Capítulo 06

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Mostrei o caminho até o hospital para Christopher, mas não disse onde estávamos hospedados. Quando chegamos, Enzo estava acordado, porém sonolento e Scarlet mostrando alguma coisa pra ele no tablet.

– A mamãe voltou, meu amor.

– Mammy. – Ele esticou os bracinhos pra mim depois de empurrar o tablet à sua frente. – Se comportou? — Ele assentiu. – Como ele está Scarlet? – Perguntei me aproximando dele.

– Acho que está com dores. A enfermeira acabou de aplicar algum medicamento no soro.

– Está doendo, meu amor? Hum? – Acariciei o rostinho dele. Enzo olhou desconfiado na direção da porta. – Vai ficar aí parado na porta, Christopher?

– Não, eu só... – Revirei os olhos dando um beijo na bochecha do meu filho. Christopher se aproximou em silêncio. – Ele é tão lindo.

– Hmm. Dulce, eu vou ir comer alguma coisa agora que você está aqui, você quer alguma coisa?

— Não Scarlet, obrigada.

– Eu vou indo então, qualquer coisa você me liga. – Ela saiu depois de se despedir de Enzo.

– Como ele se chama? – Christopher perguntou.

– Enzo.

– Ei Enzo, tudo bem garotão? – Christopher apertou a mão dele. – Ele está quente.

– O que você queria? — Tá, talvez eu estivesse sendo um pouco rude, mas eu estava brava com toda a situação.

– Eu posso pegar nele um pouco?

– Você ouviu o que a Scarlet falou? Ele está com dores, é melhor deixar ele quieto na maca. – Enzo começou a morder um patinho de borracha que tinha em mãos.

– Eu sei. – Ele suspirou frustrado. – Onde eu posso fazer o exame de compatibilidade?

– Aqui mesmo.

– Posso fazer uma pergunta?

– Pode fazer todas as perguntas Christopher, mas não posso garantir que terá todas as respostas.

– Como você tem se virado lá nos Estados Unidos?

– Eu tenho um trabalho, um apartamento e alguém pra cuidar do meu filho enquanto eu passo o dia fora pra conseguir dinheiro dignamente para sustentá-lo.

– E quanto foi que meu pai pagou a você?

– Ele não me pagou. Só aceitei o dinheiro porque não queria que meu filho nascesse na rua. – Dei de ombros. – Tudo que ele precisa, sou eu quem dou. Eu jamais quis o seu dinheiro Christopher.

– E o seu trabalho? Você tem renda suficiente para pagar um tratamento?

– Renda. – Comecei a rir e nem sei o porque. – Não que eu deva satisfações da minha vida, mas eu não gasto nada com esse tratamento.

– Como não? Sei o como é caro um hospital particular nos Estados Unidos, e que um público pode não ser tão bom pra ele.

– Christopher. – O encarei. – Enzo tem tratamento em um dos melhores hospitais de Nova York, graças ao meu chefe.

– Seu chefe? Porque ele faria isso?

– Ele tem o Enzo como neto. Olha Christopher, você não veio aqui pra perguntar da minha vida e sim para ver o meu filho.

– Nosso filho.

– Meu filho. – Fechei a cara pra ele. – Eu o gerei, eu dei a luz e sou eu quem cuido dele todo esse tempo.

– Você não pode me impedir de reconhecê-lo como filho, Dulce.

– Eu já disse o motivo de eu estar aqui, então não comece com isso. Já estou sendo bondosa de mais por deixar você vir vê-lo.

– Ok. Eu faço o exame, e depois? Se eu for compatível eu dôo a medula pra ele e você vai embora?

– Eu vou voltar para Nova York assim que sair o resultado do exame. – Enzo se sentou erguendo novamente os braços pra mim começando a chorar. – Vou continuar fazendo o tratamento lá. É o melhor lugar para tratar isso. Começaremos a quimioterapia quando voltarmos.

– E porque não o trata aqui? Olha só esse hospital Dulce, é um ótimo hospital com excelentes profissionais.

– Não adianta. É pra lá que eu vou voltar. – Peguei Enzo no colo já que ele insistia em vir para os meus braços. – O que foi meu amor? – Ele deitou a cabeça em meu ombro.

— Vovô. – Ele falou baixinho enquanto eu arrumava o cabelo dele. Ou tentava, já que eles insistiam em ficar pra cima como todos os outros dias. Enzo começou a tossir sem parar e então ele se curvou pra frente e vomitou.

– Droga! – O segurei inclinado deixando-o vomitar.

– Eu vou chamar algum médico. – Christopher saiu apressado.

– O meu anjinho. – Enzo me olhou assustado depois de parar de vomitar e apenas chorou. – Tudo bem, tudo bem. – Acariciei as costas dele enquanto ele deitava a cabecinha em meu ombro. – A mamãe está aqui bebê, não chora. – Peguei a mamadeira com água dele na mesinha e dei a ele para tirar o gosto ruim da boca. – Toma meu amor. – Ele virou o rosto. – Se você tomar eu te dou o bubu. O que acha? – Ele pegou a mamadeira e tomou. – Isso. – Peguei na bolsa a chupeta dele, coisa que eu raramente dava a ele, mas sempre servia para acabar com alguma manha dele. Esperei ele terminar e então entreguei a ele que se calou logo em seguida. – Pode dormir, a mamãe não vai mais embora. – O deitei em meu colo e comecei a cantar uma cantiga de ninar que sempre canto pra ele dormir.

