - ele responde - mas só eu sei cantar aqui, certo?

- Ora, porque não sobe ali e canta então? - eu digo me ajeitando na cadeira

- Boa ideia!

Sean levanta da mesa e vai até o palco, puxa um banco, pega um violão e ajeita o microfone à sua altura. Ele começa a tocar o violão a introdução da música e em seguida começa a cantar Little Things, do One Direction. Sua voz é doce e calma, em pouco tempo todos no local estão prestando atenção no que Sean diz, a música chega ao fim, estou sorrindo e tranquilo.

Sean volta para a mesa com um café bem forte, eu bebo e me sinto um pouco melhor, ele continua com as doses de vodca e eu decido que é hora de ir. Voltamos para o quarto. Sean está com o braço em volta do meu pescoço, abro a porta do quarto com um pouco de dificuldade.

Logo ao entrar no quarto perco o equilíbrio, caindo na cama com Sean em cima de mim, ele está praticamente dormindo e me abraça forte.

- Sean - eu digo tentando fazê-lo sair de cima de mim - vá para sua cama

- Igor... Obrigado - ele responde, o cheiro de vodca é forte - você é um bom amigo.

- Eu sei, mas poderia sair de cima de mim agora?

- Porque? Está tão bom! E o seu cheiro... eu gosto do seu cheiro.

- Ok, chega! Saia de cima de mim, por favor

Sean começa a beijar meu pescoço e eu fico arrepiado, seus lábios percorrem toda a extensão até o meu peitoral, eu o empurro e me afasto

- O que está tentando fazer? Está louco?

- Desculpe, Sean! - ele responde - não acontecerá de novo.

Sean deita em sua cama e o silêncio volta, eu tomo um banho e deito na minha cama, me enrolando no cobertor. Não consigo parar de pensar no que acabou de acontecer, decido que terei uma conversa de manhã com Sean. Em meio aos meus mil pensamentos, sua voz rompe as barreiras com algo que me faz tremer e ficar ainda mais nervoso.

- Igor... estou gostando de você, não como amigo... você entendeu.

É o que Sean diz antes de apagar por completo, e é o que se repete como um eco por todo o restante da noite em minha mente.



Never Be AloneOnde histórias criam vida. Descubra agora