-Jeffrey Eugenides, "As virgens suicidas"

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Todos com quem conversamos estimaram a data do fim de nossa vizinhança como o dia do suicídio das meninas Lisbon. (...) Elas tinha se matado por nossas florestas moribundas, pelos peixes-boi mutilados por hélices ao emergirem para beber em mangueiras de jardim; tinham se matado ao ver pilhas de pneus mais altas que pirâmides; tinham se matado porque fracassaram na tentativa de encontrar um amor que nenhum de nós jamais poderia ser. (...) No fim tínhamos peças do quebra-cabeça, mas por mais que tentássemos montá-lo, alguns vazios permaneciam, formas estranhas mapeadas pelas peças circundantes, como países que não conseguíamos identificar. "Toda sabedoria leva ao paradoxo". (...) "Para a maioria das pessoas", afirmou, "o suicídio é uma roleta russa. A arma tem apenas uma bala. No caso das meninas Lisbon, estava totalmente carregada. Uma bala para abusos domésticos. Uma bala para predisposição genética. Uma bala para mal-estar histórico. Uma bala para ímpeto inevitável. As outras duas balas são impossíveis de nomear, mas isso não significa que não estivessem ali." Mas tudo isso é vento que passa. A essência dos suicídios não consistia em tristeza ou mistério, mas apenas em egoísmo. As meninas tomaram nas próprias mãos decisões que deveriam ser deixadas para Deus. Tornaram-se poderosas demais para viver entre nós, absortas demais em si mesmas, visionárias demais, cegas demais. Depois delas, o que permaneceu não foi a vida, que sempre sobrepuja a morte natural, mas uma lista absolutamente trivial de fatos mundanos: um relógio tiquetaqueando na parede, uma sala na penumbra ao meio-dia e o ultraje de um ser humano pensando apenas em si mesmo. (...) Não conseguíamos imaginar o vazio de uma criatura que encosta uma navalha nos pulsos e abre as veias, o vazio e a tranquilidade.


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