– Como ele está? – Uma médica apareceu. – Não sabia que você tinha um filho, Christopher. – Me virei e vi uma medica loira, bonita. Depois voltei a atenção a Enzo que começava a fechar os olhos.

– Dulce, essa é minha amiga e pediatra Mabel.

– Tudo bom?

– O que você acha? Meu filho está doente, não tem como estar bem.

– Entendo o que sente. Quem foi que atendeu você?

– Uma tal de Mariana. – Dei de ombros.

– O turno dela acabou faz mais ou menos uma hora. – Ela olhou o relógio em seu punho. – O que o seu filho tem?

– Leucemia. – Christopher falou. Era difícil pronunciar essa palavra se tratando de o portador da doença ser o meu filho de menos de dois anos de idade.

– Oh. Será que posso examiná-lo?

– Tudo bem. – Deitei Enzo na maca novamente mas ele abriu os olhos e começou a chorar. – A mamãe está aqui meu amor. – Ele grudou em meu pescoço e não quis me soltar. – Ele está lutando contra o sono.

– Faz parte. – Ela falou lendo a ficha dele que estava pendurada na cama enquanto eu voltava a conchegá-lo em meu colo. – Faz muito tempo que ele foi diagnosticado?

– Tecnicamente não. – Falei, mas para mim parecia uma eternidade.

– Mabel, com quem eu falo para pedir o exame de compatibilidade de medula óssea?

– Posso fazer o pedido agora mesmo pra você Christopher. – Falou enquanto ela colocava um termômetro em baixo do braço de Enzo. Ele tinha os olhos fixos em mim embora às vezes falhasse sua tentativa de mantê-los abertos.

– Ei garotão. – Enzo olhou pra ela de relance e voltou a olhar pra mim. – Não quer soltar a mamãe, é?

Vi Christopher empurrar a poltrona para perto de mim. – Senta aí Dulce. – Sem falar nada eu me sentei. Enzo mexia no meu colar enquanto continuava me olhando.

– Eu vou pedir que alguém venha limpar o chão. – Ela tirou o termômetro. – A febre está um pouco alta, vou pedir para aplicarem um antitérmico nele também. Eu já volto. – Mabel se retirou.

– Ele é todo manhoso com você.

– Nem sempre. Ele só está assim porque está doente. – Passei meu cabelo pra trás.

— Com licença. – Uma enfermeira de meia idade entrou trazendo uma mamadeira. – Mandaram eu trazer pra ele.

– Obrigada. – Agradeci quando peguei a mamadeira e ela se retirou. Tirei a chupeta da boca dele com tanto de dificuldade já que ele a segurou. – Leitinho meu amor. – Tentei colocar a mamadeira na boca dele mas ele virou o rosto voltando a chorar. – Meu amor, você precisa tomar o seu leite. – Falei mas ele começou a se debater no meu colo chorando e gritando não.

– Posso tentar? – Christopher pediu. Pensei mil vezes antes de deixar, mas então me lembrei de como ele lidou com ele no dia anterior. – Tudo bem. – Me levantei e dei espaço pra ele se sentar e assim que ele se sentou coloquei Enzo no colo dele e entreguei a mamadeira. Fiquei sentada na maca o olhando.

– E aí campeão? O que você acha de colaborar? Hum? – Enzo o olhou. – Vamos fingir que é um aviãozinho? Vamos? – Ele ergueu a mamadeira e começou a fazer som de motor de avião. – E o avião passa pelas nuvens, zuummm, e então ele faz a curva e cai. – Ele abaixou a mamadeira. Enzo a seguia com o olhar, curioso agora sem chorar. – Mas o piloto consegue recuperar. – Ele levantou novamente a mamadeira e Enzo começou a dar gargalhadas. Me senti aliviada por isso. – Mas a gasolina está acabando. – Christopher fez cara de espanto e Enzo arregalou os olhos. Confesso que ri dessa cena. – Agora o piloto tem que abastecer, zum, zum, zuum. – Ele foi abaixando o tom da voz e parou com a mamadeira na boca dele. Enzo o olhava encantado e enquanto sugava a mamadeira sem nem perceber. – Está gostoso? – Enzo levou a mão à barba dele. Enzo terminou de tomar a mamadeira e embora ainda estivesse sonolento continuava lutando contra o sono. Ele se levantou no colo de Christopher e deitou a cabeça no ombro dele. – Acho que ele prefere assim. – Ele começou a passar a mão pelas costas de Enzo e Enzo passou o braço pelo pescoço de Christopher. Não demorou muito mais pra ele pegar no sono.

– Ele dormiu. – Falei descendo da maca.

– Me deixe ficar com ele mais um pouco. – Ele me entregou a mamadeira.

– Tudo bem. Eu vou comer alguma coisa e ver se encontro a Scarlet na lanchonete ok?

– Ok. Vou ficar aqui com ele.

The Last Hope - VondyOnde histórias criam vida. Descubra agora