TEASER - A Artesã

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A ARTESÃ - Indra

― Me prometa que não irá se envolver nesta guerra, Rajesh. ― Lalima parecia determinada a dissuadir o filho.

― Eu prometo, mãe. ― O rapaz respondeu sem hesitar, mantendo aquele mesmo sorriso confiante que tantas vezes antes acalmou o coração preocupado da senhora sua mãe.

A guerra é mesmo cruel, e arrasta sonhos e destinos com a força de uma torrente...

Mas a pequena Shikha era esperta. Bastou sentir, pelo toque, o cano aquecido do fuzil, para perceber que o irmão estivera a trocar tiros com a facção dos bandoleiros que invadiram a cidade: os Kamalas.

― Parece que ganhamos, desta vez... ― Rajesh falava em uma vitória, sem saber ao certo se realmente haviam vencido qualquer coisa.

Quase todos os dias, uma menininha muito parecida com Shikha furtava alguma coisa da mercearia da família Gandhi. As vezes era pão, noutras era biscoitos e suco, quando não também alguma peça de roupa que já no dia seguinte ela aparecia vestindo até se rasgar.

Infelizmente, os deuses não costumam se compadecer perante o sofrimento dos homens que os inventaram para adorar, agradecer e culpar. No mundo de Miranda, como em qualquer outra esfera de expiação, o que já é ruim o bastante, pode sempre piorar...

― Aconteceu de novo... ― comunicou um homem barbudo. A expressão séria e aturdida não permitiria desentendimentos.

― Quantos foram desta vez? ― perguntou o rapaz.

― Cinco, mas eram todos eles Kamalas... ― respondeu o sujeito.

― Seja lá o que for esta coisa que está matando tanta gente, já disse que ela só está tentando se defender... ― com uma segurança invejável, Rajesh firmou a sua posição

― O demônio não se defende; o demônio ataca! ― bravateou o homem barbudo.

― O seu demônio é perseguido e ameaçado por suas próprias vítimas, e eu garanto que é tão humano e inocente quanto uma criança assustada...

― Então me diga que tipo de criança assustada seria capaz de uma carnificina como esta, garoto ― e assim eles avançaram pela porta entreaberta daquele depósito há meses abandonado.

Em meio aos caixotes de madeira quebrados e saqueados, sangue coagulado preenchia cada metro quadrado do piso estilhaçado de cerâmica encardida. Onde quer que eles pisassem, o líquido escurecido e avermelhado grudava nas solas das sandálias desgastadas. Procuravam pelos corpos e não fora difícil encontrá-los: Três deles restavam esmagados e quase irreconhecíveis ao nível do piso, por sua vez, afundado por punhos de tamanho e força sobre-humanos; outros dois jaziam desconjuntados rente às paredes rachadas pela força do impacto que sofreram. As roupas de cores desérticas, os turbantes vermelhos no entorno dos pescoços, e as armas caídas em qualquer lugar, sem dúvida os distinguiam como bandoleiros de Kamala. Os rostos não estavam sequer escondidos...

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As Crônicas das Cidades FlutuantesWhere stories live. Discover now