Capitulo 16

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Fiquei no carro por bastante tempo, eu acho. Perdi a noção da realidade.

Não queria entrar pela porta de casa e encontrar com o olhar de raiva ou de tristeza do Dani. Queria poder voltar no tempo e resolver aquela situação.

Minha mão já não doia, mas eu sentia um desespero no meu coração. Eu já não seria o mesmo pro Dani... ele não iria mais me enxergar com os mesmos olhos.

Antes, quando ele olhava pra mim, eu via segurança, satisfação, afeto, paixão no seu olhar. Ele se sentia protegido, amado do meu lado.

Mas e agora? Eu nem sabia se ainda éramos namorados! Ele talvez quisesse distância de mim! O que ele sentia?

Soltei um grunhido ao lembrar daquele olhar raivoso e aquele sorriso malvado na face dele. Ele me odiava! Me odiava porque eu era igual ao pai dele...

Eu não era! Eu... eu o amava! Ele só ouviu coisas desnecessárias. Eu jamais iria forçá-lo a nada. Jamais iria machucá-lo. Primeiro o prazer dele, pra depois o meu.

Eu só faria essa proposta depois de ter certeza que ele não agiria da mesma maneira que ele agiu quando escutou a conversa. Queria ter certeza que ele não surtaria... mas falhei nisso.

Eu prometi a mim mesmo cuidar dele, fazê-lo feliz... amá-lo e respeitá-lo acima de tudo, porque era o mínimo que ele merecia.

Será que falhei com ele? Sim! Falhei.

Liguei o carro e o coloquei na garagem de casa, porque já era tarde. O sol já havia se retirado e estrelas bordavam o céu. A lua jogava aquele brilho prateado sobre tudo, o que me fez ficar mais melancólico.

Saí da garagem e contornei a casa pra entrar pela porta da frente. A abri devagar e adentrei procurando algum sinal de qualquer coisa que fosse.

Suspirei e fui até a cozinha pra tomar um copo d'água.

O silêncio da casa era perturbador. Podia ouvir o som do meu coração batendo pelo silêncio palpável. As luzes estavam apagas e achei melhor as deixar assim.

Tomei a água e subi as escadas. Nenhum ruído na casa toda, além dos meus passos ecoando. Parecia que não havia ninguém, mas então ouvi o chuveiro da suíte ligado quando passei pelo quarto. O Dani deveria ter ido tomar um banho.

Entrei discretamente no quarto e retirei algumas roupas. Não queria desconfortá-lo ainda mais com minha presença. Deixaria pro outro dia o embate inevitável. Saí e fui até o banheiro do quarto de hospedes para tomar outro banho.

Não porque estava sujo, mas porque me sentia sujo. Estava com nojo de mim mesmo por ter desejos tão repulsivos para com o Dani, levando em consideração todo o abuso que ele sofria. Mas eu não podia evitar ter desejos assim...

A água quente desceu em uma cachoeira escaldante sobre meu corpo. Minha mão machucada queimou como se a água fosse ácido e o sangue escorreu ralo abaixo.

Depois de alguns minutos no banheiro, saí novamente vestido e com o cabelo molhado do banho.

Soltei um soluço surpreso quando vi o Dani sentado na cama do quarto, vestindo as roupas que compramos no shopping.

Ele não estava com uma camiseta minha e esse fato subliminar não passou despercebido por mim. Meu cheiro devia causar ânsia nele. Isso pareceu uma faca na minhas costas.

Seus olhos estavam inexpressivos e neutros. Não havia nada neles... nem raiva nem afeto. Apenas aquela imensidão esverdeada e neutra.

Cabelos molhados do banho recente, presos em uma fita. Fiquei tentado a desfazer aquele laço e enfiar meu rosto naqueles cabelos para aspirar seu cheiro.

CORAÇÃO DE VIDROOnde histórias criam vida. Descubra agora